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21 de maio de 2014

Você é aquilo que lê

Carlos U Pozzobon

Desabafos sobre filosofalhas e literatolices dos tempos em que vivemos

Carlos U Pozzobon

Que todos conhecem a desgraceira de nossa vida política, não é preciso comentar. O que precisamos entender é a relação de uma sociedade de corte estatal com a cultura, em que o mérito sempre esteve seriamente comprometido com as cotas destinadas à proteção dos tolos, dos despojados de energia intelectual, dos fraquinhos, dos frívolos inseridos no processo de produção cultural ― marca indelével de um país contaminado pela corrupção intelectual, que consiste no espírito de rebanho em aderir à onda produzida pelas calamidades elevadas ao pedestal da glória ― causa maior e mais aviltante do que a corrupção moral em que chafurdamos.

Quando uma Academia de Letras homenageia Ronaldinho Gaúcho com uma medalha de mérito, quando universidades distribuem títulos de doutor honoris causa a um apedeuta, podemos entender por que tanta gente expressa suas preferências por autores com obras vazias de conteúdo estético e artístico.

São essas cotas de literatolice que transformam autores sem conteúdo em celebridades nacionais e internacionais, confundindo o leitor eventual que ainda não tem um gosto consolidado, ou que não dispõe das ferramentas de análise do crítico. Supostamente deve ser a principal razão para que a leitura seja afinal considerada um sofrimento pela maioria dos brasileiros, e por sua inclinação à brevidade do jornal e da revista em lugar do livro.
Escravo do “ouvir dizer”, da fama turbinada pelas editoras “do mercado” (espécie de “seguimento da deseducação geral do país”), e de colunas de revistas, o brasileiro lê com sofreguidão o que lhe dizem que é bom, e procura fugir como o diabo da cruz do próximo bestseller, até que, forçado pela necessidade de inserção social, volta a porejar o sacrifício da leitura, o que o impede de evoluir intelectualmente para apurar seu gosto para os refinamentos mais sutis das formas de expressão, para o deleite eriçante da beleza da linguagem, ou para a compreensão do sublime ou do paradoxal, do poético ou do assombro que só o escritor erudito e talentoso pode proporcionar.

Dependente do padrão alienígena, em uma sociedade cujos valores mais cultivados são a imitação do estrangeiro, cativo das opiniões de membros de instituições avacalhadas difundidas incansavelmente, o leitor comum nunca desenvolverá a sensibilidade para contestar aquilo que a maioria consagra como grande autor. E esta deformidade atravessa as décadas com a mesma constância e uniformidade de nossa imutável realidade social, acorrentada nas tradições desesperadoramente retrógradas.

Quem lê a avassaladora crítica de Sylvio Romero ao espírito limitado de José Veríssimo, em Zeverissimações Ineptas da Crítica – Repulsas e Desabafos, percebe claramente a diferença abissal entre o erudito e o convencional, e entende muito bem por que somos uma sociedade onde a mediocridade tem um lugar garantido no triunfo das corriolas paroquianas, da crítica sem profundidade, do aceito sem controvérsias, para vislumbrar a amorfia que causa a repulsa ao próprio gênio da brasilidade que as instituições têm por missão instigar, pois nem sequer sabem como fazê-lo. Nossa sociedade está tão aviltada intelectualmente que perdeu os sensores que emitem os sinais de alerta para a chegada do mais dotado, para a presença catalítica dos melhores. Vive o entorpecimento de seu próprio contexto de servidão institucional.


Primeiro problema:

O vírus do paternalismo que informa a opinião alheia é o mesmo que cria os gostos literários no Brasil, e estes gostos e tecnicalidades literárias exaustivamente explorados nos EUA, com sua sequência de fórmulas buriladas no jornalismo, e de truques de marketing para a venda massiva pelas casas editoriais, são hoje parte de um universo que idealizamos, mas que não tem um pingo de nossa realidade. Como gostar de nossa realidade se queremos uma literatura engajada na modernidade e nossos autores só fornecem novelas de cangaceiros, bandidos e marginais? Cansados da imutabilidade de nossa realidade social, da resistência intransponível à inserção na modernidade, buscamos no personagem do escritor alienígena as pontes de identidade com nosso mundo subjetivo, para escapar da massacrante realidade de nossa jecolândia ridícula.

