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21 de outubro de 2016

RACISMO

Ayn Rand

(Setembro de 1963)

O racismo é a forma mais baixa e mais cruelmente primitiva de coletivismo. É a noção de atribuir significado moral, social ou político à linhagem genética de um homem — é a noção de que os traços caracterizadores e intelectuais de um homem são produzidos e transmitidos por sua química corporal interna. O que quer dizer, na prática, que um homem deve ser julgado, não por sua índole ou ações, mas pelas índoles e ações de um coletivo de antepassados.

O racismo afirma que o conteúdo da mente de um homem (não seu aparato cognitivo, mas seu conteúdo) é herdado; que as convicções, caráter e valores de um homem são determinados antes de seu nascimento, por fatores físicos além de seu controle. Esta é a versão do homem das cavernas da doutrina das ideias inatas — ou do conhecimento herdado —, a qual tem sido completamente contestada pela filosofia e pela ciência. O racismo é uma doutrina de, por e para brutamontes. É uma versão de quintal ou de fazenda de gado do coletivismo, apropriada à mentalidade que diferencia várias raças de animais, mas não animais e homens.

Como toda forma de determinismo, o racismo invalida o atributo específico que distingue o homem de todas as outras espécies vivas: sua faculdade racional. O racismo nega dois aspectos da vida do homem; razão e escolha, ou inteligência e moralidade, substituindo-os por predestinação química.

A família respeitável que sustenta parentes imprestáveis ou os crimes destes a fim de “proteger o nome da família” (como se a estatura moral de um homem pudesse ser prejudicada pelos atos de outro) — o vagabundo que se gaba de que seu bisavô foi um construtor de impérios, ou a solteirona do interior que se gaba de que seu tio materno era um senador estadual e de que seu primo em terceiro grau deu um concerto no Carnegie Hall (como se as realizações de um homem pudessem remover a mediocridade de outro) — os pais que procuram árvores genealógicas a fim de avaliar seus futuros netos — a celebridade que inicia sua autobiografia com um detalhado relatório de sua história familiar — todos estes são exemplos de racismo, as manifestações atávicas de uma doutrina cuja total expressão é a guerra tribal de selvagens pré-históricos, o massacre em massa da Alemanha Nazista, as atrocidades das chamadas “nações emergentes” atuais.

A teoria que sustenta “o sangue bom” ou “o sangue mau" como um critério moral-intelectual somente pode levar a derramamento de sangue, na prática. A força bruta é o único canal de ação aberto aos homens que consideram a si mesmos agregados descuidados de substâncias químicas.

Os racistas modernos tentam provar a superioridade ou a inferioridade de uma suposta raça através das realizações históricas de alguns de seus membros. O espetáculo histórico frequente de um grande inovador que, em sua existência, é zombado, denunciado, bloqueado, perseguido por seus compatriotas e que, então, poucos anos após morrer, é posto num santuário de um monumento nacional e saudado como uma prova da grandeza da raça alemã (ou francesa ou italiana ou cambojana) — é tão revoltante quanto um espetáculo de expropriação coletivista, perpetrado pelos racistas, quanto qualquer expropriação de riqueza material perpetrada pelos comunistas.

Assim como não há uma mente coletiva ou racial, também não existe realização coletiva ou racial. Há apenas mentes individuais e realizações individuais — e uma cultura não é um produto anônimo de massas indiferenciadas, mas o total de realizações intelectuais de homens individualmente considerados.

Mesmo se fosse provado —: o que não é o caso — que a incidência de homens de poder mental potencialmente superior é maior entre os membros de certas raças do que de outras, isto ainda não nos diria nada sobre nenhum suposto indivíduo, e seria irrelevante para o seu julgamento. Um gênio é um gênio, independentemente do número de retardados mentais que pertençam à mesma raça — e um retardado mental é um retardado mental, independentemente do número de gênios que têm a mesma origem racial. É difícil dizer qual é a injustiça mais ultrajante: a reivindicação dos racistas sulistas de que um gênio negro deve ser tratado como inferior, porque sua raça “produziu” alguns brutamontes — ou a reivindicação de um brutamontes alemão ao status de superior porque sua raça “produziu” Goethe, Schiller e Brahms.

Essas não são duas reivindicações diferentes, é claro, mas duas aplicações da mesma premissa básica. A questão de alguém alegar superioridade ou inferioridade de suposta raça é irrelevante: o racismo possui apenas uma raiz psicológica: o senso do racista de sua própria inferioridade.

Como toda forma de coletivismo, o racismo é uma procura pelo não-obtido. É uma procura pelo conhecimento automático — por uma avaliação automática das índoles dos homens que desviam a responsabilidade de exercitar o julgamento racional ou moral — e, acima de tudo, uma procura por uma autoestima automática (ou pseudo-autoestima).

Atribuir às virtudes de alguém a sua origem racial é confessar que não se possui conhecimento do processo pelo qual elas são adquiridas e, mais frequentemente, que se fracassou em adquiri-las. A esmagadora maioria dos racistas é constituída de homens que não obtiveram nenhum senso de identidade pessoal, que não podem reivindicar nenhuma realização ou distinção individual e que buscam a ilusão de uma “autoestima tribal”, alegando a inferioridade de alguma outra tribo. Observe a intensa histeria dos racistas sulistas; observe também que o racismo é muito mais predominante entre a escória branca pobre do que entre os seus experientes intelectuais.

