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25 de outubro de 2012

Cuba para neófitos.

Carlos U Pozzobon

Índice


A Revolução Cubana
O Suicídio em Cuba
Produção de açúcar
Fuga de Havana
A Vida Secreta de Fidel

Tenho ouvido muitos jovens desiludidos com a atuação do PT. A esperança com que depositaram sua confiança em um partido que pretendia mudar “tudo o que está aí” é um fato recorrente em nossa história e nossa vida política. Mas ao mesmo tempo, toda a geração tem aqueles que não abandonam suas convicções nem que seu mundo desabe sobre a própria cabeça. Aliás, parece que quanto mais errada possa ter sido a orientação, mais se agarram aos dogmas e pressupostos factuais que eternizam seu modo de pensar e terminam servindo de estrume para a germinação de novos ideais políticos desastrados nas gerações posteriores. A geração petista foi forjada pelos que nunca abandonaram sua confiança na revolução cubana e na figura pseudo-clarividente de Fidel Castro. Árvore que nasce torta não pode crescer senão com as deformações de origem e, ao fim, revelar sua própria natureza.

Como as abordagens sobre Cuba em geral falam no extraordinário fracasso econômico da ilha, acobertado pelo bode expiatório do bloqueio dos EUA, resolvi publicar diversos artigos, começando pelo jornalista Fernando Pedreira, falando sobre o entusiasmo provocado pela revolução e outro de Guilherme Cabrera Infante sobre o Suicídio em Cuba, os dois publicados em 1975 e 1983, respectivamente; depois seguem-se artigos que vou publicando a medida que acho relevante, como os acontecimentos da frustrada tentativa de colher 10 milhões de toneladas de cana de açúcar nos anos 70, utilizando — acreditem — trabalho forçado. Enquanto para os simpatizantes distantes a desilusão com a revolução cubana não passa de um incômodo gerado pela percepção da fraude moral, para os envolvidos com a própria construção da nova sociedade cubana, não ultrapassa um ato de desespero e, por fim, de suicídio. O artigo seguinte é uma resenha do livro de Juan Reinaldo Arenas, um guarda-costas de Fidel que caído em desgraça, foge da ilha e publica A VIDA SECRETA DE FIDEL

Antes porém, um link para um documentário de Nestor Almendros sobre a repressão não só aos "homossexuais" cubanos, os famosos campos de concentração onde eram considerados "maricons" todos os poetas e escritores. Como vivemos sob o estigma da homofobia, alardeado aos quatro cantos pela ascensão do PT ao poder, com a criminalização até mesmo do repertório de piadas brasileiro, vale a pena ver o documentário pelo seu inverso, isto é, de perseguição aos homossexuais através de rituais de depuração, praticados por um regime que é apoiado pelo partido que se diz o defensor dos gays. A importância do documentário serve para desmistificar qualquer pretensão de liberalidade do petismo com relação ao comportamento humano.


Youtube - Mala Conducta

Fernando Pedreira, A Liberdade e a Ostra, Nova Fronteira, 1976, pgs. 46-48


“Não é de estranhar que, num tal quadro, a vitória da revolução castrista em Cuba, em 1959, tivesse o impacto que teve. Fidel, com suas barbas e seu uniforme, é hoje uma figura de rotina, incapaz de produzir fervores românticos até mesmo em menininhas recém-chegadas à Universidade. Em 1959, entretanto, ele ainda não se tinha declarado comunista e nem de longe podia ser tido como um preposto da União Soviética. Ao contrário, era o herói revolucionário, sem medo e sem mácula, que, à frente de um punhado de idealistas, havia posto abaixo a corrupta ditadura do sargento Batista”.

“Fidel, naquele momento, aparecia como alguma coisa de novo e de puro que houvesse brotado do chão da América. E isto não só para os mais jovens ou para os mais radicais, mas também para muitos dos mais velhos e aparentemente mais sensatos. Fidel tinha o apoio e a simpatia do "New York Times" e de alguns dos maiores jornais do Continente. Vindo ao Brasil, numa rápida viagem, seria recebido como herói e quase como filho pelas melhores famílias do Rio e de São Paulo. As primeiras páginas dos jornais do mundo inteiro estavam cheias das suas imagens, das suas palavras, dos seus gestos”.

“Chega a ser estranho recordar hoje tudo isso. Que espantosa sede de idealismo e de generosidade, que acesso universal de romantismo pode ter levado tanta gente séria e inteligente a deixar-se arrastar a uma tal febre, diante da aventura bem sucedida de um grupo de jovens barbudos e desconhecidos numa ilha do Caribe? Eis aí um episódio, pelo menos, que não se pode jogar simplesmente à conta da imaturidade dos moços. Não havia, em toda a América Latina, líder popular ou político que não quisesse vestir as barbas do cubano. Mesmo nos Estados Unidos, a vitória de Kennedy, assim como o estilo e até o destino de sua presidência, seriam fortemente marcados pelo impacto do fidelismo”. “O encanto, para os liberais, duraria pouco. Já em meados de 61, Castro iria declarar-se marxista e, em pouco tempo, identificar-se com os métodos e a ortodoxia do PC. As repercussões da sua entrada triunfal em Havana, entretanto, dois anos antes, nem por isso terão deixado de assinalar a cristalização de uma nova atitude e de um novo estado de espírito ente as gerações mais novas”.

“Para trás ficaram a revolução institucionalizada e burocratizada dos soviéticos, o socialismo pelo voto dos europeus e até mesmo a lenta sublevação camponesa dos chineses. Sierra Maestra era o heroísmo ao alcance de todos, fulminante e tentador. Um grupo de moços decididos, armados de alguns fuzis e da indispensável chama sagrada, podia fazer ruir as instituições corruptas, purificar o país, arrastar as massas inumeráveis. Logo começaram a aparecer os propagandistas, os exegetas, os teóricos do "caminho" cubano.”

Fernando Pedreira, A Liberdade e a Ostra, Nova Fronteira, 1976, pgs. 46-48



Notas sobre una ideología del suicidio

Guillermo Cabrera Infante
ENTRE LA HISTORIA Y LA NADA

Nota: Passe o mouse sobre os links para obter a tradução de alguns termos "habaneros"

Es evidente (si no lo será antes de que termine este ensayo con un tiro en la sien ajena) que siento o padezco una curiosidad morbosa, un atractivo fatal, una suerte de fascinación por el suicidio ― no sólo de los demás. Veo el suicidio no como una vía de escape sino como un bastión de defensa que es un muro infranqueable: el recurso primero y último. También podría ser una exploración de los extremos posibles de la personalidad y del ser. Pero de pronto, un día, después de conocer la noticia del suicidio dramático (el suicidio es siempre una salida teatral, como lo demuestra Hedda Gabbler: exit, then sudden last curtain) de Haydée Santamaría, heroína de la Revolución Cubana que escogía no ser una mártir, como habían sido su hermano Abel y su novio Boris Santa Coloma (ambos asesinados en el asalto al cuartel Moncada en 1953), sino una suicida, fue en ese momento que pensé que la Yeyé familiar que conocí no era una víctima: su suicidio era una declaración de principios ― y de fines. El suicidio era su única ideología, a pesar del fidelismo que la hizo política y del marxismo al que se convirtió más tarde. Haydée Santamaría no había nacido para la muerte, como todos, sino para el suicidio, como the unhappy few. Esta fe revelada ahora era la fe de unos pocos y la única ideología cubana posible a la revolución, a la República antes, a Cuba desde el siglo anterior. Todos los demás suicidas de que voy a hablar en seguida parecen personajes voluntariamente trágicos. En realidad no son más que versiones políticas de Chegerezada, a quienes el Gran Dios que inventó Heródoto conmina: "La historia o la vida." La Revolución Cubana es esa historia prometida.

No se puede entender la Revolución Cubana si no se considera como uno de sus elementos integrales, casi esencial, al suicidio. El término revolución por supuesto es aquí una mera convención política, como el nacional-socialismo de Hitler. En Cuba siempre se ha hablado de revolución y a menudo de Revolución: durante la colonia, en las guerras de independencia y, por descontado, en la república, de 1902 a 1958. El partido independentista, fundado en su exilio americano por José Martí, se llamó Partido Revolucionario Cubano. Lo que no pareció inusitado ni peligroso entonces. Luego cada rebelión, revuelta o motín local, más o menos confuso, contra el orden republicano, más o menos democrático, era una revolución. El máximo líder antimachadista fue el profesor universitario y médico Ramón Grau San Martín, personaje de veras suigeneris en la política cubana. El doctor Grau llamó al partido que fundó Revolucionario Cubano (Auténtico), pero Grau sólo se pudo llamar revolucionario por el tesón maniático de Antonio Guiteras Holmes. Ese Tony Guiteras hijo de inglesa y cubano que Hollywood convirtió en héroe americano (en la película Rompiendo las cadenas ―We Were Strangers) porque hasta la década del sesenta era muy difícil para el cine americano concebir un héroe cubano ― y aun en Che, ese epitafio épico, el héroe era apenas argentino. Guiteras, que había peleado contra Machado, combatió a Batista que casi estrenaba entonces su poderío errático y oportunista con una torpeza a veces implacable- ― y perdió: era el héroe como loser. Guiteras, líder derrotado, trató de huir de Cuba, pero escogió su salida de la isla en condiciones de tal dificultad y riesgo que la empresa siempre estuvo destinada al fracaso. Este destino conocido lo convirtió en mártir. Guiteras enfrentó la muerte que escogió como si estuviera condenado ante el pelotón de fusilamiento. Esa elección fue de veras un suicidio.

Pero Grau San Martín era todo menos un suicida. Las ideas confusas de Guiteras las hizo aún más imprecisas y su Partido Revolucionario Cubano (Auténtico) lo llevó no a una revolución fracasada sino a la presidencia en elecciones democráticas, para derrotar por primera vez a Batista ― o a su candidato al poder por poder. Cosa curiosa, Batista, mulato, obrero y soldado, escogió como su sucesor a un miembro eminente de la alta burguesía criolla ― aún más curioso, fue apoyado también por los comunistas y su líder negro. La revolución de Grau San Martín, una vez en la presidencia estable, se hizo notar por su ausencia absoluta en un gobierno más corrupto que los que le precedieron ― incluido el del propio Batista en sus diferentes avatares presidenciales. Durante el mando del doctor Grau y de su sucesor Carlos Prío (1944-1952), las bandas de gangsters merodeaban por las calles oscuras y los misterios mohosos de La Habana Vieja para matarse entre sí por ideologías más oscuras que las calles y por pobres puestos públicos en los ministerios vetustos. Sus nombres oficiales (nadie era clandestino entonces) eran Movimiento Social Revolucionario o Unión Insurreccional Revolucionaria. Esta última tuvo el dudoso honor de contar al imberbe Fidel Castro ― bien lejos entonces del barbudo Marx ― entre sus pistoleros más audaces. Tales pandillas habían surgido de la desintegración violenta bajo el largo régimen de Batista (1933-1944) de una asociación política clandestina. Acción Revolucionaria Guiteras, a la vez en homenaje y como pretexto político para vengar la muerte de Tony Guiteras. No es extraño que la acción típica de esta pandilla fuera de evidente kamikaze. Sólo el suicidio venga al suicida.


Como se ve no es nuevo el adjetivo revolucionario en Cuba. No es nuevo el uso de esa palabra en todas partes, desde Thomas Paine en la guerra de independencia de los Estados Unidos, hasta Joseph Goebbels, que llamó al irresistible ascenso alemán de Adolf Hitler, enfáticamente, "nuestra revolución". Pero de alguna manera hay que llamar a la resistible toma del poder por Fidel Castro. Cuando una institución política que ha cambiado varias veces de ideología insiste en titularse de cierta manera (los Soviets, los Estados Unidos) hay que aceptar esta imposición como un uso. Es la solución lógica, verbal o histórica al problema de la identidad estatal. De lo contrario habría que debatir eternamente nomenclaturas obsoletas o absurdas.

La Revolución Cubana ― ahí está el nombre revolucionario con todas sus mayúsculas ― no llegó al poder como se cree gracias a que Fulgencio Batista (de nuevo en actividades de complot militar veinte años después haber aprendido la técnica del golpe de Estado sin haber leído a Malaparte: Bonaparte le bastaba), entonces general honorario que jamás visitó siquiera una batalla, dio su tercer madrugonazo el 10 de marzo de 1952, a sólo tres meses de unas elecciones democráticas que nunca ganó y todos perdimos. La oportunidad de que Fidel Castro ― entonces líder estudiantil sin nombre, político de poco porvenir electoral y siempre un pandillero ― pudiera aglutinar la resistencia armada contra Batista y la eventual caída y fuga de este hombre fuerte que era en realidad un débil ambicioso de popularidad, poder y dinero, comenzó de veras el 5 de agosto de 1951, casi un año antes. Ese domingo dulce de verano se suicidó en un estudio de la radio habanera, Eduardo Chibás, más conocido por Eddy Chibás o ya más íntimo como el Loco. Chibás era hasta ese momento el político más popular jamás habido en Cuba, incluyendo al Doctor Grau y al general Menocal, ambos presidentes, ambos caudillos impolutos devenidos hombres venales en la presidencia. Eddy Chibás, al revés de los líderes que le precedieron, era un hombre honrado, rico heredero a quien no interesaba nada el dinero, un político honesto movido por una obsesión dominante: la absoluta honestidad pública. Sabía que había que limpiar los establos de Augias cubanos y se presentaba como el único Hércules posible. Ese fue su error: nominar para una tarea hercúlea a un hombre que era emocionalmente incapaz para hacerla: a sí mismo. Chibás no era muy estable emocionalmente y su apodo del Loco parecía a veces ser más que un mote o un motto.