Grande engano: os leitores do primeiro mundo mergulham nos escritores do século XIX com uma voracidade insaciável, provando que não é o personagem moderno que atrai, mas a captura da imaginação do leitor pelo mecanismo de marketing das casas editoriais. Portanto, o aspecto histórico é menos importante que a narrativa em si, e não justifica a escolha do padrão. Ninguém usa o padrão de seu próprio tempo como bitola para o julgamento de uma obra literária.


Segundo problema:

Não resta dúvida que a acumulação em proporções legionárias de autores no repertório das letras nacionais deixa o leitor desorientado sobre a quem seguir, especialmente numa fase de rompimento institucional, em que a arrogância passa despercebida no quadro geral da burrice imperante.

Alguém que tenha lido 1000 livros, acha-se no devido direito de recomendar seus leitores para a importância do que sabe, do que lhe parece o melhor de nossas letras e pensamento, e chamar a frivolidade existente de imbecilidade geral.

Mas se no quadro geral da cultura encontramos um conjunto de 4 a 5 mil livros igualmente importantes, e muito além da disponibilidade de leitura do comum dos mortais (pois estou falando apenas da cultura nacional), como afirmar que se conhece “tudo” de mais importante, se todo o dia encontramos autores e livros esquecidos ou desconhecidos de altíssimo conteúdo estético e moral?

Como resolver esta questão volumétrica? A saída parece ser a constante renovação de nossas listas. É por isso que um autor consagrado em uma década, torna-se esquecido logo depois. Sem o saber, ele teve que dar lugar a outro na lista do leitor por simples esgotamento humano. E isto já vem se sucedendo desde Gutemberg.


Terceiro problema:

Amadeu Amaral publicou um livro de crítica literária em 1924, chamado Elogio da Mediocridade, em que enfatizava a necessidade dos menores talentos para que surja um grande talento do meio das sombras: “toda literatura pressupõe uma multidão de medíocres, e não só de medíocres, senão também de inferiores, de rudimentares, de falhados e de decadentes. Tanto mais pujante e luminosa ela é, tanto mais grossa a multidão rasteira. Esse mato baixo sustenta a indispensável camada de húmus, resguarda e entretém a vida incipiente das árvores destinadas à máxima expansão. Foi esse mato que permitiu, na Inglaterra, o crescimento fabuloso de Shakespeare, a cuja volta trabalhava e produzia uma plêiade de dramaturgos fortes e uma turbamulta obscura de escribas irrequietos”.

A ideia de que os menores são absolutamente necessários para o aparecimento e robustez dos maiores foi algo inusitado até então. A questão adquire relevo quando os menores são tomados como maiores, quando as inversões são a própria natureza das instituições. Neste caso, o dano ao espírito pode ser irreversível na formação do gosto, ou ao menos retardar o descobrimento do gênio por muitos anos.

Se o próprio ato de ler é entregar o espírito ao autor, e esta entrega não é feita sem cobrança, só se prepara para a cobrança aquele que atravessou estilos, colecionou trechos, comparou autores e, através da sensibilidade adquirida, soube amadurecer seu entendimento e se tornar um emissor de opinião independente, isto é, um verdadeiro crítico. Com isso, toda a vez que entramos em uma biblioteca e percorremos suas prateleiras, ficamos com a nítida impressão de que um gesto ao acaso pode nos revelar um gênio adormecido no meio da multidão.