Historicamente, o racismo sempre aumentou ou decaiu com o aumento ou queda do coletivismo. Este sustenta que o indivíduo não tem direitos, que sua vida e trabalho pertencem ao grupo (à “sociedade" à tribo, ao Estado, à nação), e que o grupo pode sacrificá-lo aos seus próprios caprichos e interesses. A única maneira de implementar uma doutrina deste tipo é através da força bruta — e o estatismo sempre foi o corolário político do coletivismo.

O Estado absoluto é simplesmente uma forma institucionalizada de um regime de gangues, independentemente de qual gangue em particular mantenha o poder. E — já que não há justificativa racional para esta regra, já que nada foi ou pode ser oferecido — a mística do racismo é um elemento crucial para toda variante do Estado absoluto. O relacionamento é recíproco; o estatismo vem das guerras tribais pré-históricas, da noção de que os homens de uma tribo são presa natural para os de outra — e estabelece suas próprias subcategorias internas de racismo, um sistema de castas determinadas pelo nascimento de um homem, assim como os títulos de nobreza ou a servidão, herdados.

O racismo da Alemanha Nazista — onde os homens têm de preencher questionários sobre seus ancestrais, a fim de provar sua descendência Ariana — tem seu complemento na Rússia Soviética, onde os homens têm de preencher questionários similares para mostrar que seus ancestrais não possuíam nenhuma propriedade e, assim, provar sua descendência proletária. A ideologia soviética repousa na noção de que os homens podem ser geneticamente condicionados ao comunismo — isto é, que algumas gerações condicionadas pela ditadura transmitirão a ideologia comunista aos seus descendentes, os quais serão comunistas ao nascer. A perseguição das minorias raciais na Rússia Soviética, de acordo com a descendência racial e capricho de qualquer comissário de plantão, é uma questão de registro; o antissemitismo é particularmente predominante — mas agora as perseguições oficiais são chamadas de “depurações políticas”.

Há apenas um antídoto para o racismo: a filosofia do individualismo e seu corolário político-econômico, capitalismo laissez-faire.

O individualismo considera o homem — todos os homens — como uma entidade soberana, independente, que possui um direito inalienável a sua própria vida, direito este derivado de sua natureza de ser racional. Ele sustenta que uma sociedade civilizada, ou qualquer forma de associação, cooperação ou coexistência pacífica entre os homens, pode ser atingida somente com base no reconhecimento dos direitos individuais — e que um grupo, como tal, não possui direitos, a não ser os direitos individuais de seus membros.

Não são os ancestrais ou os parentes ou os genes ou a química corporal de um homem que contam num mercado livre, mas apenas um atributo humano: habilidade produtiva. É por sua própria habilidade e ambição individual que o capitalismo julga um homem e o recompensa correspondentemente.

Nenhum sistema político pode estabelecer a racionalidade universal pela lei (ou força). Mas o capitalismo é o único sistema que funciona de maneira a recompensar a racionalidade e penalizar todas as formas de irracionalidade, incluindo o racismo.

Um sistema capitalista totalmente livre ainda não existiu em lugar nenhum. O que tem grande significado, porém, é a correlação de racismo e controle político, na economia semi-livre do século XIX. Às perseguições raciais e/ou religiosas das minorias mantiveram-se em proporção inversa ao grau de liberdade de um país. O racismo foi mais forte nas economias mais controladas, como na Rússia e Alemanha — e mais fraco na Inglaterra, o país mais livre da Europa, na época.

Foi o capitalismo que proporcionou à humanidade dar seus primeiros passos em direção à liberdade e a uma maneira racional de vida. Foi o capitalismo que atravessou as barreiras raciais e nacionais, por meio do comércio livre. Foi o capitalismo que aboliu a servidão e a escravidão em todos os países civilizados do mundo. Foi o Norte capitalista que destruiu a escravidão do Sul agrário-feudal dos Estados Unidos.

Essa foi a tendência da humanidade pelo breve período de alguns cento e cinquenta anos. Seus resultados e conquistas espetaculares não precisam de reafirmações, aqui.

O aumento do coletivismo reverteu essa tendência.

Quando os homens começaram a ser doutrinados, mais uma vez, com as noções de que um indivíduo não possui direitos, de que a supremacia, a autoridade moral e o poder ilimitado pertencem ao grupo, e de que o homem não possui significância fora de seu grupo — a consequência inevitável foi começar a gravitar na direção de um grupo ou outro, em autoproteção, perplexidade ou terror subconsciente. O coletivo mais simples para se engajar, aquele de mais fácil identificação — particularmente para pessoas de inteligência limitada —, a forma menos exigente de “pertencer” e de “camaradagem”, é: raça.

Foi deste modo que os teóricos do coletivismo, os defensores do “humanitarismo” de um Estado absoluto “benevolente”, levaram ao renascimento e novo e virulento crescimento do racismo no século XX.

Nessa grande era do capitalismo, os Estados Unidos foram o país mais livre sobre a Terra — e a melhor refutação das teorias racistas. Homens de todas as raças vieram para cá, alguns de países obscuros, culturalmente sem distinção, e executaram façanhas de habilidade produtiva que teriam ficado natimortas em suas pátrias dominadas pelo controle. Homens de grupos raciais que estiveram massacrando-se uns aos outros por séculos, aprenderam a viver juntos em harmonia e cooperação pacífica. A América foi chamada de “o cadinho”, por boas razões. Mas poucas pessoas perceberam que a América não fundiu os homens na conformidade cinzenta de um coletivo: ela os uniu por meio da proteção dos direitos à individualidade.