Eddy Chibás había sido partidario del Doctor Grau desde que sustituyera al general Machado en 1933 y fuera derrocado a su vez por Batista. Desilusionado de Grau como presidente venal, Chibás pasó pronto a la oposición, creando de paso un partido al que llamó Ortodoxo, en reto al Partido Auténtico de Grau. Ambos se decían únicos herederos directos del Partido Revolucionario Cubano de Martí. El Partido Ortodoxo aunque no de nombre era revolucionario por implicación y Chibás no había dejado de considerarse revolucionario nunca ― nadie podía hacerlo en Cuba. Ahora Chibás usó la palabra, su voz estridente, su osadía en la tribuna radial para hacer su revolución de limpiar una vez más el templo de la república de cambistas deshonestos. Pero para arrojar a los mercaderes del templo hace falta un Jesús y aun el mismo Jesús fue crucificado poco después. Chibás concibió su propia crucifixión como una versión radial del harakiri. El antiguo aliado de Grau se dedicó a fustigar verbalmente al todavía presidente Grau, se postuló a la presidencia y cuando ganó el candidato de Grau, su antiguo compañero de luchas estudiantiles Carlos Prío, Chibás se hizo aún más virulento en sus ataques al gobierno y a su nuevo jefe. Era un martinete maniaco atacando al Presidente Prío, a sus hermanos, a sus ministros, a su política entera. Todo Prío perecerá. Lo hacía a través de una hora de radio rentada los domingos en la tarde por el Partido Ortodoxo, pero en parte pagada por el propio Chibás. Su voz chillona, de erres arrastradas, estridente era un instrumento eficaz por el micrófono que al mismo tiempo ocultaba la corta estatura del orador, su figura rechoncha, su pelo rubio ralo y sus ojos débiles detrás de gruesas gafas de miope perennes. Cada domingo Chibás era más eficaz en su batalla solitaria, casi una vendetta personal contra el gobierno y contra Prío. Cada día el Partido Ortodoxo se hacía más popular y el Partido Auténtico en el poder más impopular. En diferentes surveys hechos a lo largo de 1950 y 1951 Eddy Chibás aparecía triunfante decidido como candidato presidencial. Lo seguía, muy de lejos, el hombre de Prío, el decoroso y gris Carlos Hevia, y todavía más lejos, Fulgencio Batista, casi penoso a la zaga. De pronto, en 1951, Chibás cometió uno de esos errores que se hacen fatales a la larga, como una mala movida de ajedrez ― esa que muchas jugadas más tarde resultará en jaque mate adverso. Chibás acusó al ministro de Educación del gobierno de Prío, Aureliano Sánchez Arango, de tener tierras y aserríos en los bosques de Guatemala. Por ese tiempo el gobierno de Prío y el de Arévalo en Guatemala mantenían lazos muy estrechos. Inclusive Prío había enviado eficaces aviones de caza cubanos a proteger a Arévalo de un intento de golpe de estado que se suponía apoyado por la CIA, sospechosa de sus conexiones comunistas. En la clique de Arévalo era prominente un militar, el coronel Jacobo Arbenz, que sería su sucesor y más tarde protegido en su desgracia de presidente derrocado (por otro militar guatemalteco) por el propio Fidel Castro ya en el poder. Para completar el símil entre política y el más burdo, absurdo juego de ajedrez, el hombre de confianza de Sánchez Arango en el ministerio de Educación entonces era el Doctor Raúl Roa, quien desde 1959 sería canciller vociferante del gobierno castrista. Ahora es obvio que más que de ajedrez se trata de un juego de posiciones grotescas, como en la Commedia dell 'Arte o en un coito complicado. De la historia considerada como una orgía oral.

Pero Chibás continuó ahora atacando sin tregua a Sánchez Arango, que no era contendiente fácil. Como el presidente Prío, Sánchez Arango había luchado físicamente contra Machado desde las filas del Directorio Estudiantil, ésa que luego sería bajo Batista una organización terrorista urbana de muy malas maneras. Arango era un político cujeado, experto, de aspecto formidable y quien al revés de Prío no rehuía la lucha. Por supuesto, jugando con fichas negras, no tardó en contraatacar. Acusó a Chibás de agente subversivo (que lo era), de hombre de mala fe (que no lo era), de mentiroso (que es debatible) y lo conminó a que presentara públicamente las pruebas de su acusación. Chibás aseguró que tenía esas pruebas y prometió que las presentaría "ante el tribunal del pueblo". Durante dos semanas el suspenso radial se hizo de veras intenso, tan melodramático como en un serial, mientras Chibás buscaba los documentos incriminantes que había dicho tener. Por un momento pareció que los aseguraba todos y podría presentarlos en evidencia a través de la prensa. Pero todo resultó un fiasco monumental ― y trágico. Los documentos no aparecían por ninguna parte, nunca aparecieron. Aparentemente Chibás había sido engañado en su buena fe y no ciertamente por Sánchez Arango o por Prío y sus agentes, como se dijo entonces. Simplemente el orador de lengua de fuego había sido víctima de su carácter, en el que había una falla particular, propia del político: la demagogia. Chibás, como el pez proverbial, había sido cogido por la boca, y por la boca moriría. La prensa, oficial o imparcial, Pilatos todos, prácticamente lo crucificaron: nadie cae más bajo que un acusador que pasa a ser acusado (véase a Wilde, suicida renuente). Al domingo siguiente Chibás fue puntual a su programa, pronunció una de sus arengas más vacías de política pero de mayor contenido emotivo y terminó con una frase enigmática a la que daría sentido en seguida y que se haría famosa en toda Cuba:" ¡Este es mi último aldabonazo (ultimatum)!" (Críptico por primera y última vez en su vida de orador político, se supone que se dirigía a la conciencia cubana, puerta cerrada a su llamada moral.) Acto seguido sacó de entre el cinturón un revólver calibre 32 y se día un tiro en el vientre, lugar señalado por la ética del suicidio japonés como electa para el harikiri.

Irónicamente ni el aldabonazo metafórico a la conciencia cubana ni el disparo real ni su caída ante el micrófono salieron al aire. Dos o tres minutos antes la emisora había cortado el programa para dar paso a los comerciales de rigor. (Uno de ellos, irónico sin pensarlo, anunciaba al Café Pilón -"Sabroso hasta el último buchito".) Chibás en su excitación final había olvidado que su contrato de transmisión era por sólo veinticinco minutos. A pesar de su misión suicida, no pudo evitar ser un político cubano y habló durante media hora! La herida en el estómago resultó fatal y murió a los pocos días. Su entierro fue una impresionante manifestación de duelo popular espontáneo pero su aldabonazo apenas si tuvo eco. El gobierno de Prío entero (menos Sánchez Arango que todavía reclamaba la victoria en su polémica, tan sensible en su agravio que no notaba la insensibilidad ante la muerte de su contrincante, como un duelista habitual que mata sin sentirlo: no era ajedrez su juego: nunca jugó) tembló por un momento. De haberlo querido el Partido Ortodoxo se habría hecho ese día con el poder: el propio Prío tenía ya las maletas listas para la fuga. Pero, como Chibás, los ortodoxos eran todos hombres legalistas que creían en el valor del voto y en la decisión electoral. Las armas eran para los militares y, ocasionalmente, para el suicidio ejemplar. Con su muerte Chibás había privado a la oposición política de su líder natural y dejado a su partido en un caos mayor que aquel en que estaba la República ahora. Así, unos meses más tarde, Batista dio su infame, fatídico golpe de Estado que fue a la vez incruento y fácil porque el presidente Prío eligió no resistir, sus maletas siempre dispuestas a la fuga. Pero entre sus seguidores que más resistieron luego, clandestinos, estaba Sánchez Arango, tan temerario como siempre. El epílogo de esta tragedia es igualmente trágico. Veinte años más tarde Prío, presidente exilado, para resolver problemas aparentemente insolubles abrió la puerta del suicidio -con un revólver calibre 32. Pero no rompió la temerosa simetría suicida al darse el tiro en el pecho. Prío, como su contrincante Chibás, tal vez vio que ésa era la única salida viable de/la historia y la entrada a la ,eternidad, que es mayor que la historia porque la contiene. La eternidad sí nos absolverá. Tiene tiempo para hacerla.

Es evidente (antes y ahora) que de no haberse suicidado Chibás hubiera sido imposible para Batista (o cualquier otro) dar un golpe militar al presidente Prío, a menos que se eliminara antes a Chibás y a Prío. Batista nunca se hubiera atrevido a tanto. Ese madrugonazo convirtió la precaria legalidad del gobierno de Prío en una absoluta ilegalidad bajo Batista. Como en una cadena de reacciones pocos meses después del golpe de Estado batistiano el 10 de marzo de 1952, Fidel Castro asaltaba el cuartel Moncada en Santiago de Cuba en un acto calculadamente suicida. Digo calculadamente porque nada que haya llevado a cabo Fidel Castro está libre de cálculo, a pesar del riesgo. Todos los dirigentes de la acción del Moncada murieron, menos Fidel Castro. Los muertos, naturalmente, fueron los suicidas. El ataque al Moncada (como el asalto al Palacio Presidencial en La Habana el 13 de marzo de 1957) fue un fracaso militar pero, al revés del asalto a Palacio, fue un triunfo político. Después del 26 de julio de 1953 todo sería historia en Cuba ― historia brutal, sangrienta, inevitable. Max Weber dijo una vez que "el medio decisivo de la política es la violencia". Casi una derivación del viejo apotegma de Marx cuando enunció que la violencia es la partera de la historia. Pero hay una leve variante en Weber que habla de política y no de historia. Jamás los fines justifican los medios históricos porque ¿qué decir de la violencia política cuando se dirige no hacia el otro, su blanco usual, sino a sí mismo y un asalto se vuelve un ataque suicida? Una arenga es el testamento raudo de un suicida y los militantes escogen frente a cualquier acción política su propia destrucción ― es decir, el suicidio. En su ensayo "La política como vocación" Weber ilumina con un relámpago que ciega las tinieblas políticas: " ... el mundo está gobernado por demonios y aquel que se deja llevar por el poder y la fuerza como medios hace un contrato con las potencias diabólicas y de su acción no se desprende que es verdad que el bien puede surgir sólo del bien y el mal sólo del mal, sino que lo opuesto es más a menudo lo cierto". Un pintor surrealista cubano [Wilfredo Lam] que cambió varias veces de posición política pero no de paleta, analfabeto moral pero no estético, al regresar a Cuba de Francia en 1958 declaró, demostrando que sabía tanto de demonología como de pintura: "¡Aquí han soltado a los demonios!" Y mirando la ciudad con sus ojos chinos que habían visto vivos a Picasso y a Breton y al paisaje negro de Haití: "Los demonios escapados son más difíciles de volver a su encierro que cuando estaban sueltos primero." Terminó con una frase que parecía venir de ese Guicciardini amigo de Maquiavelo ― o tal vez de sus antepasados chinos y africanos. "Al demonio hay que huirle. Mientras más lejos mejor. ¡No hay otro remedio que valga!" Se fue de vuelta a París. Ahora, paralítico y senil y sin poder pintar, tiene todos los demonios dentro.

El ataque al cuartel Moncada fue concebido por Abel Santamaría, Boris Santa Coloma y Fidel Castro. Aparentemente fue dirigido por este último pero el hecho de que viajaba en el segundo auto asaltante y que no llegó a penetrar en el cuartel indican otra posibilidad. Muchos expertos militares (entre ellos un antiguo jefe de comandos inglés) opinan que el asalto fue ciertamente una operación suicida. La relación entre atacantes y atacados era décuple en número (134 los rebeldes contra más de mil soldados acuartelados) y la desproporción de armamento era tan desigual que resultaba ridícula: escopetas contra rifles, pistolas contra fusiles M-1, ametralladoras Thompson (las que prefería Al Capone) contra ametralladoras calibre .50, Springfields contra cañones, autos contra camiones blindados y tanques ― y una inexperiencia abismal de los atacantes para combatir contra soldados profesionales bien entrenados y en su cuartel, además de vivir la mayoría con su familia en las vecindades. Los asaltantes sólo contaban a su favor con la sorpresa y el disfraz. Pero el ataque japonés a Pearl Harbor, por ejemplo, muestra que no siempre la sorpresa militar opera en favor del atacante y la máscara aparentemente amiga, como el camuflaje, tiene un uso limitado en el combate. El ataque por sorpresa puede a la larga ser como un arma que agota su parque y se hace inútil. Los soldados profesionales americanos demoraron apenas minutos para reponerse del insólito ataque sin aviso a su base. No es gratuito traer a cuento la psicología japonesa como el motor detrás de la acción doblemente suicida en Hawai. Varios supervivientes del asalto al Moncada contaron después que la noche antes del ataque crearon entre ellos una atmósfera casi sexual (entre los hombres: había dos mujeres en el grupo que servirían de enfermeras) y en el camino a Santiago iban cantando un son de Lorca: "Iré a Santiago en un coche de aguas negras." Uno de ellos, Gustavo de Arcos, me confesó muchos años más tarde: "Ibamos en realidad a nuestro destino y nos sentíamos como verdaderos kamikazes del Caribe."[ Arcos, inválido, veterano del asalto al Moncada y luego embajador en Bélgica (1960-65), estuvo preso sin delito, causa ni juicio durante tres años (1966-69) en un campo de concentración cubano. En abril de este año, al tratar de escapar de Cuba en un bote por la costa cerca de La Habana, fue detenido, juzgado y condenado a 14 años de prisión. Le acompañaba su hermano Sebastíán, durante un tiempo segundo jefe de la Marina Revolucionaria. Sebastián Arcos, por los mismos delitos, fue condenado a 11 años de prisión en el mismo juicio]. Como se sabe los kamikazes fueron pilotos suicidas que el alto mando militar japonés convirtió en bombas volantes manejadas por un solo hombre en los meses desesperados de la guerra en el Pacífico. Para los expertos americanos y algunos observadores internacionales este extraño comportamiento del cuartel general de un ejército con la guerra perdida que debía propiciar el armisticio, era no sólo inútil sino irracional y cruel. Tal opinión occidental desconocía entonces (o había olvidado ya) el código militar nipon y la moral del bushido (código cavalheiresco japonés que instituía o suicidio). Surgida en la edad media japonesa, en esta ética estrictamente militar y filosofía de la guerra el suicidio era un de los comportamientos más honrosos. Tanto como la victoria, la derrota era convertida por la muerte en triunfo moral, es decir eterno para esta ética. El harakiri, cuya técnica no es necesario explicar, se sabe que es una de las formas de suicidio más dolorosas que se conocen, aún más atroz que pegarle fuego al propio cuerpo. En el sepukku japonés (la palabra y el concepto son chinos) el autocastigo no es más que consecuencia directa de la autocrítica, que se unen a una indudable ansia masoquista de autoexterminio. Curiosamente, "darse candela" (el suicidio espectacular por público y fotografiado que pusieron de moda los bonzos de Vietnam) es una de las formas favoritas de suicidio del pueblo cubano desde tiempo inmemorial. Sólo lo practicaban, curiosamente, las mujeres. Los hombres escogían la soga al cuello y una viga. Muchas muchachas en La Habana y en los pueblos de provincia, por ejemplo, se prendieron fuego cuando murió carbonizado Carlos Gardel, por mero luto simpático. Pero no hay que ir tan lejos como el shogunato de Kamamura y la lealtad a la muerte para seguir los pasos a esta ideología de la inmolación. En 1895 José Martí, infatigable luchador por la libertad de Cuba, apóstol de la independencia, poeta nacional, héroe y santo ― prácticamente el hombre que lo tenía todo, menos la muerte ― encontró su fin inesperado en el campo de batalla, de manera inexplicable. La ocasión fue una escaramuza sin importancia en el comienzo de la guerra, al chocar una fuerza española reducida con la columna cubana. Martí, civil entre soldados, fue enviado cortés y gentilmente por el generalísimo Máximo Gómez, comandante en jefe de las fuerzas mambisas y general experto en las dos guerras de independencia, a que se retirara a sitio seguro, apenas unos metros en la retaguardia. Martí, que nunca había estado en el campo cubano, mucho menos en una guerra de guerrillas, hombre de ciudad siempre, civil de vocación, mal jinete y peor tirador, de pronto convidó a su escolta ― extraña alegoría: este protector, este testigo se llamaba Angel de la Guardia ― a ir hacia donde se veía al enemigo y pese a las protestas de su custodio arrancó ribera abajo, hasta las líneas españolas, donde cayó muerto del caballo al instante, sin siquiera haber sacado su revólver de la funda. Este indudable suicidio, político o personal, fue siempre escamoteado por los historiadores cubanos y todos los libros de historia presentan a Martí como un patriota que murió heroicamente combatiendo al enemigo en el campo de batalla. Martí sólo peleó ese día contra su propio enemigo. La muerte de Martí, alma de la guerra y creador de la república en armas, fue un desastre casi fatal para una campaña de independencia que acababa de comenzar. Este sacrificio inútil, no pedido y esta pérdida preciosa fueron lamentados siempre por todos los cubanos, aun en el pueblo, sobre todo en el pueblo, en el alma popular cubana. Una vieja clave (cantos que entonaban coros cubanos negros) aparecida en La Habana a principios de siglo se quejaba ya en tonos poéticos ― y políticos:

Martí no debió de morir, ay, de morir.
Si Martí no hubiera muerto otro gallo cantaría,
la patria se salvaría
y Cuba sería feliz.