Quarto problema:

O crítico profissional tem que lidar com valores que não interessam ao leitor comum. Para Sylvio Romero, a análise da obra literária deveria tratar de sua “personalidade, força, movimento, precisão, elegância, colorido”. O crítico deveria conhecer a evolução dos gêneros, os fatores mesológicos (ecológicos), os fatores étnicos, históricos e psicológicos. Ao leitor comum, estes fatos pouco importam. Mas ele insiste que a crítica deve ter um olho na sociologia e outro na filosofia. Para o leitor doméstico classificar um livro como bom, este deve ser excelente em mais de um dos seguintes tópicos:

  1. O mainstream da obra. Em uma novela ou romance, o argumento principal da narrativa pode ser interessante, por novidadoso ou convencional, por já ter sido abordado por inúmeros autores. Neste caso, o escritor deve ser comparado com os que melhor se conhece em obra semelhante. Mas um livro não pode receber o qualificativo de bom só por isso. Um livro deve ser lembrado pela sua moldura. Por exemplo, em A Montanha Mágica, de Thomas Man, as discussões no sanatório dos Alpes Suíços sobre o espírito da época e a decomposição dos valores liberais que precede a Alemanha Nazista. O projeto de um livro pode ser um debate em torno de algumas ideias, a saga de uma família, um crime hediondo, etc. É o que dele vai ser lembrado em primeira instância.
  2. O tom geral que introduz um livro, um assunto, um capítulo, uma parte. A boa leitura tem esse clima de enlevo e sedução que aumenta à medida que vamos avançando. Ezra Pound disse que um “clássico é clássico não porque esteja conforme certas regras estruturais ou se ajuste a certas definições (das quais o autor, provavelmente jamais teve conhecimento). Ele é clássico devido a certa juventude eterna e irreprimível”. E adverte para as propriedades visuais e sonoras do texto. Poesia ou prosa evocam sons e imagens que podem ser entendidos com a seguinte terminologia: a fanopéia, isto é, a imagem produzida pelas palavras; a melopéia, os sons da linguagem, a sua musicalidade; e a logopéia, a combinação da imagem com o som.
  3. A qualidade da linguagem. A maior praga na vida do escritor é a linguagem jornalística, por se tratar da prosa convencional, do vocabulário restrito ao gosto do povo semiletrado, da forma corriqueira de se escrever. A pobreza com que as pessoas são diariamente bombardeadas pelas mídias tem reflexo na preferência do leitor por uma literatura despojada, em que por incapacidade intelectual o autor se esconde na falsa trincheira do classicismo, como se o clássico fosse o modo de escrever simples e direto. Examinando Dante, Shakespeare, Cervantes e Sterne ficamos bastante chocados com a inexistência do “simples e direto”. Pela linguagem se conhece o autor. Sem o exercício da linguagem, não se conheceria Guimarães Rosa, James Joyce e Falkner. Barrocos como Euclides da Cunha, Alberto Rangel e Lezama Lima não seriam publicados. Mas a linguagem, evidentemente, não é tudo. A narrativa precisa de um fio condutor, para não ser apenas experimentalismo sem trama, alegorias desossadas, como, aliás, esteve na moda no final do século passado.
  4. A qualidade das metáforas. Este é o terreno onde mais transparece a diferença entre um escritor de verdade e um convencional, destituído de conteúdo e de sensibilidade poética e humana. É um dos elementos que vai ficar na nossa memória como qualificação do escritor, mesmo depois de muitos anos. Eu nunca mais esqueci a metáfora de Lezama Lima para a modorra de uma tarde de domingo: “arena demasiada espesa en la clepsidra”. A metáfora fala por si mesma: nela está o universo posto em relação. Associada à metonímia, temos um dos ingredientes que mais nos encantam em qualquer livro. Boa parte do talento de escrever surge da propensão natural do escritor para a criação de metáforas que se encaixam perfeitamente na descrição e a que correntemente chamamos de inspiração.
  5. As grandes manifestações da alma humana na questão da ironia, da evocação do riso, na construção da sátira, do sarcasmo. Existem escritores famosíssimos que não têm o mínimo senso de humor. Outros, cujo humor é tão ralo, tão misterioso, que passa despercebido. Considere um autor celebrado como José Lins do Rego, e seu livro Fogo Morto. Trata-se de uma novela de cangaceiros, escravos e coronéis em que todos os personagens estão permanentemente zangados. Só há lugar para descontentamento, destempero, desejo de vingança, inveja e desentendimentos. Por todo o livro pervade o tom desesperador de uma sociedade desagregada em torno do caráter de seus personagens cruéis ou bobalhões. Não há uma linha de ironia, um parágrafo de humor, uma página burlesca. E o Brasil está cheio de clássicos carrancudos, de escritores sem traço de sátira, sem derivação ainda que fugaz para o jocoso, com uma seriedade de velório como se a literatura fosse a guardiã do espírito institucional do homem e não de seu mundo público, político e privado. Nada mais escandalizador na literatura do que a ausência de humor em uma época de liberticídio e de devassidão institucional. Eu não recomendaria Lins do Rego, a menos que fosse pelo conhecimento sociológico que sua obra oferece.
  6. O embasamento histórico, literário, filosófico, psicológico. O que distingue um autor de peso de um reles escrevinhador é a densidade psicológica dos diálogos, os cortes epistemológicos, a transversalidade do saber em que se move nas suas fontes. Um leitor erudito sente-se recompensado com a familiaridade do autor com seu mundo, e estes vínculos criam as simpatias. Para um leitor iniciante, ainda pouco familiarizado com a vida literária, isso pode ser a fonte de referências para prosseguir na satisfação de sua curiosidade intelectual. A melhor forma de se tornar culto é seguir as indicações daqueles escritores de que se gosta.