As maiores vítimas deste preconceito racial, que certamente existiu na América, foram os negros. Tratou-se de problema originado e perpetrado pelo Sul não-capitalista, ainda que não confinado às fronteiras. A perseguição dos negros no Sul foi e é verdadeiramente vergonhosa. Mas, no resto do país, visto que os homens eram livres, até mesmo este problema foi vagarosamente cedendo sob a pressão do esclarecimento e dos próprios interesses econômicos dos brancos.

Hoje, este problema está-se agravando — assim como todas as outras formas de racismo. A América tornou-se consciente, no que se refere a raças, de uma maneira remanescente dos piores dias dos países mais atrasados da Europa do século XIX. A causa foi a mesma; o crescimento do coletivismo e do estatismo.

Apesar do clamor por igualdade racial, propagada pelos “liberais” há poucas décadas atrás, o Bureau de Censo relatou recentemente que “o status econômico [do negro] em relação ao branco não melhorou por aproximadamente vinte anos”. Vem-se igualando nos anos mais livres de nossa “economia mista”; deteriorou com a expansão progressiva dos “liberais” do Serviço Social.

O crescimento do racismo numa “economia mista” marcha com o crescimento do controle governamental. Uma “economia mista” desintegra um país, a ponto de levá-lo a uma guerra civil institucionalizada, de grupos de pressão, todos lutando por favores legislativos e privilégios especiais às custas um do outro.

A existência destes grupos de pressão e de seus lobbies políticos é atualmente reconhecida de maneira aberta e cínica. O pretexto de qualquer filosofia política, princípios, ideais ou objetivos de longo prazo, está desaparecendo rapidamente de nosso cenário — e deve-se admitir que este país está agora navegando sem direção, à mercê de um jogo de poder cego, de curto prazo, disputado por várias gangues estatistas, todas com intenção de conseguir apoio de um figurão do Poder Legislativo para tirar qualquer vantagem especial imediata.

Na ausência de uma filosofia política coerente, todo o grupo econômico vem agindo como seu próprio destruidor, liquidando seu futuro por algum privilégio momentâneo. A política dos homens de negócios foi, por algum tempo, a mais suicida, a este respeito. Foi, porém, ultrapassada pela política corrente dos líderes negros.

Enquanto os líderes negros estavam lutando contra a discriminação imposta pelo governo — direito, justiça e moralidade estavam de seu lado. Mas não lutam mais por isso. As confusões e as contradições que circundam a questão do racismo, atingiram agora um clímax inominável.


É hora de esclarecer os princípios envolvidos.

A política dos estados sulistas em relação aos negros era e é uma contradição vergonhosa dos princípios básicos deste país. Discriminação racial, imposta e impingida pela lei, é uma infração tão ruidosamente indesculpável dos direitos individuais, que os estatutos racistas do Sul deveriam ter sido declarados inconstitucionais há muito tempo.

A alegação dos racistas sulistas dos “direitos dos estados” é, em termos, uma contradição; não pode haver algo como “direitos” de alguns homens de violar os de outros. O conceito constitucional de “direitos dos estados” pertence à divisão do poder entre as autoridades nacionais e locais e serve para proteger os estados do governo federal; não concede ao estadual um poder arbitrário e ilimitado sobre seus cidadãos, ou o privilégio de anular os direitos individuais destes.

Foi verdade que o governo federal usou a questão racial para estender seu próprio poder e estabelecer um precedente de abuso sobre os direitos legítimos dos estados, de uma maneira inconstitucional e desnecessária. Mas isto simplesmente significa que ambos os governos estão errados; não é desculpa para a política dos racistas do Sul.

Uma das piores contradições, neste contexto, é a posição de muitos — chamados — “conservadores” (não confinados exclusivamente ao Sul) que afirmam ser defensores da liberdade, do capitalismo, dos direitos de propriedade, da Constituição, ainda que ao mesmo tempo defendam o racismo. Eles não parecem possuir interesse suficiente nos princípios para perceber que estão puxando o tapete sob seus próprios pés. Os homens que negam os direitos individuais não podem afirmar, defender ou sustentar direitos, quaisquer que sejam. São estes supostos campeões do capitalismo que estão ajudando a desacreditá-lo e a destruí-lo.

Os “liberais” são culpados pela mesma contradição, mas de forma diferente. Defendem o sacrifício de todos os direitos individuais a uma norma de maioria ilimitada — ainda que posem como defensores dos direitos das minorias. Mas a menor minoria da Terra é o indivíduo. Os que negam os direitos individuais não podem conclamar-se defensores de minorias.

Este acúmulo de contradições, pragmatismo míope, desprezo cínico por princípios, irracionalidade ultrajante, alcançou agora seu clímax, nas novas exigências dos líderes negros.

Ao invés de lutar contra a discriminação racial, estão exigindo que ela seja legalizada e imposta. Ao invés de lutar contra o racismo, estão exigindo o estabelecimento de cotas raciais. Ao invés de lutar pelo “daltonismo” nas questões econômicas e sociais, estão proclamando que ele é nocivo, e que se deve tornar a “cor” uma consideração fundamental. Ao invés de lutar por direitos iguais, estão exigindo privilégios especiais de raça.