[No deben incomodarse los patriotas cubanos ni sentirse los mexicanos adictos al copyright nacional si estos versos recuerdan otros, tan dolidos, dedicados a Juárez y su muerte que aunque natural malogró, como a todos, su vida. Pero observen los mexicanos como hay siempre que forzar el acento para adecuarlo a la música y decir "Juarez no debió de morir." No canten victoria los cubanos al reconocer que Martí tiene acento agudo. Todos los cantores patrios y políticos son ladrones de un patrimonio poético común, la clave que un mulato habanero compuso a su amante muerta ― que yo quiero suponer tremenda mulata en vida. Comienza así esta clave decimonónica de forma sorprendente:" ¡Inés no debió de morir! ¡ ay, de morir!"].

El canto es plañidero, su lamento es retórico y la expresión confusa, pero de veras que Martí no debió de morir entonces ― y morir fue lo que él quiso más en la vida. Como otros poetas románticos antes ― Byron en Misolongui en busca de la guerra contra los turcos que nunca ocurriría para él, Sandor Petofi desapareciendo sin dejar otras huellas que las poéticas en un campo de batalla húngaro ―, Martí, romántico retrasado, escogió una de las muertes posibles al poeta del siglo XIX: la tuberculosis, el laúdano, la sífilis; el ajenjo o la bala certera. (Un juego de posiciones permite proponer los nombres de Keats, Coleridge, Baudelaire, Verlaine, Pushkin, Kleist, Larra, Laforgue, Lautréamont ― para no ocupar más que una página del Diccionario ― y con Nerval añadir la horca íntima y pública con un farol como ayudante del verdugo. Cada poeta no tiene derecho a más de una muerte.) Pero al revés de esas muertes privadas, Martí consiguió que la república de Cuba naciera cargando un gran difunto al cuello, peso muerto que era además un suicida oculto, como un baldón (improperio) en la familia: aquello de que no se debe hablar. Poético o político, el suicidio de Martí fue histórico. Es decir, desastroso.

Otros cubanos republicanos escogerían el suicidio como acto político para dar punto final a una polémica pública particularmente onerosa: Wifredo Fernández fue alcalde de La Habana y director del diario La Discusión, el periódico cubano más importante de su tiempo. Uno de los periodistas más cultos de Cuba, Wifredo Fernández apoyó hasta el último momento al dictador Gerardo Machado y fue de los pocos civiles machadistas arrestados por el Gobierno Revolucionario de 1933, que a su vez se convertiría pronto en la dictadura de Batista ― que duró más que la de Machado. Preso en la fortaleza de La Cabaña, a los pocos días se mató de un tiro en la cabeza. Nunca se supo cómo logró hacerse del arma con que se suicidó en su celda. Otro notable suicida antes de Chibás fue el entonces alcalde de La Habana (posición pública segunda en importancia sólo a la presidencia de la república), Manuel Fernández Supervielle. El alcalde Supervielle se suicidó en 1947, después de haber sido electo por aclamación popular. Había sido acusado de prevaricación por la prensa habanera al no poder cumplir su promesa electoral de dar agua a toda La Habana. Como Chibás, Supervielle era un hombre honesto, de dinero, venido de la vieja burguesía cubana pero un populista político. Su suicidio, como el de Chibás, fue una expresión de fracaso personal y un último discurso afirmativo por la negación: el hoyo en la sien (buraco na têmpora) como testamento ideológico escrito con plomo. Irónicamente, el nuevo alcalde ― venal, politiquero y sin clase ni noción de clases ― propuso en seguida hacer un monumento a Supervielle, ahora alcalde modelo al fin: del suicidio considerado como ideal idóneo. Los habaneros todos aplaudieron la idea y contribuyeron generosos a la colecta para esculpir y erigir su estatua ― que en la realización se encogió hasta hacerse sólo un busto. El alcalde marrullero procedió a colocar la cabeza de bronce hueco en una ínfima placita apenas a media cuadra de la Plaza de Alvear, llamada así en honor del elevado ingeniero constructor del primer acueducto habanero, inmortalizado en una estatua epónima y varios libros. El humor adrede o impensado, es ciertamente una forma de escarnio. De mortius omnis ...

Tiempos posteriores vieron otras formas de suicidio político, esta vez colectivo, en el mismo centro de La Habana. El más memorable fue el raid banzai al Palacio Presidencial la tarde del 13 de marzo de 1957. (Las fechas repetidas tienen ánimo encantatorio.) Este asalto estaba condenado al fracaso de antemano y aun los comandos ingleses que intentaron secuestrar al mariscal Rommell y su alto mando en su reducto en Francia, todos asaltantes voluntarios, habrían considerado el ataque al palacio presidencial en La Habana, verdadera fortaleza civil, como una operación suicida, rechazable sin duda ni deshonor según el código de conducta militar inglés. Todavía resulta más incomprensible si se considera que en esta acción fallida murió el noventa por ciento de los asaltantes, de los cuales el setenta y cinco por ciento formaba parte del ejecutivo nacional del grupo que planeó, dirigió y llevó a cabo el asalto, el Directorio Estudiantil Revolucionario. Este era, entonces el único organismo político rival del Movimiento 26 de Julio, que comandaba por control remoto Fidel Castro desde la sierra, y la máxima organización de guerrilla urbana en La Habana. Las causas directas del mortal fiasco en que se convirtió el asalto al palacio presidencial de un dictador no implacable pero sí cruel, situado en el centro de la ciudad, fuertemente custodiado, con difíciles problemas de tránsito y dificultades de movimiento, intentado además en pleno día: las granadas que nunca estallaron, las armas que se encasquillaban y la posesión como única guía para la acción de un plano del edificio ― ¡caduco hacía cinco años! Entre las reformas del palacio, previsibles pero ignoradas por los asaltantes, estaba un elevador blindado que llevaba del despacho presidencial a la azotea permanentemente custodiada por una guardia pretoriana.

Es evidente que había entre los asaltantes ― jóvenes, maduros, inexpertos y veteranos de la guerra civil española y de la Segunda Guerra Mundial, todos voluntarios, todos valientes ― más que una voluntad de vencer, una decidida predilección por el fracaso que significaba la muerte segura: era una urgencia de martirio que ellos mismos no vacilaban en calificar correctamente de "martiana". Uno de los asaltantes más jóvenes escribió antes del ataque un manifiesto que terminaba en una frase que era una sentencia: "¡O seremos libres o caeremos con el pecho constelado a balazos!" ¿Arenga o promesa? ¿O tal vez programa para la lucha? A pesar del estilo ― o por ello mismo romántico y retórico se podía oír el eco de Martí. El autor de la proclama, Joe Westbrook, murió como prometió, no en el asalto, sino poco después en una encerrona (cilada) : acribillado por Ia policía batistiana cuando todavía no tenía veintiún años. Joe y todos los otros muertos no eran, como le gustaba repetir al comandante Alberto Mora, d'apres Lenine, cadáveres con licencia, sino candidatos electos a la fosa común. El asalto a Palacio fue, junto con el ataque al cuartel Moncada, la más espectacular que las acciones de violencia suicida llevadas a cabo durante el régimen de Batista, que duró siete años. Ninguna hizo abdicar al dictador, que huyó, como huyen todos los hombres, por miedo a lo desconocido: ese annus ignotus romano. El hombre se escapó a última hora, del último día del año 1958. Pero hubo muchos otros gestos de inmolación inútil antes de que Batista viera que a él también lo abandonaba el dios de Antonio. El mero hecho de permanecer un militante en La Habana o Santiago haciendo terrorismo y no buscar asilo en las montañas ― que eran consideradas por los terroristas como refugios, balnearios, sitios de veraneo político cuando se quemaban en las ciudades ― esa insistencia o testarudez era un acto suicida reconocido por todos. En estas actividades de samurái solitario murieron conocidos líderes revolucionarios, entre ellos Frank País, que era en la jerarquía del Movimiento 26 de Julio segundo sólo de Fidel Castro en la Sierra y el primer líder de la guerrilla urbana. Frank País fue finalmente asesinado en Santiago de Cuba como quería, terrorista activo en una ciudad ocupada. Como la de Martí su pérdida fue fatal para la Cuba actual, su altruismo una forma sutil de último egoísmo. En La Habana los terroristas mientras tanto morían como obstinadas moscas políticas. En cuanto a los pocos sobrevivientes del asalto presidencial (una acción suicida no es necesariamente mortal: el mundo está lleno de suicidas fallidos), al poco tiempo de su hazaña absurda se paseaban por las calles céntricas con estilo de desafío que contrastaba con su condición, de clandestinos con la cabeza a precio. Mientras en los suburbios otros terroristas, actores anónimos, se batían a menudo con la policía batistiana con verdadera sans façon ― muchas veces mortal. Había los que recordaban a ciertos gansters de! cine, inmolados simulando, emulando a Dillinger o a Bonny y a Clyde en la ficción. Pero aunque se ordene "¡Acción!" en ambas, la política no es una película.

Al principio de la toma del poder por Fidel Castro, un miembro prominente del Movimiento 26 de Julio con un hermano ministro importante, si no decisivo, fue acusado ― falsamente, como se vio después, demasiado tarde ― de prevaricación, como SupervieIle aunque de menor rango que Supervielle. Con sólo ver su nombre en los periódicos, sin siquiera esperar la vista de la causa o la deposición de los testigos favorables, este joven funcionario se disparó un tiro a la sien, método favorito del bushido cubano para expiar la culpa o la tenue mancha moral mediante un harakiri rápido. Aun la extraña desaparición del Comandante Camilo Cienfuegos ― jefe del ejército rebelde y mano derecha de Fidel Castro- fue una forma de autoexterminio. En la búsqueda de su avión perdido, un pequeño Cessna, la parada obligada era el aeropuerto militar de Camagüey, de donde había salido el avión originalmente. Fidel Castro en persona hizo investigaciones, rápidas y ríspidas. Interrogó al control de vuelo quien contó que él había dado salida al avión a regañadientes. "Fidel, en el radar se veía clarito una tormenta cerca de la isla, que avanzaba hacia la costa. Se lo dije al piloto y todo lo que hizo fue mirar al comandante." El comandante era Camilo Cienfuegos, que se dirigió al piloto y le dijo: "Palante y palante", que era entonces una especie de consigna de vanguardia revolucionaria: "¡Adelante!" Terminó el control de vuelos con una frase que fue un veredicto:

"Volar en esas condiciones era suicida." Y suicidio fue la causa de la desaparición de Camilo Cienfuegos. Más asombrosa que esta revelación fue el descubrimiento de que durante todo el tiempo que duró la busca del aparato y su pasajero eminente, Fidel Castro mostró un desinterés que era casi indiferencia por la muerte de su amigo y compañero de armas.

En octubre de 1959, a raíz de su renuncia como jefe militar de la provincia de Camagüey, el comandante Huber Matos fue puesto preso por el propio Fidel Castro, que avanzó a pie desde el aeropuerto hasta el cuartel del ejército, seguido por una multitud exacerbada por su discurso en que minutos antes acusó a Matos de traidor y contrarrevolucionario. El comandante Matos esperaba calmado su suerte en su jefatura militar, pero uno de la serie de sucesos extraordinarios que señalaron este momento insólito, ocurrió cuando uno de los oficiales de su estado mayor, el capitán Manuel Fernández, pareció salir a su balcón para recibir a la turba revólver en mano. Pero inmediatamente dirigió el arma a su cabeza en vez de a la oposición y se disparó un tiro, matándose en el acto.

Uno de los suicidios más extraños e inexplicables sucedidos en Cuba después de la Revolución y nada conocido fuera del país fue el de Raúl Chirino, revolucionario vuelto contrarrevolucionario por la Revolución, que se suicidó en 1959 dentro de una casa de socorros de La Habana ― mientras era interrogado personalmente por Fidel Castro! Nadie dudó nunca que fuera un suicidio.

Augusto Martínez Sánchez fue uno de esos zurdos y absurdos comandantes repetidos a su imagen y semejanza por Raúl Castro en su Segundo Frente Oriental: la guerrilla a través del espejo. Sus operaciones duraron sólo meses pero su mando militar se hizo eterno ― tan eterno como puede ser un momento histórico. Martínez Sánchez subió a la Sierra de Cristal a mediados de 1958. Oscuro abogado imberbe, iba junto a otro lampiño, el pelirrojo (ruivo) Manuel Piñeiro, que había vivido unos años en Nueva York como profesional de la frustración y el resentimiento antiyanqui, resentimientos de impotencia que no extendió al sexo al casarse con una espléndida bailarina americana, que amaba la danza tanto como detestaba el ballet. Ambos, Piñero y Sánchez, bajaron de la Sierra de Cristal como quien atraviesa el muro mágico: ahora eran comandantes barbudos, prepotentes en su comunismo rural a lo Raúl. No habían disparado un tiro pero eran certeros en sus consignas rojas que siempre daban en el blanco político. Piñeiro fue nombrado por Raúl Castro Jefe del Servicio de Contraespionaje, experto en espiar amigos y en la delación que ahora se llamaba vigilancia revolucionaria. Apodado "Barbarroja", su verdadero remoquete (alcunha) era James Bongo, el contraespía que vino del frío Nueva York. Aún sigue en el espionaje sin inteligencia y no se ha suicidado porque la palabra fracaso no existe en su vocabulario, tan corto es. Augusto Martínez Sánchez hace rato que pasó no a la historia sino al ridículo y de ahí al olvido totalitario, que es el limbo del marxista. En 1960 había sido asignado Ministro del Trabajo en condiciones oscuras, que son las condiciones en que siempre operó Raúl Castro en el poder por poder. Su eficacia en el puesto, como la de Piñeiro, era característica de esta pandilla desafinada dentro de la banda militar de Fidel Castro. Si Fidel es el Führer entonces Raúl es Rohmer, aun en la aureola de crueldad y pederastia que siempre lo ha rodeado, tal vez por sus hombres, atroces incompetentes aupados (galgados) más allá de la comprensión. Pero pronto, a pesar de sus intrigas y de su apoyo impopular, Martínez Sánchez se vio corriendo intrépido a un cul-de-sac, que todos reconocieron: era el común callejón sin salida que es el destino del mierda. Los comunistas no sólo lo dejaron caer como caca caliente sino que le pidieron la renuncia, efectiva ayer. Cuando Sánchez supo que lo forzarían a dimitir apesar del Hermano que ya no lo apoyaba y de sus maniobras militantes, el ministro de pronto digno se encerró en su despacho, sacó su pistola de reglamento y se dio un tiro en el pecho. Con su impericia habitual el Comandante Augusto, para su disgusto, había salvado la vida pero no el honor. Francisco I podía escamotear su situación histórica pero un suicida cubano fallido era como un samurái con una espada de palo. Las metáforas cruzadas se deben a que es más fácil hacerlas con Vico y lo vacuo de la historia que con la viscosidad de esta clase criminal que, como Hitler y su banda, se presentan como héroes históricos.