Quinto problema:

Uma grande obra literária precisa ser excelente em algumas das combinações acima, para não cair no lugar comum da escritura frívola e maçante da cultura de casquinha. A profusão de “romancezinhos” tem impedido o desenvolvimento do prazer estético em uma porção não desprezível de leitores. Associado ao vício das novelas de televisão, produz uma massa de consumidores infensos à cultura literária erudita, que ao fim termina repercutindo na imarcescível vulgaridade das instituições sociais onde inexiste o rigor, e onde o aplauso obsequioso se torna a moeda de troca corriqueira entre os pavões literários.

A má educação intelectual é reconhecida no leitor que “ouviu falar” e precisa fazer um esforço sobrenatural para conseguir chegar ao fim. De fato, algumas grandes obras são labirínticas e cansativas (Stern), mas existe uma diferença entre elas e o tédio provocado pela falta de interesse suscitado pela má educação, pois esta pode ser uma trajetória sem retorno para o indivíduo, que, despreparado, não poderá dizer com segurança por que um autor é melhor do que outro a não ser pela manifestação binária do gostei, não gostei.


Sexto problema:

Estes são os elementos que o leitor deve observar em um livro. Mas a moeda tem duas faces. Pode-se classificar a obra literária do ponto de vista do escritor. Ezra Pound classificava da seguinte forma:

  1. Inventores. Homens que descobriram um novo processo ou cuja obra nos dá o primeiro exemplo conhecido de um processo.
  2. Mestres. Homens que combinaram um certo número de tais processos e que os usaram tão bem ou melhor que os inventores.
  3. Diluidores. Homens que vieram depois das duas primeiras espécies de escritor e não foram capazes de realizar tão bem o trabalho.
  4. Bons escritores sem qualidades salientes. Homens que tiveram a sorte de nascer numa época em que a literatura de seu país está em boa ordem, ou em que algum ramo particular, em que a arte de escrever é “saudável”.
  5. Beletristas. Homens que realmente não inventaram nada, mas que se especializaram em uma parte particular da arte de escrever, e que não podem ser considerados 'grandes homens' ou autores que tentaram dar uma representação completa da vida ou da sua época.
  6. Lançadores de modas. Enquanto o leitor não conhecer as duas primeiras categorias, será incapaz de 'distinguir as árvores da floresta'. Ele pode saber que 'gosta', ser um verdadeiro 'amante dos livros', com uma grande biblioteca de volumes magnificamente impressos, nas mais caras e vistosas encadernações, mas nunca será capaz de ordenar o seu conhecimento ou de apreciar o valor de um livro em relação a outros, e se sentirá ainda mais confuso e menos capaz de formular um juízo sobre um livro cujo autor está 'rompendo com as convenções' do que sobre um livro de oitenta ou cem anos atrás.
    Ele jamais compreenderá a razão pela qual um especialista se mostra irritado ao vê-lo exibir pomposamente uma opinião de segunda ou terceira mão a propósito dos méritos de seu mau ator favorito.
    Até que vocês tenham feito a sua própria vistoria e o seu próprio exame detalhado, convém acautelar-se e evitar aceitar opiniões:
    a) de homens que não tenham, eles mesmos, produzido obra importante;
    b) de homens que não assumiram o risco de publicar os resultados de sua inspeção pessoal, ainda que o tenham feito seriamente.”