Estão exigindo que cotas raciais sejam estabelecidas com respeito a empregos, e que estes sejam distribuídos em bases raciais, proporcionalmente à porcentagem de uma suposta raça na população local. Por exemplo, já que os negros constituem 25 por cento da população da cidade de Nova Iorque, eles exigem 25 por cento dos empregos em determinado estabelecimento.

As cotas raciais têm sido um dos piores males do regime racista. Elas existiam nas universidades da Rússia czarista, na população das principais cidades da Rússia, etc. Uma das acusações contra os racistas neste país é que algumas escolas praticam um sistema secreto de cotas raciais. Foi considerada uma vitória para a justiça o fato dos questionários para empregos pararem de perguntar sobre a raça e a religião dos candidatos.

Atualmente, não é um opressor, mas um grupo minoritário oprimido, que está exigindo o estabelecimento de cotas raciais.

Esta exigência específica foi demais, até mesmo para os “liberais”. Muitos deles a denunciaram — apropriadamente — com chocada indignação.

Escreveu o The New York Times (23 de julho de 1963): “Os manifestantes estão seguindo um princípio verdadeiramente vicioso ao fazerem o ‘jogo dos números’. Uma exigência de que 25 por cento (ou qualquer outra porcentagem) de empregos sejam dados aos negros (ou a qualquer outro grupo) é errada por uma razão básica: requer um sistema de cotas, que é em si mesmo discriminador... Este jornal lutou por muito tempo contra uma cota religiosa com relação aos juízes; nós igualmente nos opomos à cota racial com respeito a empregos, dos mais nobres aos mais humildes”.

Como se o racismo óbvio desta exigência não fosse o suficiente, alguns líderes negros foram ainda mais longe. Whitney M. Young Jr., diretor executivo da Liga Urbana Nacional, fez a seguinte declaração (NY. Times, 1o de agosto): “A liderança branca deve ser honesta o suficiente para afirmar que, através de toda a nossa história, existiu uma classe privilegiada, especial, de cidadãos, que recebeu tratamento preferencial. Esta classe foi a branca. Agora, estamos dizendo: se dois homens, um negro e um branco, são igualmente qualificados para um emprego, contrate o negro”.

Considere as implicações desta declaração. Não exige simplesmente privilégios especiais com pretextos raciais — exige que os homens brancos sejam penalizados pelos pecados de seus ancestrais. Exige que um trabalhador branco seja recusado num emprego porque seu avô pode ter feito discriminação racial. Mas talvez seu avô não tenha feito. Ou talvez seu avô não tenha nem mesmo morado neste país. Já que estas questões não são consideradas, significa que este trabalhador branco deve ser cobrado por uma culpa racial coletiva, a culpa consistindo simplesmente na cor de sua pele.

O único comentário que se pode fazer sobre exigências deste tipo é: “Com que direito? — por qual código? — por qual critério?”

Essa política absurdamente nociva está destruindo a base moral da luta dos negros. O caso destes repousa no princípio dos direitos individuais. Se exigem a violação dos direitos dos outros, negam e confiscam os seus próprios. Então a mesma resposta aplica-se a eles, assim como aos racistas do Sul: não pode haver algo como “direito” de alguns homens de violarem os dos outros.

Contudo, toda a política dos líderes negros está, agora, movendo-se nesta direção. Por exemplo, a exigência por cotas raciais nas escolas, com o propósito de que centenas de crianças, brancas e negras, sejam forçadas a ir à escola em bairros distantes — com o propósito de “equilíbrio racial”. Isto é, novamente, puro racismo. Como oponentes desta exigência salientaram, designar crianças para determinadas escolas por motivo de raça é igualmente nocivo, se feito com propósito de segregação ou integração. E a mera ideia de usar crianças como fantoches num jogo político deve ultrajar seus pais, de qualquer raça, credo ou cor.

O projeto de lei de “direitos civis”, atualmente sob a consideração do Congresso, é outro exemplo de uma infração gritante aos direitos individuais. É correto proibir toda discriminação nas instalações e nos estabelecimentos governamentais: este não possui direito de discriminar qualquer cidadão. E, pelo mesmo princípio, não possui direito de discriminar alguns cidadãos, à custa de outros. Não possui o direito de violar o direito à propriedade privada, proibindo a discriminação em estabelecimentos pertencentes à iniciativa privada.

Nenhum homem, negro ou branco, possui qualquer direito à propriedade de outro. Os direitos de um homem não são violados pela recusa de um cidadão a tratar com ele. O racismo é uma doutrina nociva, irracional e moralmente desprezível — mas doutrinas não podem ser proibidas ou prescritas por lei. Assim como precisamos proteger a liberdade de discurso de um comunista, apesar de suas doutrinas serem nocivas, temos de proteger o direito de um racista ao uso e emprego de sua própria propriedade. O racismo privado não é uma questão legal, mas moral — e pode ser combatido apenas por meios privados, como boicote econômico ou ostracismo social.

É desnecessário dizer que, se este projeto de lei dos “direitos civis” for aprovado, será a pior transgressão aos direitos de propriedade no registro lamentável da história americana a respeito deste assunto.

Mas esse é o princípio do pior racista do Sul, que cobra de todos os negros a culpa racial coletiva de qualquer crime cometido por um indivíduo negro, e que trata a todos como inferiores, pelo motivo de que seus ancestrais eram selvagens.