La carrera política (y sobre todo militar) del Che Guevara fue un verdadero desplazarse en escaques atravesados, mal Caballo, después de dejar Cuba y embarcarse en las dudosas aventuras de político cazador blanco en el Congo y su desastre sudamericano. Pero antes de-morir hizo sus infamosas declaraciones de propósito, en que llegó a decir: "¡Qué cerca estaríamos de un futuro luminoso si en el mundo surgieran dos, tres o muchos Vietnams con su bagaje de muertes y sus intensas tragedias! " Estas parecerían las palabras de un anarquista in extremis y no del socialista o aun marxista ortodoxo que Guevara profesaba ser, el hombre que había adoctrinado a Fidel Castro, salvaje político, leyéndole para domesticarlo pasajes del Manifiesto comunista. Pero era su testamento político.

Tal hecatombismo demente, verdadera literatura apocalíptica, venía desde el más allá pero en la voz reconocible de un líder mundial, ideólogo del tercer mundo y todavía icono pop. En realidad era la voz de un muerto antes de morir. La muerte del Che Guevara ocurrió al dejarse atrapar en un valle boliviano rodeado de montes, en una encerrona estúpida. Cuando en 1967 se supo su exacta situación geográfica, Mario Vargas Llosa que había vivido años en Bolivia y ahora vivía en Londres, comentando la suerte posible del Che, declaró: "No tiene otra solución que dejarse capturar o la muerte. Está sin salida. Lo que ha hecho es un suicidio" ― y suicidio fue. Guevara en Bolivia, como antes en Cuba, se había comportado como un suicida y entre un ser fatigado y héroe político o mártir de una religión nueva, escogió el martirologio. El apocalipsis luego, ahora la inmolación.

Javier de Varona pertenecía a la alta burguesía habanera, ésa que fue decisiva para la subida de Fidel Castro al poder. Su familia, a la que aborrecía, tenía dinero y todos vivían en una gran casa de un barrio rico de La Habana. Javier era alegre, descuidado, conspirativo y dado a la delincuencia más inocente, como insultar desde un auto a un peatón ocasional: "¡Qué culito más rico!" O llamar por teléfono a Lezama Lima a las tres de la mañana para despertarlo con una frase soez (" ¡ Lezama, (bugarrón) pederasta , te voy a castrar! "), para alarma del poeta asmático. En esas ocasiones Javier reía con verdadero gusto ante el disgusto ajeno. Con la Revolución Javier de Varona se hizo de extrema izquierda y en algún momento colaboró con la Seguridad del Estado como confidente. Lo que debió de hacer con el mismo desenfado moral con que antes robaba libros de las bibliotecas públicas del Estado ― y privadas de los amigos. Se casó y comenzó a trabajar en un negociado económico. Un día de 1970 ― después del fiasco de la cosecha de fábula de los 10 millones de toneladas de azúcar soñada como un imposible posible por el primer ministro absoluto ― redactó un documento en que analizaba minuciosamente las causas que produjeron ese desastre económico, agrícola y humano y llegaba a la conclusión, sabida ya por todos sin hacer ningún análisis, que el máximo responsable del fracaso máximo era el Máximo Líder ― es decir el propio Fidel Castro. Envió el documento a su ministro y el análisis siguió el curso previsto: de las manos del ministro a las del Primer Ministro. A los dos días quedaba detenido incomunicado. A la semana lo devolvieron a su casa en silencio. Sin decir nada a nadie Javier de Varona escribió toda la noche y a la mañana siguiente se suicidó de un balazo. Lo que escribía era su testimonio político. Ingenuo, como siempre, pensó que alguien lo publicaría un día. Cuando su mujer descubrió el cadáver de su marido, lo que un día fue el jovial Javier, y recogió sus páginas escritas y leyó lo que había escrito, decidió llamar a la policía enseguida. En lugar de la policía vino Seguridad del Estado. Vieron el cadáver que no les interesó pero leyeron el documento demente para ellos y aconsejaron a la viuda, que declarara, por el bien de todos, que su marido se había suicidado por saberse impotente: implicaron sexualmente impotente. No dijeron políticamente impotente. Se llevaron el documento inédito. El cadáver quedó detrás como un muerto ya enterrado en el fracaso. El testamento político o económico debe de estar todavía en el Ministerio del Interior, en alguna gaveta empolvada. 0, como Javier de Varona mismo, será cenizas sin sentido.

El epitafio de Guevara es la película Che, el argentino rosado encarnado por el oscuro egipcio Omar Sharif, todo lleno de talco, en un ridículo tan atroz que es un escarnio. ¿ O es justicia política ? El obituario del pobre Javier de Varona, dado a la chacota y a la crítica de la sinrazón pura, está en un momento documental de Topaz, en que Alfred Hitchcock hace coincidir su sombra por unos segundos históricos con un excesivo y gesticulante Fidel Castro materialista en la tribuna del pueblo en la Plaza de la Revolución en La Habana. Sería tenebrosa simetría saber que ese día en que coincidieron los dos en el espacio fílmico, Javier de Varona animoso y Fidel Castro locuaz, fue la ocasión cuando el Máximo Líder anunció al pueblo que había aceptado renuente (relutante) la sugerencia popular de cosechar una zafra máxima de diez millones de toneladas de azúcar ― para salvar al pueblo y el gobierno de Cuba. (Aplausos atronadores.)


Un caso más extraño y sintomático que el de Javier de Varona fue el suicidio de Nilsa Espín, doble suicidio más bien. Nilsa era hermana de Vilma Espín que es ahora una revolucionaria con todos sus títulos y privilegios: esposa de Raúl Castro, miembro del comité central del Partido Comunista de Cuba, presidenta de la Federación de Mujeres Cubanas, etc. Curiosamente las Espín, como los Castros, pertenecían a la alta burguesía de la provincia de Oriente. Ellas a la burguesía urbana, ellos a la burguesía rural. Vilma, cima de la educación de la burguesía cubana, había hecho estudios en un exclusivo colegio americano, Bryn Mawr o Vassar. Pero se hizo célebre no bien triunfó la Revolución como la apoteosis de la rebelde al casarse con Raúl Castro, en un golpe de propaganda y adelanto revolucionario: el progresso de la burguesía renuente. Su fotografía de bella cubana con una gardenia al pelo negro se publicó en la portada de Life y recorrió el mundo como la imagen de la belleza guerrillera en su boda con un novio de verde-olivo, boina y extraña trenza. Pero Vilma era una advenediza que por pura casualidad había servido de mensajera entre Frank País en Santiago y Raúl Castro en su montaña, correos que para una linda muchacha rica de buen nombre conocido de todos era un paseo a la sombra. Quien sí tenía una larga historia insurreccional en Santiago era su hermana Nilsa, más modesta, menos fotogénica, incapaz de colgarse una flor al pelo. Cuando triunfó la Revolución Nilsa también se casó, pero escogió como compañero eterno a un oscuro rebelde sin nombre. Nada de comandantes o líderes carismáticos o jefes de la Revolución para ella. Su nombre nunca salió en ningún periódico, nacional o internacional, mucho menos su fotografía apareció en ninguna parte de Life ― ni siquiera en Life en español. Ella y él trabajaban intensa pero anónimamente donde los destinaba la dirigencia. El parecía vagamente un revolucionario ruso con su barba profusa y el pelo hirsuto en desorden. Era una suerte de Trotsky cubano ―peligroso parecido ― y trabajaba en la reforma agraria en Pinar del Río. Allí, siempre crítico, encontró oposiciones inesperadas ― o esperables de haber sido menos idealista. Un día de 1969 se pegó un tiro en la sien, para asombro de todos menos de Raúl Castro. Cuando Nilsa se enteró en La Habana, estando en el despacho de Raúl Castro, se encerró en el baño sin aspavientos (trejeitos), sacó su pistola y se dio un tiro en la sien. Raúl Castro tampoco se asombró esta vez. Luego se supo que ambos consortes tenían un pacto suicida hecho en secreto. El gobierno revolucionario, ahora con control total de la prensa, la radio y la televisión y las agencias de noticias bajo censura no difundió la noticia. En cuanto a Life, no iba a publicar la foto de la otra Espín: fea, fracasada, con un coágulo de sangre al pelo, roja gardenia atroz. Privadamente se comentó que se sabía hacía rato que la pareja estaba desilusionada con el régimen y con la revolución. Vilma Espín nunca explicó nada a nadie.

Alberto Mora era hijo de uno de los jefes del asalto al Palacio Presidencial, Menelao Mora, que murió allí. Los dos eran altas figuras del Directorio Revolucionario y Alberto, por un asombroso azar que él creía histórico, iba a entrar entre los primeros al palacio pero fue puesto preso por la policía batistiana días antes, mientras forcejeaba para que su padre escapara y pudiera dirigir la operación suicida. Alberto estaba en prisión, al seguro, cuando ocurrió el asalto en que murió su padre y no él. Después, ya libre (Batista era un asesino irregular que permitía a sus jueces conceder el habeas corpus cuando sus secuaces no usaban el habeas corpse) pero todavía clandestino, se arriesgaba gratuitamente para comer con sus amigos como yo en un restaurant de moda, a la vista de todos y vestido llamativamente. Al triunfo de la Revolución compartió la desgracia política inicial del Directorio Estudiantil, grupo que Castro tenía que aniquilar si quería gobernar: quien asalta un palacio, asalta dos. Luego Alberto Mora derivó hacia los extraños cuarteles del Che Guevara, unidos por la desgracia, y fue protegido por el argentino sin patria. Nominalmente comandante del ejército rebelde, Alberto fue nombrado Ministro de Comercio Exterior, se casó y fue feliz por un tiempo. Cuando el Che Guevara cayó en su penúltima desgracia, Mora fue destituido y convertido en burócrata itinerante, humillación que pareció aceptar como un castigo merecido: la pena política al pecado original de su rebeldía. Fue sonriendo a su destino Alberto, con su sonrisa torcida de siempre, el amargo Alberto, el amistoso y leal Alberto. Cuando del infame "Caso Padilla", Alberto Mora, su amigo, estuvo entre sus pocos defensores, para su mal. Finalmente, en desgracia total, fue enviado como condena a trabajar en una granja "de voluntario". No soportó este último ultraje y se dio un tiro en la boca con su pistola de reglamento militar. Sólo hubo un breve obituario en el Granma, diario oficial, que no dijo siquiera que se había suicidado. Hasta ese último privilegio político le fue negado.

Miguel Angel Quevedo heredó de su padre una revista literaria de escasa circulación llamada Bohemia, pero no sus inclinaciones intelectuales ni su gusto elitista. Muy joven el heredero convirtió su revista en un semanario popular, crudo y sensacionalista y al mismo tiempo profundamente democrático y sentimental. Bohemia fue de cierta manera uno de los creadores del carácter cubano de entonces y no es casualidad que surgiera en Cuba junto con el bolero. El raro talento periodístico de Quevedo corría parejas con un segundo instinto político y así se opuso a Batista en 1940, aunque había sido elegido democráticamente (con ayuda del partido comunista cubano, entre otros), apoyó unas veces a Grau San Martín como candidato presidencial ― pero lo atacó ya en la presidencia. Como atacó a su sucesor Carlos Prió ― para defenderlo una vez derrocado por Batista, al que volvió a atacar de dictador con una sabia mezcla de audacia y mesura. Siempre, es curioso, Quevedo se adelantaba a interpretar los sentimientos populares en política y hacerlos públicos enseguida. Antes de que Fidel Castro llegara al poder (con su apoyo, entre otros), el político favorito de Quevedo fue Chibás -que nunca llegó al poder. Pero Quevedo era todo menos un amante del fracaso. Al contrario, buscaba y compartía el éxito (los opíparos fines de semana compartidos con amigos y colaboradores en su finca de recreo y su generosidad eran proverbiales), pero sentía un particular afecto por la sacralización de sus héroes y así no resultó raro que tuviera la osadía de imprimir un dibujo (a toda página, a todo color y recortable) de Fidel Castro ya primer ministro, en 1959, en que Castro se semejaba con sus barbas no a un Marx posible sino a otro judío imposible - ¡Jesús!

Años antes, cuando el suicidio de Chibás, había convertido la foto de una simple puerta colonial y un aldabón, al añadirle un crepón de luto y un título negro con la frase final de Chibás como epitafio: "¡El último aldabonazo!", en una portada de Bohemia que hizo historia. Esta obra maestra de la propaganda, mezcla de alegoría política y mal gusto macabro, era the kitsch of death. Años después, uniendo sus héroes del pasado en un solo gesto de fracaso, Miguel Angel Quevedo, exiliado y en la ruina en Venezuela (que es como saberse arruinado en Las Vegas), se mató de un balazo en la sien. Dejó una carta editorial que terminaba así: "Me mato porque Fidel me engañó." Su compleja vida hizo su muerte complicada. Homosexual encubierto y hombre muy poderoso en La Habana (en una ocasión le ofrecieron ser ministro y declinó la oferta diciendo: "¿ Para qué quiero ser ministro? ¡Yo soy más que un ministro! Yo obligo a muchos ministros a hacerme antesala"), Quevedo perdió en Caracas su Bohemia pero pudo por fin exhibirse en público con sus jóvenes amantes ― para escándalo privado de sus amigos y regocijo impreso de sus enemigos. Es obvio que a Miguel Angel Quevedo no lo mató el engaño de Fidel Castro sino haber participado en ese engaño ― y su propio desengaño.

Esta actitud suicida cubana ― que alabarían los viejos anarquistas catalanes, la ETA y aún los falangistas: "¡ Viva la muerte!" ― se contagiaba a los extranjeros, como el Che Guevara, pero aun los que habían llegado tarde a la Revolución aunque servían al Gobierno, como el argentino Jorge Ricardo Masetti, que vino a Cuba como protegido del Che y gracias a él creador de la agencia de noticias oficial Prensa Latina. Masetti tenía la petulancia del Che pero no su inteligencia. Finalmente él hizo también, como dicen los argentinos, su viaje al muere: la muerte por la guerrilla suicida, que emprendió, en imitación tardía y temprano aviso al Che, de regreso a su destino argentino. Pero no sólo hubo argentinos convertidos en suicidas por contagio cubano. También hubo chilenos. Beatriz Allende, hija y confidente del difunto presidente de Chile del mismo nombre, estaba casada con un impreciso agregado, dos veces oscuro, en la embajada cubana en Santiago. Bien parecido y modesto, se conocieron antes de las elecciones que ganó para su mal Allende. Al poco tiempo de casada la mujer de Barbanegra supo el secreto de su marido: era capitán de la Seguridad del Estado en Cuba y había venido a Chile con la misión de proteger al presidente electo para que no lo mataran antes de tomar posesión. Lo mataron después, claro, y su guardia cubana no pudo, o no quiso, protegerlo. Cuando cayó Allende el matrimonio, amparado en la inmunidad diplomática, regresó a Cuba. Al poco tiempo se separaron: misión cumplida para el hábil agente cubano, que tampoco pudo impedir, como con su padre, el suicidio de la hija preferida de Allende. Ahora Beatriz vivía sola detrás de la siniestra pero en apariencia apacible casa ― quinta de los Servicios del G2 en la antigua barriada elegante de Miramar en La Habana. (El G2 es el cuartel general de la Seguridad del Estado: la nomenclatura ha sido heredada sin asco del ejército de Batista: la viscosidad es una sola.) Los vecinos la veían salir a veces, apocada, temerosa: la sombra de la mujer altiva que conocieron en Chile los amigos de Allende. Al poco tiempo Beatriz Allende se dio un tiro en la sien, costumbre aprendida en Cuba. El parte oficial del gobierno cubano habló esta vez de depresiones y neurosis. No hace mucho la tía de Beatriz, Laura, hermana de Allende, que vivía también en La Habana, se lanzó de un piso dieciséis a la calle. Esta vez el diario oficial Granma explicó que la otra suicida Allende estaba enferma de un mal incurable. Por supuesto no se refería a la tiranía de Castro. Nadie dijo que Laura Allende hacía meses que trataba de salir de Cuba para curar la incurabilidad del mal que la mató.