Os inventores são completamente desconhecidos da mídia. Eles podem ser falados depois de alguns anos ou décadas, mas em nossa cultura são considerados malditos. Os mestres só aparecem a partir de algumas casualidades ou pelas vinculações do autor com o mundo literário. O mestre pode ser qualificado: mestre da sátira (O Brasil pelo Método Confuso, de Mendes Fradique); mestre da crítica (toda a crítica de Sylvio Romero), etc. Os diluidores são os mais aplaudidos porque movimentam a indústria editorial e são apresentados como geniais. Os bons escritores sem qualidades salientes são os norte-americanos em sua maioria, todos técnicos experimentados na mídia, e em geral publicando a maior parte dos livros disputados pelo público.

A principal qualidade, segundo Ezra Pound, para que um escritor viva para sempre é poder dispensar as escolas e faculdades. Ele não viveu para conhecer as possibilidades de associação de leitores como nos nossos dias, que são capazes de manter vivos autores de todos os tempos e línguas.


Sétimo problema:

Nossa disjunção institucional reflete-se diretamente no problema da qualidade das traduções. Se não fosse um punhado de abnegados, não teríamos avançado muito nesta arte. Em todas as épocas existiram grandes tradutores em pequena quantidade, e muitos livros mal traduzidos.

Os “traditores” são uma praga tão grande quanto a falsificação planejada, proposta e aprovada pelo Ministério da Cultura, de uma obra de Machado (O Alienista de 1882), e outra de José de Alencar (A Pata da Gazela), que recebeu a inacreditável importância de mais de um milhão de reais para vulgarizar as expressões e produzir 600 mil exemplares para ser distribuídos gratuitamente pelo Instituto Brasil Leitor.

Essas decrepitudes literárias afrontam a sociedade em seus foros mais impensáveis. E não se vê a Academia de Letras, nem a Biblioteca Nacional protestarem contra o insulto que se acaba de cometer. Em poucos anos, a corrente, a doxa, os ventos e trabuzanas da idiopopulice foram capazes de trazer e vingar sementes que não pertencem ao mundo ocidental: em todas as épocas históricas, os menos dotados sempre se elevaram ao pedestal dos mais dotados.

Em toda a grande civilização, o mérito sempre foi premiado e como tal reconhecido através de seus grandes feitos. Falhava a civilização que desprezava seus gênios. Com o PT no poder, e seu populismo rasteiro e demagógico, lenta e progressivamente os menos dotados passaram a dar o tom na vida social.

A música, o cinema, as artes em geral ficaram sob o abrigo de uma nova classe de funcionários repulsivos, ideologizados para transgredir intencionalmente todas as normas e preceitos da tradição e da cultura, produzindo uma inundação de tolices que, paradoxalmente, no dia em que nos livrarmos deste pesadelo, serão os exemplos mais dantescos de nossa decomposição social, o relicário vergonhoso de desatinos que se avolumaram como resultado de uma sociedade dividida e paralisada em sua capacidade de se regenerar.

Espero que a exaustão nos leve a um renascimento, tal como o mundo viveu em 1945. Somente então os que puderem olhar para trás poderão perceber tudo o que ficou registrado de filosofalhas e literatolices.