É uma demonstração irônica da insanidade filosófica e da tendência consequentemente suicida de nossa era, o fato dos homens que precisam mais urgentemente da proteção dos direitos individuais — os negros — estarem agora na vanguarda da destruição destes direitos.

Uma palavra de advertência: não se tornem vítimas dos mesmos racistas, sucumbindo ao racismo; não sustentem, contra todos os negros, a irracionalidade vergonhosa de alguns de seus líderes. Nenhum grupo possui qualquer liderança intelectual adequada ou qualquer representação conveniente, na atualidade.

Para concluir, devo citar o editorial assombroso de 4 de agosto do The N.Y. Times — assombroso porque ideias desta natureza não são típicas de nossa época: “Porém a pergunta não deve ser se um grupo identificável em cor, características ou cultura possuí seus direitos como grupo. Não, a pergunta é se qualquer indivíduo americano, independentemente de cor, características ou cultura, é privado de seus direitos como americano. Se o indivíduo possui todos os direitos e privilégios pertencentes a ele sob a lei e a Constituição, não precisamos nos preocupar com grupos e massas — estes, de fato, não existem, exceto como figuras de linguagem.”


20 de novembro de 2012

Vargas Llosa: El Elefante y la Cultura

Cuenta el historiador chileno Claudio Véliz que, a la llegada de los españoles, los indios mapuches tenían un sistema de creencias que ignoraba los conceptos de envejecimiento y de muerte natural. Para ellos, el hombre era joven y eterno. La decadencia física y la muerte sólo podían resultar de la magia, las malas artes o las armas de los adversarios. Esta convicción, sencilla y cómoda, ayudó a los mapuches a ser los feroces guerreros que fueron. No los ayudó, en cambio, a forjar una civilización original.

La actitud de los viejos mapuches está lejos de ser un caso extravagante. En realidad, se trata de un extendido fenómeno. Atribuir la causa de nuestros infortunios o defectos a los demás ― al 'otro' ― es un recurso que ha permitido a innumerables sociedades e individuos, si no a librarse de sus males, por lo menos a soportarlos y a vivir con la conciencia tranquila. Enmascarada detrás de sutiles razonamientos, oculta bajo frondosas retóricas, esta actitud es la raíz, el fundamento secreto, de una remota aberración a la que el siglo XIX volvió respetable: el nacionalismo. Dos guerras mundiales y la perspectiva de una tercera y última, que acabaría con la humanidad, no nos han librado de él, sino, más bien, parecen haberlo robustecido.

¿En qué consiste el nacionalismo en el ámbito de la cultura? Básicamente, en considerar lo propio un valor absoluto e incuestionable y lo extranjero un desvalor, algo que amenaza, socava, empobrece o degenera la personalidad espiritual de un país. Aunque semejante tesis difícilmente resiste el más somero análisis y es fácil mostrar lo prejuiciado e ingenuo de sus argumentos, y la irrealidad de su pretensión ― la autarquía cultural ―, la historia nos muestra que arraiga con facilidad y que ni siquiera los países de antigua y sólida civilización están vacunados contra ella. Sin ir muy lejos, la Alemania de Hitler, la Italia de Mussolini, la Unión Soviética de Stalin, la España de Franco, la China de Mao practicaron el "nacionalismo cultural", intentando crear una cultura incomunicada, y defendida de los odiados agentes corruptores ― el extranjerismo, el cosmopolitismo ― mediante dogmas y censuras. Pero en nuestros días es sobre todo en el Tercer Mundo, en los países subdesarrollados, donde el nacionalismo cultural se predica con más estridencia y tiene más adeptos. Sus defensores parten de un supuesto falaz; que la cultura de un país es, como las riquezas naturales y las materias primas que alberga su suelo, algo que debe ser protegido contra la codicia voraz del imperialismo, y mantenido estable, intacto e impoluto pues su contaminación con lo foráneo lo adulteraría y envilecería. Luchar por la 'independencia cultural', emanciparse de la 'dependencia cultural extranjera' a fin de 'desarrollar nuestra propia cultura' son fórmulas habituales en la boca de los llamados progresistas del Tercer Mundo. Que tales muletillas sean tan huecas como cacofónicas, verdaderos galimatías conceptuales, no es obstáculo para que resulten seductoras a mucha gente, por el airecillo patriótico que parece envolverlas. (Y en el dominio del patriotismo, ha escrito Borges, los pueblos sólo toleran afirmaciones). Se dejan persuadir por ellas, incluso, medios que se sienten invulnerables a las ideologías autoritarias que las promueven. Personas que dicen creer en el pluralismo político y en la libertad económica, ser hostiles a las verdades únicas y a los estados omnipotentes o omniscientes, suscriben, sin embargo, sin examinar lo que ellas significan, las tesis del nacionalismo cultural. La razón es muy simple: el nacionalismo es la cultura de los incultos y éstos son legión.