El escándalo sin precedente diplomático del asilo masivo en la embajada peruana en La Habana provocó inesperados nervous breakdowns de funcionarios antes firmes y combativos o el súbito exilio de escritores en oportuna turné oficial por el extranjero. Algunos de ellos trabajaron en la Casa de las Américas bajo la dirección de Haydée Santamaría. Una de las mujeres más sólidas y firmes en apoyar a Fidel Castro dondequiera, inclusive su confesora de peligrosas intimidantes políticas, heroína del régimen varias veces, Haydée, llamada Veyé, súbitamente tomó su pistola (cada comunista cubano con su Colt .45) y tranquila se la llevó a la boca como una taza de té. Literalmente se voló la tapa de los sesos (estourou os miolos). Para desvelar el secreto en el velorio le habían puesto un turbante encubridor, pero el verdadero misterio era por qué había sido velada en una funeraria pública y no en el mortuorio de los mártires en la Plaza de la Revolución. Haydée, según se supo, había cometido el suicidio en su propia oficina. ¿Neurosis larvada que aflora brutalmente? ¿Depresión irresistible? ¿ Por qué no hablar de desengaño, de desilusión total o del simple expediente del suicidio como respuesta moral a la derrota que no ve derrotero? Después de todo Haydée Santamaría fue una de las dos únicas asaltantes suicidas al cuartel Moncada. enfermera dispuesta a morir más que a salvar vidas. Pero también hay que recordar que supo resistir entonces, con enorme entereza, la tortura psíquica más terrible cuando los soldados de Batista le presentaron en bandeja los ojos de su hermano y los testículos de su novio. Después del triunfo de la Revolución ella solía esgrimir esta atroz exposición como metáfora macabra de su firme carácter revolucionario y su capacidad de resistencia mental. Usaba esta narración de grand guignol (teatro parisiense amoral e de horrores) político para ganar argumentos ideológicos ― y aun culturales.

Una mujer cuya falta de inteligencia corría pareja con una enorme ignorancia, la Santamaría pudo fundar, dirigir y controlar durante veinte años una organización cultural oficial, la Casa de las Américas, que no era ciertamente la Bauhaus, pero no estaba lejos del Ministerio de Cultura soviético bajo Ekaterina Furtseva, por ejemplo. También la Casa de las Américas infiltraba sutilmente agentes en diversos países de América del Sur y del Norte y ofrecía refugio a no pocos" amigos" de Cuba en fuga en su sede central. Además de la confianza personal y política de Castro (aunque éste no entendiera tanto de una casa de la cultura, ni siquiera de la cultura que no sirviera a sus fines, como entendía el desaparecido ex presidente Osvaldo Dorticós) Haydée contaba ahora con la protección de su a veces marido Armando Hart, primer Ministro de Cultura y hombre con quien podía entenderse perfectamente a través del abismo de sus respectivas ignorancias. Aun el notorio oportunismo de Hart podía ser favorable a la escasa ductilidad de Yeyé. Parecía pues que no había motivo para el suicidio de esa Yeyé que no conocía el aburrimiento: imposible que la atacara un tedium vitae. Pero ¿no es posible que padeciera un tedium del poder? EI poder absoluto desilusiona totalmente. Después de todo un opositor es como una especie de cura para la paranoia. Se habló además de un testamento que Haydée Santamaría sirvió a Fidel Castro en bandeja de recuerdos revolucionarios. La prensa cubana, de más está decirlo, no dijo nada de testamentos metafóricos o reales y lIegó a escamotear la fecha de su muerte. Según el diario Granma ocurrió el 28 de julio. Algunos enterados en el exilio sostienen que el suicidio tuvo lugar el 27 de julio, fecha privada para su luto por la muerte violenta de su hermano y su novio. Hay que apostar sin hacer trampa que Haydée Santamaría se suicidó el 26 de julio de 1980.


Hay otros suicidas menos conocidos, como el comandante Pena, que también recurrió a la pistola, el gatillo y la bala en la sien. O el comandante Eddy Suñol, héroe de la guerrilla en la Sierra, que llegó a ser viceministro del interior en la paz ― o eso que pasa por paz en Cuba. Esas muertes son además de posibles, inevitables en una revolución cuya única aportación contundente a la literatura revolucionaria es el lema de "Patria o Muerte". Si se compara este motto mortal con la frase favorita de los revolucionarios franceses, "Liberté, Egalité, Fraternité", se verá no sólo la pobreza mental sino además la miseria moral del apotegma favorito de Fidel Castro. El lema "Patria o Muerte" (probablemente concebido por el héroe de la guerrilla urbana en Santiago de Cuba, Frank País, quien de veras murió y se hizo el mártir que quería) es una derivación burda de viejos lemas cubanos, como Independencia o Muerte", confeccionado en el siglo XIX durante la segunda guerra de independencia y el anuncio, todavía visible en 1959 en las monedas de plata de" Patria y Libertad". Pero parece que todo debe volver a Martí si se habla de Cuba y la muerte. Fue Martí quien terminó su famosa llamada a la lucha en el Manifiesto de Montecristi con una frase lúgubre, "La Victoria o el Sepulcro". Martí por propia voluntad cumplió una parte del lema y lo convirtió en violento vaticinio. Ya antes había escrito frases no menos tenebrosas en las que declaraba cosas como que la muerte es el seno inefable donde se fraguan todos los sueños sublimes. No es posible acumular más cantidad de tanatos en menos espacio creador. Sus mismos versos sencillos, tan populares, tan fáciles, tan llenos de luz, abundan en invocaciones a la muerte. Una ofrenda a su culto a la muerte es ese verso citado y recitado por tanto colegial sencillo en que Martí confiesa el deseo de morir de cara al sol. A pesar del contexto la expresión es francamente política. Curiosamente ― ¿o no tanto? ― la frase final fue adoptada y adaptada ya bien entrado el siglo XX por el poeta español que también se convirtió a la religión falangista de la muerte. Me refiero al poeta falangista Dionisio Ridruejo. Ese fin de verso fue hecho lema para formar parte y dar nombre al himno de la Falange Española. El himno se llama "Cara al sol". Meras metamorfosis marxianas.

Ahora en Cuba en el lema de "Patria o Muerte" la idea de Patria apenas si tiene sentido en el contexto y mucho menos en su expresión máxima, que es la del Máximo Líder. Talvez debiera decir única porque nadie parece, excepto su hermano Raúl, tener derecho a enunciarlo en público. ¿ O es que nadie más tiene la voz alta en Cuba? En todo caso Fidel Castro siempre acentúa al final de cada discurso si no la idea por lo menos la furia fatal que va con el sonido de muerte en voz aguda, agorera. Las tres grandes religiones nacidas en el Mediano Oriente, que no rechazan la muerte sino más bien la acogen, condenan todas el suicidio sin ambajes. De las tres, la más antigua, la originaria, la que parece haber inventado esta proscripción, el judaísmo, declara en el Talmud que dado que la vida es sagrada el suicidio es por tanto un acto pecaminoso. El cristianismo se opone al suicidio con extremo énfasis, razonando con más teología que lógica. (Aristóteles, por ejemplo, no entendería esta proposición). Si toda vida humana es obra de Dios, que la da y la quita, el suicida atenta siempre contra la voluntad divina y el hombre intenta erigirse en Dios al matarse. San Agustín no excusa el suicidio ni como fuga del dolor ni de la enfermedad. Ni siquiera para escapar a la violación inminente: mejor la fornicación más incómoda. Todos los padres de la Iglesia no vacilan en condenar el suicidio. En la Edad Media algunas legislaciones cristianas prescribían la mutilación del cuerpo del suicida y ordenaban la confiscación inmediata de todos sus bienes. Por supuesto ambos' castigos eran onerosos sólo a la familia del felo de se. (Este en el nombre técnico del suicida en la Inglaterra medieval.) Hasta hace poco (1961) el suicidio era un delito penado severamente por los tribunales de la Corona. De esta manera sólo era castigado el suicida fallido ― con lo que se alentaba la eficacia de suicida más que lograr disminuir las muertes por suicidio. El único sobreviviente de un pacto suicida, por ejemplo, era automáticamente considerado presunto culpable de un asesinato alevoso según una ley inglesa abolida en 1957. Ahora, más modernos, sólo se le juzga de homicidio culposo. Hasta el siglo pasado los ingleses trataban al cadáver de un suicida como los húngaros solían exorcizar a un posible vampiro: enterraban el cuerpo en un cruce de caminos con una afilada estaca hundida al pecho. Parecería que el Islam debía ser más condescendiente con el suicida árabe que el orbe judeo-cristiano. Todo lo contrario. Mahoma mismo consideraba el suicidio un crimen peor que el homicidio y castigaba al suicida saudita al infierno más temido: el desierto eterno sin el agua de Alá, el alma del suicida condenada a vagar siempre entre arenas al sol.


Otro profeta, Marx, no es menos implacable con el suicida que sus antepasados judíos o la iglesia luterana en cuya civilización se crió, o la Inglaterra victoriana en que vivió y escribió y concibió el marxismo como ciencia exacta ― aunque es en realidad otra herejía hebraica. Sus seguidores decretaron que el suicidio era contrario al comunismo, antimarxista y por tanto contrarrevolucionario. Pero no acababan de formular esta ley contra la fuga cuando se encontraron con herejes no ya entre los discípulos del Maestro sino aun en la misma Sagrada Familia. Las herejías todas siempre producen actos heréticos. La primera y mayor consternación ocurrió cuando del pacto suicida de Paul Lafargue y su mujer Laura. Al grabar las rojas tablas de la ley materialista el propio dios barbudo de Karl Marx había prohibido el suicidio con la amenaza, de expulsión eterna del partido y por lo tanto de la historia. Sólo se admitía, renuente, como un último recurso no individual sino revolucionario. La pistola en la sien debía servir para disparar por última vez contra el bastión burgués desde las barricadas revolucionarias. Pero, ironías de la historia (y aun de la pequeña historia marxista) Laura Lafargue se llamó de soltera Laura Marx y era la hija preferida del viejo Karl, a quien ella llamaba el Moro por su piel cetrina. Aun más interesante es que detrás de la máscara de ese Paul Lafargue afrancesado se escondía un pobre Pablo. Lafargue era un mulato santiaguero que por esos azares ― o mejor andares ― del cubano rebelde vino a integrarse a la numerosa prole prúsica de Marx, ahora lar londinense. Los Marx llamaban a Lafargue el Negrito, aunque siempre a espaldas de Laura. En el proceso ideológico póstumo que siguió al doble suicidio de los Lafargue, el acusador after the fact de los suicidas fue un apóstol alemán del marxismo, August Bebel, viejo comunista, amigo de Marx y autor de un libro de éxito victoriano que las mujeres de entonces leyeron ávidas. No era una novela romántica sino todo un tratado alemán con el título de La mujer y el socialismo. Sería estropear mi tesis de una ideología cubana del suicidio si tuviera que decir que Herr Augustus terminó sus días lanzándose de su torre de Babel. Nunca lo hizo: murió de viejo.

Sin embargo, a pesar del juicio marxista hubo otro herético entre los Marx. La tercera hija de Karl que llegó a ser adulta, la más desgraciada de todas, casada con otro marxista (los jóvenes comunistas de la época se comportaban ante la familia Marx como pretendientes a una casa real europea ― ¿ pero es que no lo era? ―), el abusado irlandés Edward Eveling, ella también cometió el pecado nefando al acabar con sus días de Marx y de mal vivir.

Estos viejos trapos sucios de la familia Marx se lavaron a la luz de las noches blancas rusas en ocasión del patético suicidio de Adolf Yoffe, quien se dio un tiro en la sien en un pasillo del Kremlin. Yoffe, enfermo y arruinado políticamente por Stalin, no vio más salida del Kremlin que el suicidio. Stalin le había prohibido la fuga de Rusia a pesar de que de este viaje dependía su vida física. Debía ir al extranjero a curarse de una enfermedad incurable para la ciencia soviética. (Pero no, al parecer, para la medicina burguesa.) La muerte que escogió hizo olvidar la vida que tuvo que vivir: en la enfermedad, en la iniquidad de servir bajo Stalin, zar incipiente, y el peor tirano, el dolor. Sólo se vio el dilema de un revolucionario que se suicida: un utópico que rechaza la vida futura para escoger la muerte y un materialista que es un felo de se. Stalin resolvió el problema con una solución dicha con esa sorna (sarcasmo) que ya comenzaba a ser su mejor arma política. La sorna es el único sentido del humor permitido al tirano: Stalin tenía sorna a torrentes. "Los marxistas no se suicidan ", sentenció el camarada Stalin al que cantó general Neruda. "No se ha suicidado un marxista, se ha suicidado un trotskista" ― que es lo que fue el pobre Yoffe: judío, intelectual y la primera víctima de Stalin como verdugo político. Pero el de Yoffe no fue el único suicidio que resonó en el Kremlin: allí se suicidó también Nadia AIIiluyeva, no una trotskista sino la segunda mujer de Stalin. Treinta años después este suicidio tan privado que se convirtió en oculto se haría escándalo internacional en las memorias de su hija, Svetlana Stalin.

Siguiendo a Freud, que explica tan dogmáticamente como Marx condena, el suicidio está siempre ligado a la depresión ― clínica o "normal". Son los deprimidos los que más a menudo se matan y algunos freudianos diagnostican que sólo se suicida el deprimido. Así un suicidio por exaltación, a lo Dostoievski, es virtualmente imposible. Aunque, como dijo Borges, Dostoievsky sigue siempre su teoría de que nadie es imposible. Pero los freudianos no se detienen aquí: Freud rushed in where Engels feared to tread. Para perturbación de aquellos marxistas que contemplen la idea del suicidio en el trópico hay un sequitur que parece un non sequitur. La depresión y el suicida sólo se entienden en términos de impulsos contra el otro (el infierno son los otros, según Sartre: el otro multiplicado), impulsos que se vuelven siempre contra el ser. O contra el hombre. (O mejor aún, contra el héroe proletario hecho mártir por propia mano.) Se libra entonces una lucha entre el ego y el superego, con el triunfo final ― o la derrota ― del ego superior. El suicidio es un continuum de fuerzas de agresión y autoagresión. (Pavese, escritor y suicida, que debe saber lo que decía, dijo que el suicida era un asesino tímido.) Según un freudiano apocalíptico el suicidio tiene tres elementos (una suerte de trinidad infernal), que son: 1- el deseo de matar, 2- el deseo de ser matado, 3- el deseo de morir. Es evidente que la "realización del segundo deseo conlleva a su vez el cumplimiento cabal del tercero ― pero a los freudianos les gusta explicar lo obvio, complejo típico. Pero mis digresiones no ocultan que esta teoría del suicidio ha tomado prestado sin declararlo a la fábula india de la pata del mono dramático, siempre letal. Otro vienés, Louis Dublin, propuso que las causas del suicidio son los sentimientos de miedo, de inferioridad y el deseo de muerte contra ese otro con que el individuo se identifica. Siguió, desde Dublin, con una sarta (serie) en jerga psicoanalítica que es innecesario copiar o repetir, me parece. Curioso que todos estos freudianos y Freud mismo nunca hayan explicado por qué se suicidan tantos analistas, entre ellos teóricos eminentes como Wilheim Stekel y Anna Freud, su hija. Aun el gran viejo, Freud no Marx, cometió un suicidio lento al saber que tenía un cáncer incipiente en la boca y no haber dejado nunca, hasta el final, el hábito de fumar puro tras puro, habanos capaces de dar cáncer en boca cerrada, como la de Freud ante el sofá. Lástima que no se fabriquen puros freudianos en La Habana capaces de dar cáncer al cáncer de tanta boca abierta en la tribuna.