19 de outubro de 2012

La búsqueda del presente

Discurso proferido por Octavio Paz em 1990 por ocasião do recebimento do Prêmio Nobel de Literatura da Academia Sueca


Comienzo con una palabra que todos los hombres, desde que el hombre es hombre, han proferido: gracias. Es una palabra que tiene equivalentes en todas las lenguas. Y en todas es rica la gama de significados. En las lenguas romances va de lo espiritual a lo físico, de la gracia que concede Dios a los hombres para salvarlos del error y la muerte a la gracia corporal de la muchacha que baila o a la del felino que salta en la maleza. Gracia es perdón, indulto, favor, beneficio, nombre, inspiración, felicidad en el estilo de hablar o de pintar, ademán que revela las buenas maneras y, en fin, acto que expresa bondad de alma. La gracia es gratuita, es un don; aquel que lo recibe, el agraciado, si no es un mal nacido, lo agradece: da las gracias. Es lo que yo hago ahora con estas palabras de poco peso. Espero que mi emoción compense su levedad. Si cada una fuese una gota de agua, ustedes podrían ver, a través de ellas, lo que siento: gratitud, reconocimiento. Y también una indefinible mezcla de temor, respeto y sorpresa al verme ante ustedes, en este recinto que es, simultáneamente, el hogar de las letras suecas y la casa de la literatura universal.

Las lenguas son realidades más vastas que las entidades políticas e históricas que llamamos naciones. Un ejemplo de esto son las lenguas europeas que hablamos en América. La situación peculiar de nuestras literaturas frente a las de Inglaterra, España, Portugal y Francia depende precisamente de este hecho básico: son literaturas escritas en lenguas transplantadas. Las lenguas nacen y crecen en un suelo; las alimenta una historia común. Arrancadas de su suelo natal y de su tradición propia, plantadas en un mundo desconocido y por nombrar, las lenguas europeas arraigaron en las tierras nuevas, crecieron con las sociedades americanas y se transformaron. Son la misma planta y son una planta distinta. Nuestras literaturas no vivieron pasivamente las vicisitudes de las lenguas transplantadas: participaron en el proceso y lo apresuraron. Muy pronto dejaron de ser meros reflejos transatlánticos; a veces han sido la negación de las literaturas europeas y otras, con más frecuencia, su réplica.

A despecho de estos vaivenes, la relación nunca se ha roto. Mis clásicos son los de mi lengua y me siento descendiente de Lope y de Quevedo como cualquier escritor español ... pero no soy español. Creo que lo mismo podrían decir la mayoría de los escritores hispanoamericanos y también los de los Estados Unidos, Brasil y Canadá frente a la tradición inglesa, portuguesa y francesa. Para entender más claramente la peculiar posición de los escritores americanos, basta con pensar en el diálogo que sostiene el escritor japonés, chino o árabe con esta o aquella literatura europea: es un diálogo a través de lenguas y de civilizaciones distintas. En cambio, nuestro diálogo se realiza en el interior de la misma lengua. Somos y no somos europeos. ¿Qué somos entonces? Es difícil definir lo que somos pero nuestras obras hablan por nosotros.

La gran novedad de este siglo, en materia literaria, ha sido la aparición de las literaturas de América. Primero surgió la angloamericana y después, en la segunda mitad del siglo XX, la de América Latina en sus dos grandes ramas, la hispanoamericana y la brasileña. Aunque son muy distintas, las tres literaturas tienen un rasgo en común: la pugna, más ideológica que literaria, entre las tendencias cosmopolitas y las nativistas, el europeísmo y el americanismo. ¿Qué ha quedado de esa disputa? Las polémicas se disipan; quedan las obras. Aparte de este parecido general, las diferencias entre las tres son numerosas y profundas. Una es de orden histórico más que literario: el desarrollo de la literatura angloamericana coincide con el ascenso histórico de los Estados Unidos como potencia mundial; el de la nuestra con las desventuras y convulsiones políticas y sociales de nuestros pueblos. Nueva prueba de los límites de los determinismos sociales e históricos; los crepúsculos de los imperios y las perturbaciones de las sociedades coexisten a veces con obras y momentos de esplendor en las artes y las letras: Li-Po y Tu Fu fueron testigos de la caída de los Tang, Velázquez fue el pintor de Felipe IV, Séneca y Lucano fueron contemporáneos y víctimas de Nerón. Otras diferencias son de orden literario y se refieren más a las obras en particular que al carácter de cada literatura. ¿Pero tienen carácter las literaturas, poseen un conjunto de rasgos comunes que las distingue unas de otras? No lo creo. Una literatura no se define por un quimérico, inasible carácter. Es una sociedad de obras únicas unidas por relaciones de oposición y afinidad.