Hay que combatir resueltamente estas tesis a las que, la ignorancia de un lado y la demagogia de otro, han dado carta de ciudadanía, pues ellas son un tropiezo mayor para el desarrollo cultural de países como el nuestro. Si ellas prosperan jamás tendremos una vida espiritual rica, creativa y moderna, que nos exprese en toda nuestra diversidad y nos revele lo que somos nosotros mismos y ante los otros pueblos de la tierra. Si los propagadores del nacionalismo cultural ganan la partida y sus teorías se convierten en política oficial del 'ogro filantrópico' ― como ha llamado Octavio Paz al Estado de nuestros días ― el resultado es previsible: nuestro estancamiento intelectual y científico y nuestra asfixia artística, eternizarnos en una minoría de edad cultural y representar, dentro del concierto de las culturas de nuestro tiempo, el anacronismo pintoresco, la excepción folklórica, a la que los civilizados se acercan con despectiva benevolencia Sólo por sed de exotismo o nostalgias de la edad bárbara.

En realidad no existen culturas 'dependientes' y 'emancipadas' ni nada que se les parezca. Existen culturas pobres y ricas, arcaicas y modernas, débiles y poderosas. Dependientes lo son todas inevitablemente. Lo fueron siempre, pero lo son más ahora, en que el extraordinario adelanto de las comunicaciones ha volatizado las barreras entre las naciones y hecho a todos los pueblos copartícipes inmediatos y simultáneos de la actualidad. Ninguna cultura se ha gestado, desenvuelto y llegado a la plenitud sin nutrirse de otras y sin, a su vez, alimentar a las demás, en un continuo proceso de préstamos y donativos, influencias recíprocas y mestizajes, en el que sería dificilísimo averiguar qué corresponde a cada cual. Las nociones de 'lo propio' y 'lo ajeno' son dudosas, por no decir absurdas, en el dominio cultural. En el único campo en el que tienen asidero ― el de la lengua ― ellas se resquebrajan si tratamos de identificarlas con las fronteras geográficas y políticas de un país y convertirlas en sustento del nacionalismo cultural. Por ejemplo ¿es 'propio' o es 'ajeno' para los peruanos el español que hablamos junto con otros trescientos millones de personas en el mundo? Y, entre los quechua hablantes de Perú, Bolivia y Ecuador ¿quiénes son los legítimos propietarios de la lengua y la tradición quechua y quienes los 'colonizados' y 'dependientes' que 'deberían emanciparse de ellas? A idéntica perplejidad llegaríamos si quisiéramos averiguar a qué nación corresponde patentar como aborigen el monólogo interior, ese recurso clave de la narrativa moderna. ¿A Francia, por Edouard Dujardiez, el mediocre novelista que fue el primero en usarlo? ¿A Irlanda, por el célebre monólogo de Molly Bloom en el Ulises de Joyce que lo entronizó en el ámbito literario? ¿O a Estados Unidos donde, gracias a la hechicería de un Faulkner, adquirió flexibilidad y suntuosidad insospechadas? Por este camino ― el del nacionalismo ― se llega en el campo de la cultura, tarde o temprano, a la confusión y al disparate.

Lo cierto es que en este dominio, aunque parezca extraño, lo propio y lo ajeno se confunden y la originalidad no está reñida con las influencias y aun con la imitación y hasta el plagio y que el único modo en que una cultura puede florecer es en estrecha interdependencia con las otras. Quien trata de impedirlo no salva la 'cultura nacional': la mata.

Unos ejemplos de lo que digo, tomados del quehacer que me es más afín: el literario. No es difícil mostrar que los escritores latinoamericanos que han dado a nuestras letras un sello más personal fueron, en todos los casos, aquellos que mostraron menos complejos de inferioridad frente a los valores culturales forasteros y se sirvieron de ellos a sus anchas y sin el menor escrúpulo a la hora de crear. Si la poesía hispanoamericana moderna tiene una partida de nacimiento y un padre, ellos son el modernismo y su fundador: Rubén Darío ¿Es posible concebir un poeta más 'dependiente' y más 'colonizado' por modelos extranjeros que este nicaragüense universal? Su amor desmedido y casi patético por los simbolistas y parnasianos franceses, su cosmopolitismo vital, esa beatería enternecedora con que leyó, admiró y se empeñó en aclimatar a las modas literarias del momento su propia poesía, no hicieron de ésta un simple epígono, una 'poesía subdesarrollada y dependiente'. Todo lo contrario. Utilizando con soberbia libertad, dentro del arsenal de la cultura de su tiempo, todo lo que sedujo su imaginación, sus sentimientos y su instinto, combinando con formidable irreverencia esas fuentes disímiles en las que se mezclaban la Grecia de los filósofos y los trágicos con la Francia licenciosa y cortesana del siglo XVIII y con la España del Siglo de Oro y con su experiencia americana, Rubén Darío llevó a cabo la más profunda revolución experimentada por la poesía española desde los tiempos de Góngora y Quevedo, rescatándola del academicismo en que languidecía e instalándola de nuevo, como cuando los poetas españoles del XVI y el XVII, a la vanguardia de la modernidad.

El caso de Darío es el de casi todos los grandes artistas y escritores; es el de Machado de Assis, en el Brasil, que jamás hubiera escrito su hermosa comedia humana sin haber leído antes la de Balzac; el de Vallejo en el Perú, cuya poesía .aprovechó todos los' ismos' que agitaron la vida literaria en América Latina y en Europa entre las dos guerras mundiales, y es, en nuestros días, el caso de un Octavio Paz en México y el de un Borges en Argentina. Detengámonos un segundo en este último. Sus cuentos, ensayos y poemas son, seguramente, los que mayor impacto han causado en otras lenguas de autor contemporáneo de nuestro idioma y su influencia se advierte en escritores de los países más diversos. Nadie como él ha contribuido tanto a que nuestra literatura sea respetada como creadora de ideas y formas originales. Pues bien: ¿hubiera sido posible la obra de Borges sin 'dependencias' extranjeras? ¿Nos llevaría el estudio de sus influencias por una variopinta y fantástica geografía cultural a través de los continentes, las lenguas y las épocas históricas? Borges es un diáfano ejemplo de cómo la mejor manera de enriquecer con una obra original la cultura de la nación en que uno ha nacido y el idioma en el que escribe es siendo, culturalmente, un ciudadano del mundo.