Emile Durkheim, contemporáneo de Freud, en su opus magnum sobre el suicidio, llamada naturalmente El suicidio (1897), clasifica a los suicidas en dos grupos: egoístas y anómicos, los primeros característicos de nuestra sociedad, mientras que el suicida altruista (para sorpresa de los marxistas) es propio de las sociedades primitivas: casi como decir que el egoísmo es la última etapa del socialismo. Como se sabe Marx castigó el egoísmo con una frase digna de Dante el teólogo y llamó a su elemento natural, contrario al fuego militante, "las aguas heladas del cálculo egoísta". El suicida sin duda se zambulle (mergulha) en esas aguas al hacer su último cálculo, ¿ Por qué se suicida entonces el comunista, animal que después de leer a Marx no sólo ataca al hombre sino que se hiere mortalmente a sí mismo? Debe de haber una explicación marxista, es decir filosófica. No hay una.

La conocida opinión de Albert Camus cuando filosofa existencial, en que declara que hay un sólo problema filosófico, el del suicidio, no es más que una frase que se le ha hecho frase hecha ― es decir tomada siempre fuera de contexto. Pero aun en su contexto no es más que una frase francesa, que suelen ser a menudo como bolas de Navidad: brillantes y vacías. [De pasada Camus en una nota al pie habla de un "suicidio honorable" y menciona como ejemplo de esa tendencia a los suicidas políticos, "llamados de protesta, " en la revolución china ― que es por cierto la revolución de Mao que la quería tan permanente que la paralizó. Para Fidel Castro, circa 1965, Mao no era más que un viejo gagá ― queriendo ser más moscovita que el Kremlin]. Camus era un ensayista que quería ser tomado por filósofo, un novelista que pasaba por pensador grave (Dostoievsky que se hunde en su Sena) y un dramaturgo a quien todos los diálogos se le convertían en un intercambio de frases dichas, una liga de nociones que no son más que bons mots, tan felices o fáciles como los epigramas de Oscar Wilde ― teatrista a quien se le reprochó siempre sus golpes de teatro ligero. Camus ofrece en cambio golpes de filosofía fatalista que no abolirán a Wilde. Según Camus juzgar si la vida vale o no la pena de ser vivida es responder a la cuestión fundamental de la filosofía. Hay tantas cuestiones fundamentamentales en la filosofía que encontrar una sola es excluir impertinente las más pertinentes. Para Platón, por ejemplo, el suicidio de Sócrates no responde a una pregunta filosófica sino que las origina todas. Hay más cosas en la filosofía que entre el cielo y la tierra, como bien sabía Horacio, buen estudiante que no quiso ser grosero con el vago Hamlet, entre otras cosas, porque éste era príncipe heredero: amenazaba con ser rey un día. Sin embargo el recurso del suicidio sí es el problema fundamental de la política, aun en tiempos no de hambruna sino de huelgas de hambre a morir como arma política. ¿ Vale la pena la lucha continua o es mejor salir a tiempo por la puerta estrecha del suicidio hacia las inmensas praderas de la historia que cada ideología promete a sus fieles como el paraíso del creyente? Aun para los fanáticos de la revolución permanente, los hijos de Trotsky, hay una única pregunta, la que tiene una sola respuesta decisiva: esa de escoger entre la historia eterna o la nada. Una respuesta colectiva reciente es la banda Baader-Meinhof, que a todos asombró porque los asombrados no tenían noción de la historia cubana. En Cuba hace rato que muchos revolucionarios viven al borde de esa clandestinidad permanente. Hamlet sería mal filósofo y peor político pero su To be or not to be es todavía el problema cubano.

Si la teoría del suicidio es de estudio fácil para Camus, como lo es de dura práctica para Hamlet, la etiología del suicidio es de difícil definición a psiquiatras, psicólogos y psicoanalistas ― pragmáticos como teóricos, empiricistas como médicos. Inadmisible para religiosos y materialistas por igual, el suicidio deja de ser un indefinible problema cuando se le observa como ideología absoluta y pasa a ser del dominio histórico. En Cuba, al principio de la toma del poder por Fidel Castro, se quiso sustituir la ideología por la práctica. Era, simplemente, la ignorancia que no se atreve a decir su nombre ― porque, entre otras cosas, no lo sabe pronunciar. De esta ignorancia primitiva (elogiada por ese vidente ciego evidente que era Sartre) se pasó a inciertos balbuceos ideológicos (dichos y hechos del Che), a aprenderse la cartilla marxista y a silabear algunos apotegmas de Marx como consignas. (De paso hay que decir que nadie sabía qué era un apotegma y muy pocos lograron pronunciar esta palabra extranjera sin caer en ridículas caricaturas verbales: apatema, arpotema ― esta última versión sin duda contaminada de otro Marx, Harpo. Se decidió entonces que apotegma era un instrumento de uso burgués (como el cuchillo de pescado). Luego vinieron los tiempos serviles de ubicarse dentro del estrecho corset (corpete) ideológico ruso, aparato concebido, diseñado y fabricado por un tal Zozo Yugazvili, alias Stalin, modista marxista. Por supuesto Fidel Castro nunca tuvo que acomodarse siquiera a un miriñaque (saia-balão) moscovita porque el Máximo Líder está más allá de la teoría: él es práctica pura, ese lugar de la geometría del espíritu hegeliano en que toda práctica, aun la impráctica, se hace teoría y es fons et origo (fonte e origen) de todo pensamiento correcto ― que, por supuesto va corrigiendo su corrección, como una brújula política, según las circunstancias. Este manantial de toda sabiduría va cambiando de fuente pero no es más que el viejo baño en el ]ordán histórico, inmersión purificadora capaz de bautizos o de zambullidas. Con Fidel Castro, además de la pura práctica, bastó una declaración como tesis de grado para culminar su graduación summa cum laude: " ¡ Yo soy y siempre he sido marxista leninista!" Este exabrupto es como anunciar desde la tribuna al ágora: "Siempre he sido neoplatónico" ― sin siquiera haber oído hablar nunca de Plotino ni leído un sólo dialogo de Platón o aun un título. Por supuesto sin hablar griego tampoco: para Fidel Castro toda filosofía es griego. ¿Subdesarrollo o ignorancia? Simplemente teoría y práctica del oportunismo político. En 1939 Castro habría hablado de Goebbels y de Rosenberg como ideólogos de la teoría nueva.


Más tarde hubo un regreso ― corso ricorso (sequência e recorrência segundo Vico) en un baile de San Vico, mal histérico ― ideológico o un intento de una ideología a partir del estatismo soviético, en que todo movimiento práctico se ve como revisión del marxismo. Este revisionismo se cometía frente a alguien como Fidel Castro cuya única contribución a la teoría de Marx según Stalin no es una interpretación novedosa sino una nueva pronunciación de esta filosofía como marxismo-leninismo. Las eses salían sobrando pero la crítica y aun el comentario ocasional se oían de veras como una amenaza al líder total en Cuba totalitaria. Insistir en la crítica, cualquier crítica, es siempre un acto suicida, como se ha visto en casos tan diversos como el de Che Guevara, Alberto Mora y Javier de Varona, todos diferentes suicidas pero un mismo suicidio. O esa suicida magna que es Haydée Santamaría, cuyo suicidio conmovió al régimen durante diez días ― no por sentimiento ante el camarada caído sino por su significación política, su significado de ídolo que se quiebra. Hay además los muchos muertos menores, fantasmas del comunismo que recorren la isla de Cuba con un lema: "Comunistas de Cuba, suicidáos. No tenéis nada que perder más que la tapa de vuestras cabezas."

La práctica del suicidio es la única y, por supuesto, definitiva ideología cubana. Una ideología rebelde ― la rebeldía permanente por el perenne suicidio. Martí sería así nuestro Trotsky temprano: ideólogo, político, guerrillero fallido pero suicida certero, el felo de se con fe en la tumba abierta. ¡ A la victoria por el sepulcro! ¡Muerte o muerte! ¡Pereceremos! (Se oyen, se oirán siempre, las notas del Himno Nacional, cantado por un coro lejano de voces de ultratumba: "Cubano, a morir por propia mano/ Que morir por la patria es morir. ")

Publicado em Revista Vuelta nr. 74 de janeiro de 1983.

Em uma nota posterior ao artigo sobre o Suicídio em Cuba, Cabrera Infante informa sobre o destino de Rafael Del Pino, amigo e companheiro de Fidel Castro em duas organizações: a Federação Estudantil Universitária (FEU) e a União Insurrecional Revolucionária (UIR). Del Pino era o líder, Fidel o seguidor. Ambos estiveram em Bogotá em 1948 em evento político para boicotar uma reunião da Conferência Panamericana que originou a OEA. Descobriu-se que as passagens aéreas tinham sido pagas por Perón. Durante as manifestações ocorreu o assassinato de Gaytán [Jorge Eliécer Gaitán, político colombiano dissidente do partido liberal e altamente popular] e o linchamento de seu assassino chamado Juan Sierra. Ambos os companheiros tiveram que buscar asilo na Embaixada Cubana de Bogotá em decorrência desses acontecimentos [A trágica morte de Gaitán provocou uma violenta reação popular conhecida como El Bogotazo que destruiu 142 edificações do centro de Bogotá ― http://es.wikipedia.org/wiki/Jorge_Eli%C3%A9cer_Gait%C3%A1n]. Conta Cabrera Infante que a fidelidade a Fidel foi a causa de sua desgraça. O homem haveria de provar para os cubanos que seu nome era o inverso de sua personalidade. O fato é que os dois se desentenderam e Del Pino abandonou o Movimento 26 de julho e foi viver no México, acusado por Castro de traição. Com a queda de Batista, Del Pino regressa a Havana para integrar-se à revolução. Foi preso pouco tempo depois acusado de “ajudar os seguidores de Batista a abandonar Cuba”. Junto com Huber Matos foi julgado por “conspirar contra os poderes de Estado” e condenado a 30 anos de prisão. Não foi fuzilado por “generosidade revolucionária”. Del Pino cumpriu pena até 1980 quando se suicidou na prisão. Ninguém conseguiu explicar como entrou uma soga na cela do enforcado. Neste mesmo ano apareceu um informe do Ministério da Saúde dizendo que o índice de suicídios na ilha era de 21,6 por cem mil habitantes. Para efeito de comparação, o México tinha na mesma época apenas 1,8 suicídios por cem mil habitantes. Isto significa que todas as narrativas sobre a devastação do regime na vida das pessoas são apenas casos isolados de uma tragédia de milhares.


Reinaldo Arenas – Antes que Anoiteça – Ed. Record 1993, pgs 160-166.

A Central Açucareira

Em 1969 houve em uma única noite a detenção de milhares de jovens pela polícia de segurança do regime castrista. Com acusações de contra-revolucionários, esses jovens eram levados para campos de concentração, pois eram necessários para o corte de cana. Isso era chamado de mutirão, e dele participam também prisioneiros políticos e comuns. "A colheita era iminente e aqueles jovens saudáveis e de cabelos longos que se atreviam a bater perna pelas ruas foram todos presos, como outrora os índios e os negros escravos, nas plantações de açúcar... Nunca mais aqueles adolescentes voltaram a ser o que eram antes; após tanto trabalho e vigilância, transformaram-se em fantasmas escravizados que nem tinham direito às praias, muitas das quais foram cercadas e transformadas em retiros privados para oficiais do exército castrista ou para turistas estrangeiros." (pg. 159). Castro nunca conseguiu os 10 milhões de toneladas de cana nos anos 70 embora chegasse perto, mas graças ao depoimento de Reinaldo Arenas sabemos como a produção aumentou; em 2010 Cuba produziu cerca de 2 milhões de toneladas, indicando que o "modo de produção socialista" tinham entrado em colapso.

Nos anos setenta, também fui parar numa plantação de cana. Os oficiais da Segurança do Estado que já controlavam a UNEAC (União Nacional de Escritores e Artistas Cubanos), dentre eles o tenebroso tenente Luis Pavón, mandaram-me cortar cana e escrever um livro elogiando essa odisséia e a safra dos dez milhões, na central açucareira Manuel Sanguily, em Pinar del Río. Essa central, na verdade, era uma imensa unidade militar. Todos os que participavam do corte de cana eram jovens recrutas forçados a trabalhar nesse local. Tratava-se de uma armadilha do castrismo: transformar o serviço militar obrigatório, em tempos de paz, num tipo de trabalho forçado que abastecia a agricultura de mão-de-obra. Abandonar aquelas plantações podia representar, para qualquer um dos rapazes, de cinco a trinta anos de cadeia.

A situação era realmente desesperadora. Para quem não passou por isso, não é possível compreender o que significa estar ao meio-dia numa plantação de cana cubana e morar em barracões como os escravos. Levantar-se às quatro da madrugada, pegar um facão e um cantil de água e sair de caminhão para trabalhar o dia inteiro, sob um sol ardente, no meio daquelas folhas afiadas dos canaviais, que produzem uma coceira insuportável. Entrar num daqueles lugares era como penetrar no último círculo do Inferno.

Ali, completamente cobertos dos pés à cabeça, de mangas compridas, luvas e chapéu ― única maneira de conseguir entrar naqueles lugares infernais―, podíamos entender por que os índios preferiam o suicídio a continuar trabalhando como escravos; entender por que tantos negros tiravam a própria vida por asfixia. Agora eu era esse índio, eu era o negro escravo, mas não estava só; estava junto com centenas de recrutas. Talvez fosse mais patético vê-los do que me ver, porque já vivera alguns anos de esplendor, embora clandestinamente; mas esses rapazes de dezesseis ou dezessete anos, tratados como burros de carga, não tinham nenhum futuro pela frente e nenhum passado para trás. Muitos cortavam a própria perna ou o dedo com facão, faziam qualquer barbaridade para serem dispensados do corte da cana. A visão de tanta juventude escravizada foi o que inspirou meu poema El central. Lá mesmo redigi essas páginas; não podia permanecer como testemunha silenciosa de tanto horror.

Eu tinha visto os julgamentos em que se condenavam a vinte ou trinta anos de cadeia aqueles rapazes, pelo único fato de terem ido visitar a família, a mãe ou a noiva durante um fim de semana. Agora, eram julgados por um conselho de guerra como desertores. A única saída que lhes restava era aceitar o plano de reabilitação, ou seja, voltar à plantação de açúcar, agora por tempo indeterminado, na qualidade de escravos. E tudo aquilo acontecia no país que se proclamava o Primeiro Território Livre da América.

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Havia, sem dúvida, um quê de magia naquele ambiente, e era a paisagem que nos cercava; a paisagem da parte norte de Pinar deI Rio era uma paisagem vulcânica, com altas montanhas de pedras azuis que se erguiam do chão. Era uma paisagem aérea, com uma brisa leve e fina, como nunca pude sentir em Oriente, que é um lugar de terra escura e vegetação negra. Sim, sem qualquer dúvida, apesar de tanto horror, era um consolo poder olhar para aquelas montanhas aéreas, envoltas em neblina azul.

Comecei a escrever um diário, o "Diário de Ocidente", onde contava os acontecimentos do dia: a conversa com um recruta, o caso de outro que cortou o pé para conseguir cinco dias de folga, outro que foi condenado a dez anos de cadeia. O barracão onde nós, escravos, dormíamos, era um lugar cheio de beliches colocados uns em cima dos outros, feitos de pau e lona, com uma espécie de prateleira onde se guardavam os poucos pertences do recruta: uma lata de leite condensado era um privilégio, um caderno e um lápis eram objetos de luxo. Durante as noites, era uma festa conseguir um pouco de açúcar, apesar de estarmos numa plantação de cana muito produtiva; queríamos improvisar um café com a borra roubada da cozinha, ou um chá de folhas de laranja.

De dia, o barracão parecia uma espécie de hospital onde só podiam ficar os doentes e o chefe, isto é, o homem que vigiava os outros. Esses pacientes eram pessoas a quem faltava um braço, ou doentes graves que aguardavam transferência para uma clínica ou um hospital; isso podia demorar meses e às vezes nunca acontecia. Durante o dia, podiam dormir ali os recrutas que trabalhavam à noite nos caminhões de transporte da cana. Esses eram quase privilegiados.

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À noite, houve um temporal terrível que trouxe ainda mais mosquitos, o que tomou a vida naquele lugar ainda mais infernal. Como se não bastasse suportar os canaviais durante o dia, era preciso participar da sua queima à noite. Tínhamos que acelerar as metas porque era preciso chegar aos dez milhões de toneladas de açúcar; a data limite se aproximava cada vez mais, e as possibilidades de alcançar a meta ficavam cada vez mais remotas. Assim, a ordem oficial era queimar a fim de acelerar o processo de corte, com as canas já desfolhadas pela ação do fogo.

A queima de um canavial à noite era um espetáculo horrível. Milhões de aves, insetos, répteis e toda sorte de seres, saindo apavorados daquelas chamas, e nós tentando controlar o fogo, com corpos suados, ardentes e excitados.

No dia seguinte, tínhamos que penetrar na plantação recém queimada, como personagens medievais, cobertos de novas armaduras: botas, cinturões, capacetes com uma espécie de viseira para evitar que a cana queimada ferisse nossos olhos. E começávamos a cortar sobre o solo fumegante, onde ainda havia cana ardendo.

Até mesmo para beber um pouco de água tínhamos que pedir permissão ao tenente, que nos vigiava como um capataz. Às vezes, chegava algum visitante ilustre nos fins de semana, um alto funcionário em seu Alfa Romeo, que fiscalizava os livros e conversava com os chefes do barracão; em seguida, ia embora de cara amarrada. Obviamente, estávamos longe dos dez milhões de toneladas de açúcar. Os recrutas e camponeses comentavam que era impossível alcançar tal cifra. Mas quem se atrevesse a dizer tal coisa publicamente era tachado de traidor; até o próprio chefe da indústria açucareira, um senhor chamado Borrego, foi exonerado por Fidel Castro, porque, meses antes do fim da colheita, disse que tecnicamente era impossível alcançar a cifra de dez milhões de toneladas. No entanto, três meses mais tarde, o próprio Fidel teve que reconhecer publicamente que não haviam sido produzidos dez milhões de toneladas de açúcar; e assim, todo aquele sacrifício fora inútil.

Os campos tinham sido devastados, milhares de árvores frutíferas e palmeiras-reais podadas para tentar produzir aqueles dez milhões de toneladas de açúcar. As centrais, por tentarem dobrar sua produtividade, também estavam arruinadas; era necessária uma fortuna para consertar todas aquelas máquinas e reiniciar a produção agrícola. O país, absolutamente quebrado, era agora a província mais pobre da União Soviética.

Castro, como sempre, recusou-se a reconhecer o erro e tentou desviar a atenção do fracasso da safra para outras áreas, dentre as quais seu ódio para com os Estados Unidos, que em sua opinião eram os verdadeiros culpados. Naquela ocasião, inventou-se a história de que uns pescadores tinham sido sequestrados por agentes da CIA numa ilha do Caribe. De repente, toda aquela multidão que cortara cana durante um ano devia agora se concentrar na praça da Revolução, ou em frente ao que tinha sido a embaixada americana em Havana, para protestar pelo suposto sequestro dos pescadores. Era grotesco ver os jovens desfilando e gritando horrores contra os Estados Unidos ― onde talvez nem se soubesse o motivo de tanta confusão. Lembro-me de ter ouvido Alicia Alonso pronunciar as palavras mais grosseiras contra o presidente Nixon; algo como: "Nixon, filho da puta, devolva nossos pescadores."

Aquilo terminou como costumam terminar todas as tragédias cubanas: numa espécie de rumba. Bonecos representando o presidente Nixon eram queimados ao som dos tambores. Distribuíam-se comida e cerveja, coisas inexistentes no mercado; o povo comparecia para comer batata frita ou outra coisa qualquer. Por outro lado, as pessoas eram recrutadas por seus comitês de defesa. Assim, de repente, o povo esqueceu o fracasso da safra. O mais importante agora era conseguir que os pescadores, supostamente seqüestrados, fossem devolvidos. Após uma semana, os pescadores apareceram e Fidel pronunciou um discurso "heróico", onde dizia que conseguira intimidar os Estados Unidos, que haviam devolvido os pescadores. Tudo aquilo era muito patético e ridículo; se os pescadores tiveram algum problema, foi simplesmente porque violaram os limites das águas territoriais de uma ilha, que nem pertencia aos Estados Unidos, e sim à Inglaterra; após uma investigação mais detalhada, eles foram devolvidos a Cuba. Mas o espetáculo teatral tem sido sempre uma das brincadeiras praticadas por Castro. Dessa maneira, aqueles pescadores voltaram como heróis, fugindo das garras do imperialismo norte-americano.

Naquele ano, realizaram-se grandes festejos carnavalescos nos quais foram gastos os poucos recursos econômicos ainda restantes. Desfilaram carros gigantescos com animais de todo tipo; alguns eram enormes aquários cheios de peixes tropicais, em cima dos quais encontravam-se mulheres seminuas, dançando ao som dos tambores. A festa prolongou-se por um mês e houve cerveja à vontade, distribuía-se comida em cada esquina. Era preciso esquecer a qualquer preço o ridículo pelo qual Cuba acabava de passar: todo o esforço daqueles anos fora inútil e éramos um país absolutamente subdesenvolvido, a cada dia mais escravizado.



O Mundo Alucinado de Reinaldo Arenas - Ed. Record. pgs. 306-314

Durante os primeiros dias de 1980, um chofer de ônibus, da linha 32, atirou-se com todos os passageiros contra a porta da embaixada do Peru, solicitando asilo político. O mais estranho foi que os passageiros também resolveram pedir asilo político; ninguém quis sair da embaixada.

Fidel Castro chamou de volta todas aquelas pessoas, mas o embaixador respondeu que estavam em território peruano, e pelas leis internacionais tinham direito a asilo político. Dias mais tarde, Fidel Castro resolveu retirar a escolta cubana da embaixada do Peru, tentando talvez prejudicar o embaixador, para que precisasse ceder e mandasse sair todas as pessoas da embaixada.

No entanto, dessa vez o tiro saiu pela culatra; quando souberam que a embaixada estava sem escolta, milhares de pessoas entraram para pedir asilo político. Uma das primeiras pessoas foi meu amigo Lázaro, mas não acreditei na possibilidade de tal asilo; de fato, o próprio Jornal Granma publicara a notícia; pensei que se tratasse de uma armadilha; depois que todas as pessoas estivessem lá dentro, Castro poderia perfeitamente prender todo mundo.

Lázaro despediu-se de mim antes de ir para a embaixada. No dia seguinte, as portas já estavam fechadas; havia mais de dez mil pessoas lá dentro, e outras cem mil querendo entrar. De todas as partes do país não paravam de chegar caminhões lotados de jovens querendo entrar naquela embaixada. Fidel Castro percebeu que cometera um grave erro ao retirar a escolta da embaixada do Peru; por isso, fecharam a embaixada, assim como proibiram a entrada em Miramar de quem não fosse morador do bairro.

Cortaram a água e a luz dos que estavam na embaixada; para 10.800 pessoas, havia apenas oitocentas rações de comida. Além disso, o governo infiltrou numerosos agentes da Segurança do Estado, que chegaram a assassinar pessoas que tivessem ocupado cargos importantes no governo e que também se encontravam na embaixada. Os arredores da embaixada do Peru estavam cheios de carteiras da Juventude Comunista e do Partido, pertencentes a pessoas que já se encontravam asiladas.

O governo tentou abafar o escândalo, mas toda a imprensa mundial veiculou a notícia. Julio Cortázar e Pablo Armando Fernández, testas-de-ferro de Castro que se encontravam em Nova York naquela ocasião, chegaram a declarar que havia apenas setecentas pessoas asiladas na embaixada.

Um chofer de táxi tentou entrar de carro a toda velocidade, mas foi metralhado pela Segurança do Estado; apesar de muito ferido, ainda tentou sair do táxi e entrar na embaixada, mas foi levado num carro da polícia.

O acontecimento na embaixada do Peru passou a representar a primeira rebelião em massa do povo cubano contra a ditadura castrista. Depois, o povo tentou entrar no prédio da representação dos Estados Unidos. Todos procuravam uma embaixada para se asilar e a perseguição por parte da polícia atingiu níveis alarmantes. Por fim, a União Soviética mandou para Cuba um alto funcionário do KGB, que teve uma série de encontros com Fidel Castro.

Fidel e Raúl Castro vieram até os portões da embaixada do Peru. Pela primeira vez, Castro ouviu o povo xingando, chamando-o de covarde e criminoso; pedindo liberdade.

Foi quando Fidel mandou que fossem metralhadas todas as pessoas que já estavam há quinze dias sem comer, dormindo em pé, pois não havia espaço para deitar, sobrevivendo em meio aos próprios excrementos; diante daquele tiroteio que feriu muita gente, a resposta foi cantar o hino nacional.

Temendo que tivesse início uma revolução popular, Fidel Castro e a União Soviética decidiram que era necessário abrir uma brecha e deixar sair do país um grupo dos mais dissidentes; era como fazer uma sangria num organismo doente.

Num discurso desesperado e irado, junto com García Márquez e Juan Bosch, que batiam palmas, Castro acusou todos aqueles coitados que se refugiaram na embaixada do Peru de anti-sociais e depravados sexuais. Jamais esquecerei seu rosto de rato acossado e furioso, nem os aplausos hipócritas de Gabriel García Márquez e Juan Bosch, apoiando o crime contra os pobres prisioneiros.

O porto de Mariel foi aberto e Castro, depois de declarar que toda aquela gente era anti-social, afirmou o que queria exatamente: que toda essa escória fosse embora de Cuba. Imediatamente, começaram a aparecer cartazes, dizendo: VÃO EMBORA, A PLEBE DEVE IR EMBORA. O Partido e a Segurança do Estado organizaram uma manifestação voluntária, entre aspas, contra os refugiados que se encontravam na embaixada. O povo não teve outro jeito senão assistir àquela manifestação; muita gente foi com a intenção de ver se conseguia pular a cerca e entrar na embaixada; mas os manifestantes não podiam aproximar-se da cerca, pois havia uma fila tripla de policiais para protegê-la. Começaram então a sair, do porto de Mariel, milhares de barcos lotados rumo aos Estados Unidos. No início, não era simplesmente quem quisesse sair que podia ir embora, e sim quem Fidel Castro quisesse deixar sair: os criminosos comuns, que cumpriam pena, agentes secretos para se infiltrarem em Miami, os doentes mentais. E tudo isso foi feito à custa dos cubanos no exílio, que mandaram embarcações para buscar seus familiares. A maioria daquelas famílias em Miami gastou todas as economias para fretar barcos que trariam seus parentes; mas, quando atracavam em Mariel, Castro enchia as embarcações de marginais e loucos, os quais nem podiam levar parentes. Mesmo assim, milhares de pessoas honestas conseguiram fugir.

Para chegar ao porto de Mariel as pessoas tinham que deixar a embaixada do Peru com um salvo-conduto expedido pela Segurança do Estado, ir para casa e esperar que o próprio governo de Castro desse a permissão de saída. A partir de então, a Segurança do Estado, e não a embaixada do Peru, iria decidir quem sairia do país ou não. Muita gente resistiu e não quis abandonar a embaixada, principalmente os que estavam mais comprometidos com o regime de Castro.

As multidões organizadas pela Segurança do Estado ficavam esperando do lado de fora da embaixada, e várias vezes tiravam os documentos das pessoas que tinham conseguido sair; assim, perdiam sua condição de asilados e ainda apanhavam.

As pessoas eram agredidas não só por terem ficado na embaixada do Peru, mas também por telegrafarem pedindo que seus parentes em Miami viessem buscá-las em Mariel. Vi um rapaz apanhar até ficar completamente inconsciente, jogado na rua, pelo fato de ter saído do correio após mandar um telegrama. Essas cenas se repetiam diariamente, por toda parte, durante os meses de abril e maio de 1980.

Vinte dias mais tarde, Lázaro voltou da embaixada; estava quase irreconhecível, pois não pesava mais do que quarenta quilos. Passara por maus pedaços para não apanhar muito, mas estava morto de fome. Agora, tudo se resumia em esperar a permissão de saída do país. No dia em que ela chegou, fomos juntos de táxi até o local onde expediam os documentos, e Lázaro disse: "Não se preocupe, vou tirar você daqui, Reinaldo." Quando ele saiu do táxi, vi a multidão dar-lhe porretadas nas costas, enquanto ele corria sob uma chuva de pedras e frutas podres; em meio àquela cena, vi Lázaro desaparecer em direção à liberdade, enquanto eu permanecia ali, sozinho. No meu prédio, quase todo mundo queria sair do país, de modo que, ao voltar para casa, encontrei um outro tipo de asilo.

No meio dessa guerra civil, ocorriam coisas terríveis. Um homem, na tentativa de não apanhar, pegou o carro e lançou-o contra algumas pessoas que o atacavam. Imediatamente, um agente da Segurança do Estado alvejou-o na cabeça, matando-o. Os incidentes eram publicados no próprio Granma; o fato de alguém ter matado aquele "anti-social" era considerado como um ato heróico.

As casas dos que aguardavam permissão para sair do país eram cercadas pela multidão e apedrejadas; no Vedado, houve várias pessoas assassinadas. Todo o terror pelo qual tínhamos passado durante vinte anos alcançava agora o seu pico. Quem não fosse agente de Castro corria o maior perigo.