II

La manera como un país fortalece y desarrolla su cultura es abriendo sus puertas y ventanas, de par en par, a todas las corrientes intelectuales, científicas y artísticas, estimulando la libre circulación de las ideas, vengan de donde vengan, de manera que la tradición y la experiencia propias se vean constantemente puestas a prueba, y sean corregidas, completadas y enriquecidas por las de quienes, en otros territorios y con otras lenguas, y diferentes circunstancias, comparten con nosotros las miserias y las grandezas de la aventura humana. Sólo así, sometida a ese reto continuo, será nuestra cultura auténtica, contemporánea y creativa, la mejor herramienta de nuestro progreso económico y social.

Condenar el 'nacionalismo cultural' como una atrofia para la vida espiritual de un país no significa, por supuesto, desdeñar en lo más mínimo las tradiciones y modos de comportamiento nacionales o regionales ni objetar que ellos sirvan, incluso de manera primordial, a pensadores, artistas, técnicos e investigadores del país para su propio trabajo. Significa, únicamente, reclamar, en el ámbito de la cultura, la misma libertad y el mismo pluralismo que deben reinar en lo político y en lo económico en una sociedad democrática. La vida cultural es más rica mientras es más diversa y mientras más libre e intenso es el intercambio y la rivalidad de ideas en su seno.

Los peruanos estamos en una situación de privilegio para saberlo, pues nuestro país es un mosaico cultural en el que coexisten o se mezclan 'todas las sangres', como escribió Arguedas: las culturas prehispánicas y España y todo el occidente que vino a nosotros con la lengua y la historia española; la presencia africana, tan viva en nuestra música; las inmigraciones asiáticas y ese haz de comunidades amazónicas con sus idiomas, leyendas y tradiciones. Esas voces múltiples expresan por igual al Perú, 'país plural, y ninguna tiene más derecho que otra a atribuirse mayor representatividad. En nuestra literatura advertimos parecida abundancia. Tan peruano es Martín Adán, cuya poesía no parece tener otro asiento ni ambición que el lenguaje, como José María Eguren, que creía en las hadas y resucitaba en su casita de Barranco a personajes de los mitos nórdicos, o como José María Arguedas que transfiguró el mundo de los Andes en sus novelas, o como César Moro que escribió sus más bellos poemas en francés. Extranjerizante a veces y a veces folklórica, tradicional con algunos y vanguardista con otros, costeña, serrana o selvática, realista y norteamericanizada, en su contradictoria factura ella expresa esa compleja y múltiple verdad que somos. Y la expresa porque nuestra literatura ha tenido la fortuna de desenvolverse con una libertad de la que no hemos disfrutado siempre los peruanos de carne y hueso. Nuestros dictadores eran incultos que privaban de la libertad a los hombres, rara vez a los libros. Pero eso pertenece al pasado. Las dictaduras de ahora son ideológicas y quieren dominar también los espíritus. Para eso se valen de pretextos, como el de que la cultura nacional debe ser protegida contra la infiltración foránea. No lo admitamos. No admitamos que, con el argumento de defender la' cultura contra el peligro de 'desnacionalización', los gobiernos establezcan sistemas de control del pensamiento y la palabra que, en verdad, no persiguen otro objetivo que impedir las críticas. No admitamos que, con el cuento de preservar la pureza o la salud ideológica de la cultura, el Estado se atribuya una función rectora y carcelera del trabajo intelectual y artístico de un país. Cuando esto ocurre, la vida cultural queda atrapada en la camisa de fuerza de una burocracia y se anquilosa [paralisa] sumiendo a la sociedad en el letargo espiritual.

Para asegurar la libertad y el pluralismo cultural es preciso fijar claramente la función del Estado en este campo. Esta función sólo puede ser la de crear las condiciones más propicias para la vida cultural y la de inmiscuirse lo menos posible en ella. El Estado debe garantizar la libertad de expresión y libre tránsito de las ideas, fomentar la investigación y las artes, garantizar el acceso a la educación y a la información de todos, pero no imponer ni privilegiar doctrinas, teorías o ideologías, sino permitir que éstas florezcan y compitan libremente. Ya sé que es difícil y casi utópico conseguir esa neutralidad frente a la vida cultural del Estado de nuestros días, ese elefante tan grande y tan torpe que con sólo moverse causa estragos. Pero si no conseguimos controlar sus movimientos y reducirlos al mínimo indispensable acabará pisoteándonos y devorándonos.