Diante da parede do meu quarto, tinham colocado um cartaz, dizendo: QUE OS HOMOSSEXUAIS VÃO EMBORA. QUE A ESCÓRIA VÁ EMBORA. Ir embora era exatamente o que eu queria, mas como? Ironicamente, o governo cubano insultava-nos e nos mandava embora, enquanto, ao mesmo tempo, impedia que saíssemos do país. Em nenhum momento, Fidel Castro abriu o porto de Mariel para quem quisesse sair da Ilha; seu trato foi exclusivamente deixar sair as pessoas que não pudessem prejudicar a imagem do governo; mas não deixava sair os profissionais com nível universitário, nem os escritores com livros publicados no exterior, como era o meu caso.

Entretanto, como existia uma ordem de deixar sair todos os indesejáveis, sendo que, nessa categoria, entravam em primeiro lugar os homossexuais, uma imensa quantidade deles pôde deixar a Ilha em 1980; outros se fingiram de bichas-loucas para abandonar o país pelo porto de Mariel.

A melhor maneira de se conseguir permissão de saída era arranjar alguma prova documental da condição de homossexual. Eu não possuía nada que provasse meu comportamento, mas tinha a carteira de identidade, onde constava que fora preso por perturbação da ordem pública; achei que isso representava uma excelente prova e me dirigi à polícia.

Na delegacia perguntaram se eu era homossexual e respondi que sim; perguntaram então se era ativo ou passivo, e tomei todo o cuidado em dizer que era passivo. Um amigo tivera negada a licença de saída por ter dito que era ativo; revelara apenas a verdade, mas o governo cubano não considerava os ativos como homossexuais. Estavam presentes umas psicólogas; mandaram que eu caminhasse na frente delas para provar se era bicha ou não.

Passei na prova e o tenente gritou para outro militar: "Esse aí pode mandar direto." Isso significava que não havia necessidade de passar por nenhum outro tipo de investigação política. Mandaram-me assinar um documento no qual eu afirmava sair do país por problemas estritamente pessoais e por ser indigno de viver em meio a uma Revolução tão maravilhosa quanto a cubana. Deram-me um número e mandaram que não saísse de casa. O policial que preencheu meus documentos avisou: "Agora, já sabe: se quiser dar uma festa de despedida com todo mundo nu, tem de ser na sua casa; se não estiver em casa quando a permissão chegar, vai perder a vez." Acho que esse policial teria gostado muito de ir àquela festa de despedida imaginária que sugeriu que eu desse em minha casa.

Minha saída do país fora tratada em nível de bairro, de delegacia de polícia; no entanto, os mecanismos de perseguição em Cuba não estavam ainda tão sofisticados, do ponto de vista técnico. Foi por essa razão que consegui sair sem que a Segurança do Estado ficasse sabendo; saí como mais uma bicha-louca, e não como escritor; os tiras que me deram a autorização, no meio de tanta confusão, não sabiam absolutamente nada de literatura, nem podiam conhecer minha obra, quase totalmente inédita em Cuba.

Após uma semana sem conseguir pregar olho, trancado naquele quarto onde o calor era insuportável, acabei adormecendo; no meio da noite, bateram na porta; era Marta Carriles e o pai de Lázaro, gritando: "Levante, chegou sua permissão. A gente sabia que São Lázaro ia ajudar!" Desci correndo de pijama e, de fato, na porta do edifício encontrava-se um policial com um documento. Perguntou se eu era Reinaldo Arenas; respondi que sim, o mais baixo que pude; ele deu trinta minutos para que me aprontasse e apresentasse para sair do país, num local chamado Cuatro Ruedas. Enquanto subia a escada correndo, encontrei Pepe Malas, sempre querendo saber de tudo, que disse: "Lá embaixo tem um tira atrás de você; o que será que quer?" Fingindo o maior pavor, respondi que vinham me prender mais uma vez, e que haveria outro julgamento. Falei com tal pânico na voz, temendo que ele já soubesse de tudo, que Pepe acreditou.

Naqueles dias era muito difícil chegar até Cuatro Ruedas em meia hora. Quando chegou o ônibus, prometi ao motorista uma corrente de ouro se chegássemos em menos de trinta minutos. Não parou em ponto nenhum e cheguei a tempo. Despedi-me às pressas de Fernando, pai de Lázaro, e, sempre correndo, cheguei ao local onde aguardava um militar, a quem entreguei meu cartão de racionamento e o documento que o tira me entregara em casa; ali mesmo me deram um passaporte e um salvo-conduto dizendo que eu era um dos exilados da embaixada peruana. Fui no primeiro ônibus do dia para Mariel. Para cúmulo do azar, o ônibus enguiçou no meio do caminho, e tive de esperar duas horas até a chegada de outro.

Chegamos a EI Mosquito, o campo de concentração situado perto de Mariel; o nome caía bem, tal a quantidade de mosquitos que havia no lugar. Esperamos dois ou três dias até chegar nossa vez de deixar Mariel. Encontrei por lá alguns amigos, e outros que sabia que eram policiais; fiz o possível para não ser notado. Fomos revistados, já que não podíamos levar nenhuma carta, nem o telefone de alguém nos Estados Unidos. Eu sabia de cor o número da minha tia em Miami.

Antes de entrarmos no setor das pessoas já autorizadas a deixar o país, tivemos que aguardar numa fila imensa e mostrar o passaporte a um agente da Segurança do Estado, que checava nosso nome num livro gigantesco; lá estavam Iistadas as pessoas que não podiam deixar o país, e fiquei apavorado. Rapidamente, pedi uma caneta a um vizinho na fila; como meu passaporte tinha sido feito a mão, e o e de Arenas estava muito fechado, transformei a letra em i e meu nome passou a ser Arinas; foi esse nome que o oficial procurou no livro e nunca encontrou.

Antes de embarcarmos nos ônibus que nos levariam a Mariel, outro oficial nos reuniu e explicou que estávamos saindo "limpos"; ou seja, em nenhum dos passaportes constava quaisquer registros criminais e, portanto, ao chegarmos aos Estados Unidos só precisaríamos dizer que éramos exilados da embaixada do Peru. Com toda a certeza, por trás disso tudo devia existir algo de muito sujo e desonesto; o que queriam era justamente criar uma grande confusão para as autoridades norte-americanas, para que não conseguissem saber quem era realmente exilado ou não.

Antes de subirmos nos barcos, fomos divididos em grupos: um era formado por débeis mentais, em outro iam os assassinos e marginais irrecuperáveis, em outro mais, as prostitutas e os homossexuais, e, finalmente, um grupo de jovens agentes da Segurança do Estado que seriam infiltrados nos Estados Unidos. Os barcos foram lotados com pessoas dos diferentes grupos.

É preciso lembrar que 135 mil pessoas saíram da Ilha naquele êxodo; a maioria constituída de gente como eu, que queria apenas morar num mundo livre, trabalhar e recuperar sua dignidade perdida.

Finalmente, na madrugada do dia 4 de maio, chegou a minha vez. Meu barco chamava-se San Lázaro e recordei as palavras de Marta Carriles; era uma hora da manhã. Um militar tirou várias fotos nossas, e em poucos minutos fomos nos afastando da costa. Éramos escoltados por duas lanchas da polícia cubana; tratava-se de uma medida de precaução para evitar que pessoas não-autorizadas pudessem embarcar clandestinamente. Foi então que ocorreu uma cena horrível. Um membro da guarda-costeira, bem na hora em que estávamos saindo, jogou seu fuzil na água e começou a nadar em nossa direção; rapidamente, as outras lanchas aproximaram-se do militar e lá mesmo, com suas baionetas, ele foi assassinado dentro da água.

O San Lázaro continuava se afastando da costa; a ilha foi se transformando num conjunto de luzes piscantes e logo tudo não passou de uma enorme sombra. Estávamos em mar aberto.

Para mim, que há anos desejava fugir daquele horror, era fácil não chorar. Mas havia um rapaz de dezessete anos que fora embarcado em Mariel, deixando toda a família em Cuba; ele chorava desesperadamente. Havia também mulheres com crianças, que, assim como eu, não comiam nada há mais de cinco dias. E havia também vários doentes mentais.

O capitão do barco era um cubano que fugira para os Estados Unidos vinte anos atrás; agora, voltara para buscar a família. Em vez disso, seu barco ia lotado de gente desconhecida, com a promessa de que poderia levar a família na próxima viagem. Na verdade, fazia aquele trabalho porque não tinha outro jeito; não entendia absolutamente nada de navegação; disse-me que alugara o barco para buscar a família. Para piorar a situação, não havia nada para se comer a bordo.

A viagem de Havana a Key West costumava demorar umas sete horas; entretanto, já estávamos navegando um dia inteiro e não chegávamos nunca ao bendito lugar. Finalmente, o capitão confessou que estava perdido e não sabia exatamente onde nos encontrávamos. Havia um rádio a bordo, e ele estava tentando comunicar-se com outros barcos, mas sem resultado.

No segundo dia, acabou a gasolina e ficamos à deriva em meio à correnteza do golfo do México. Estávamos há tantos dias sem comer que nem conseguíamos vomitar; só saía bílis. Um dos loucos fez várias tentativas para se atirar na água e era preciso ficar atento para ele não recomeçar, enquanto alguns ex-condenados gritavam para que se controlasse, para não ir parar em "Yuma"; o pobre louco berrava: "Que Yuma, nada de Yuma, quero ir pra casa." O pobre coitado não fazia ideia de que estávamos indo para os Estados Unidos. Os tubarões nos rodeavam, esperando que caíssemos na água para nos devorar.

Finalmente, o capitão conseguiu alcançar outro barco, o qual chamou a guarda-costeira americana, que por sua vez ordenou uma busca de helicóptero. Três dias depois, apareceu o helicóptero norte-americano; desceu quase até o nível do mar, tirou fotos nossas e logo depois partiu. Deu ordem para que fôssemos resgatados, e na mesma noite chegou um barco da guarda-costeira; lançaram cordas e subimos a bordo; amarraram nosso barco à popa deles e partimos. Serviram-nos comida e bebida, e lentamente começamos a recuperar as forças e a sentir uma profunda alegria. Chegamos finalmente a Key West.


A Vida Secreta de Fidel

Não existe na vida política latino-americana uma pessoa que tenha mais detratores e adoradores do que Fidel Castro. Este fenômeno não é apenas uma decorrência da longevidade do cubano situado no epicentro do furacão revolucionário, mas sobretudo da sua obstinada necessidade de conquistar novos países aliados que possam ser parasitados para suprir sua máquina economicida em nome de uma ideologia redentora.

Para garantir com que o fracasso se transforme em sucesso, são necessários infinitos arranjos, entre os quais a aparência, que desempenha o papel de avalista da figura do dirigente com os propósitos de sua missão. Vestir as mesmas roupas do uniforme militar, propagar a imagem de um homem simples do povo, transitar pelos lugares mais inesperados do país levando a palavra de um evangelista que propaga o valor intrínseco do sacrifício para a superação dos males causados pelo inimigo, difundir sua obstinação de luta pelo povo, eis os ingredientes que ― aliados à necessária verticalização intimidatória de toda a vida social ― formam o mito de um homem desinteressado da soberba e ostentação atribuída aos vícios burgueses e combatidas em nome do coletivismo.

A vida privada de Fidel Castro esteve condicionada a uma aparência franciscana na proporção exata de seus fracassos ideológicos. Para ser o principal líder de uma ideologia redentora, era necessário posar de sandapilário. Para justificar o fracasso de seu modelo econômico, era imprescindível aparecer como vítima esfolada no crucifixo do imperialismo. Todas estas armações conciliavam a necessidade de ocultar sua vida privada luxuriante às ameaças reais que sua tirania havia causado à própria vida.

O livro de Juan Reinaldo Sánchez mostra o que se passa na vida particular do maior caudilho latino-americano de todos os tempos. Como guarda-costas de Fidel Castro durante 17 anos, ele fala sobre o dia a dia do chefe de estado, de seus fins de semana na ilha paradisíaca de Cayo de Piedra, a bordo de um luxuoso iate confiscado do regime de Batista, de suas expedições de caça submarina, de suas duas dúzias de residências em toda a ilha, de suas amantes, e não menos importante, de sua personalidade. Não é demais repetir a metáfora já tanto tempo repisada de que Fidel Castro fez de Cuba a sua ilha privativa, dispondo de seus 11 milhões de habitantes como servos da gleba de suas terras administrada por um exército cujos dirigentes, à moda egípcia, são os proprietários das principais empresas do país.

Quando o regime instalado em um país confessa que não é permitido prosperar fora das autorizações concedidas aos camaradas no poder, que seus cidadãos não possuem o direito de circular fora de suas fronteiras, este regime destrói a possibilidade de uma organização ética da sociedade, ao forçar o povo a agir na ilegalidade como única forma de sobrevivência. E não se trata apenas de uma disjunção entre o povo e o regime. Trata-se da constatação de que o próprio regime é ilegal consigo mesmo: confirmação que termina sendo banal ao se compreender que não passa de uma quadrilha dissimulada.

Sánchez mostra que Fidel Castro dispõe de uma conta pessoal para financiar seus gastos, cujo valor se desconhece, mas que é abastecida de todos os recursos imaginados, inclusive de diamantes obtidos na epopeia africana, e até mesmo do tráfico de drogas. E para espanto geral, em ocasiões de aperto financeiro, emprestou dinheiro de sua conta pessoal para o Banco Nacional de Cuba com juros de 10% ao ano.

A veracidade de A Vida Secreta de Fidel está na descrição dos acontecimentos vivenciados por seu guarda-costas. Sánchez descreve corretamente alguns episódios que já conhecemos de outras narrativas de exilados, como a invasão da embaixada do Peru em 1980 [ver item "4 - Mariel" acima], a atividade de preparação de líderes guerrilheiros em Cuba, a ingerência cubana no Chile (ainda antes de entrar para a guarda pretoriana castrista), na Nicarágua e depois na Venezuela, o caso Ochoa e muitos encontros com líderes e personalidades internacionais, comprovando o acerto de suas referências.

Sua linguagem é simples e assertiva como se espera de uma mente militar treinada, e não se observa traços de ressentimento ou difamação vulgar. Mesmo caído em desgraça, tendo sido torturado e condenado a dois anos de prisão e quase ter sido eliminado pelo processo de provocar o agravamento de uma doença no lugar de sua cura (recurso que em Cuba se tornou uma especialidade para as mortes nos cárceres infectados), e ainda ter que passar mais de dez anos preparando a fuga, Sánchez consegue descrever com sinceridade sua admiração por Fidel Castro, sua devoção a causa da revolução e, por fim, sua decepção e desilusão, sua mudança de valores em face da perseguição sofrida por ter uma filha casada com um venezuelano que abandonou a ilha, e de seu irmão, que sendo membro do regime, subitamente fugiu de Cuba como balseiro. As tiranias são extremamente zelosas da importância atribuída aos laços de sangue. Um membro dissidente em uma família já é motivo de suspeição e rejeição para qualquer cargo de alta importância estratégica. Menos para os donos do regime, como é o caso de Fidel, que desde o começo da revolução teve em sua irmã Juanita, uma das mais acirradas críticas de seu regime.