No repitamos, en nuestros días, el error de los indios mapuches, combatiendo supuestos enemigos extranjeros sin advertir que los principales obstáculos que tenemos que vencer están entre o dentro de nosotros mismos. Los desafíos que debemos enfrentar, en el campo de la cultura, son demasiado reales y grandes para, además, inventarnos dificultades imaginarias como las de potencias forasteras empeñadas en agredimos culturalmente y en envilecer nuestra cultura. No sucumbamos ante esos delirios de persecución ni ante la demagogia de los politicastros incultos, convencidos de que todo vale en su lucha por el poder y que, si llegaran a ocuparlo, no vacilarían, en lo que concierne a la cultura, en rodearla de censuras y asfixiarla con dogmas para, como el Calígula de Albert Camus, acabar con los contradictores y las contradicciones. Quienes proponen esas tesis se llaman a sí mismos, por una de esas vertiginosas sustituciones mágicas de la semántica de nuestro tiempo, 'progresistas'. En realidad, son los retrógrados y oscurantistas contemporáneos, los continuadores de esa sombría dinastía de carceleros del espíritu, como los llamó Nietzsche, cuyo origen se pierde en la noche de la intolerancia humana, y en la que destacan, idénticos y funestos a través de los tiempos, los inquisidores medievales, los celadores de la ortodoxia religiosa, los censores políticos y los comisarios culturales fascistas y estalinistas.

Además del dogmatismo y la falta de libertad, de las intrusiones burocráticas y los prejuicios ideológicos, otro peligro ronda el desarrollo de la cultura en cualquier sociedad contemporánea: la sustitución del producto cultural genuino por el producto seudo-cultural que es impuesto masivamente en el mercado a través de los grandes medios de comunicación. Esta es una amenaza cierta y gravísima y sería insensato restarle importancia. La verdad es que estos productos seudo-culturales son ávidamente consumidos y ofrecen a una enorme masa de hombres y mujeres un simulacro de vida intelectual, embotándoles la sensibilidad, extraviándoles el sentido de los valores artísticos y anulándoles para la verdadera cultura. Es imposible que un lector cuyo gusto literario se ha establecido leyendo a Corín Tellado aprecie a Cervantes o a Cortázar, o que otro que ha aprendido todo lo que cabe en el Reader's Digest, haga el esfuerzo necesario para profundizar en un área cualquiera del conocimiento, y que mentes condicionadas por la publicidad se atrevan a pensar por cuenta propia. La chabacanería [grosseria] y el conformismo, la chatura intelectual y la indigencia artística, la miseria formal y moral de estos productos seudo-culturales afectan profundamente la vida espiritual de un país. Pero es falso que este sea un problema infligido a los países subdesarrollados por los desarrollados. Es un problema que unos y otros compartimos, que resulta del adelanto tecnológico de las comunicaciones y del desarrollo de la industria cultural, y al que ningún país del mundo, rico o pobre, adelantado o atrasado, ha dado aún solución. En la culta Inglaterra el escritor más leído no es Antony Burgess ni Graham Green sino Bárbara Cartland y las telenovelas que hacen las delicias del público francés son tan ruines como las mexicanas o norteamericanas. La solución de este problema no consiste, por supuesto en establecer censuras que prohíban los productos seudo-culturales y den luz verde a los culturales. La censura no es nunca una solución, o, mejor dicho, es la peor solución, la que siempre acarrea males peores que los que quiere resolver. Las culturas "protegidas ", se tiñen [tingem] de oficialismo y terminan adoptando formas más caricaturales y degradadas que las que surgen, junto con los auténticos productos culturales, en las sociedades libres.

Ocurre que la libertad, que en este campo es también, siempre, la mejor opción, tiene un precio que hay que resignarse a pagar. El extraordinario desarrollo de los medios de comunicación ha hecho posible, en nuestra época, que la cultura, que en el pasado fue, por lo menos en sus formas más ricas y elevadas, patrimonio de una minoría, se democratice y esté en condiciones de llegar, por primera vez en la historia, a la inmensa mayoría. Esta es una posibilidad que debe entusiasmamos. Por primera vez existen las condiciones técnicas para que la cultura sea de verdad popular. Es, paradójicamente, esta maravillosa posibilidad la que ha favorecido la aparición y el éxito de la industria masiva de productos semi-culturales. Pero no confundamos el efecto con la causa. Los medios de comunicación masivos no son culpables del uso mediocre o equivocado que se haga de ellos. Nuestra obligación es conquistarlos para la verdadera cultura, elevando mediante la educación y la información el nivel del público, volviendo a éste cada vez más riguroso, más inquieto y más crítico, y exigiendo sin tregua a quienes controlan estos medios ― el Estado y las empresas particulares ― una mayor responsabilidad y un criterio más ético en el empleo que les dan. Pero es, sobre todo, a los intelectuales, técnicos, artistas y científicos, a los productores culturales de todo orden, a quienes les incumbe una tarea audaz y formidable: asumir nuestro tiempo, comprender que la vida cultural no puede ser hoy, como ayer, una actividad de catacumbas, de clérigos encerrados en conventos o academias, sino algo a lo que puede y debe tener acceso el mayor número. Esto exige una reconversión de todo el sistema cultural, que abarque desde un cambio de psicología en el productor individual, y de sus métodos de trabajo, hasta la reforma radical de los canales de difusión y medios de promoción de los productos culturales, una revolución, en suma de consecuencias difíciles de prever. La batalla será larga y difícil, sin duda, pero la perspectiva de lo que significaría el triunfo debería damos fuerza moral y coraje para librarla; es decir, la posibilidad de un mundo en el que, como quería Lautreamont para la poesía, la cultura sea por fin de todos, hecha por todos y para todos.

Publicado em Vuelta nr. 70 de setembro de 1982.