La primera y básica diferencia entre la literatura latinoamericana y la angloamericana reside en la diversidad de sus orígenes. Unos y otros comenzamos por ser una proyección europea. Ellos de una isla y nosotros de una península. Dos regiones excéntricas por la geografía, la historia y la cultura. Ellos vienen de Inglaterra y la Reforma; nosotros de España, Portugal y la Contrarreforma. Apenas si debo mencionar, en el caso de los hispanoamericanos, lo que distingue a España de las otras naciones europeas y le otorga una notable y original fisonomía histórica. España no es menos excéntrica que Inglaterra aunque lo es de manera distinta. La excentricidad inglesa es insular y se caracteriza por el aislamiento: una excentricidad por exclusión. La hispana es peninsular y consiste en la coexistencia de diferentes civilizaciones y pasados: una excentricidad por inclusión. En lo que sería la católica España los visigodos profesaron la herejía de Arriano, para no hablar de los siglos de dominación de la civilización árabe, de la influencia del pensamiento judío, de la Reconquista y de otras peculiaridades.

En América la excentricidad hispánica se reproduce y se multiplica, sobre todo en países con antiguas y brillantes civilizaciones como México y Perú. Los españoles encontraron en México no sólo una geografía sino una historia. Esa historia está viva todavía: no es un pasado sino un presente. El México precolombino, con sus templos y sus dioses, es un montón de ruinas pero el espíritu que animó ese mundo no ha muerto. Nos habla en el lenguaje cifrado de los mitos, las leyendas, las formas de convivencia, las artes populares, las costumbres. Ser escritor mexicano significa oír lo que nos dice ese presente - esa presencia. Oírla, hablar con ella, descifrarla: decirla... Tal vez después de esta breve digresión sea posible entrever la extraña relación que, al mismo tiempo, nos une y separa de la tradición europea.

La conciencia de la separación es una nota constante de nuestra historia espiritual. A veces sentimos la separación como una herida y entonces se transforma en escisión interna, conciencia desgarrada que nos invita al examen de nosotros mismos; otras aparece como un reto, espuela que nos incita a la acción, a salir al encuentro de los otros y del mundo. Cierto, el sentimiento de la separación es universal y no es privativo de los hispanoamericanos. Nace en el momento mismo de nuestro nacimiento: desprendidos del todo caemos en un suelo extraño. Esta experiencia se convierte en una llaga que nunca cicatriza. Es el fondo insondable de cada hombre; todas nuestras empresas y acciones, todo lo que hacemos y soñamos, son puentes para romper la separación y unirnos al mundo y a nuestros semejantes. Desde esta perspectiva, la vida de cada hombre y la historia colectiva de los hombres pueden verse como tentativas destinadas a reconstruir la situación original. Inacabada e inacabable cura de la escisión. Pero no me propongo hacer otra descripción, una más, de este sentimiento. Subrayo que entre nosotros se manifiesta sobre todo en términos históricos. Así, se convierte en conciencia de nuestra historia. ¿Cuando y cómo aparece este sentimiento y cómo se transforma en conciencia? La respuesta a esta doble pregunta puede consistir en una teoría o en un testimonio personal. Prefiero lo segundo: hay muchas teorías y ninguna del todo confiable.

El sentimiento de separación se confunde con mis recuerdos más antiguos y confusos: con el primer llanto, con el primer miedo. Como todos los niños, construí puentes imaginarios y afectivos que me unían al mundo y a los otros. Vivía en un pueblo de las afueras de la ciudad de México, en una vieja casa ruinosa con un jardín selvático y una gran habitación llena de libros. Primeros juegos, primeros aprendizajes. El jardín se convirtió en el centro del mundo y la biblioteca en caverna encantada. Leía y jugaba con mis primos y mis compañeros de escuela. Había una higuera, templo vegetal, cuatro pinos, tres fresnos, un huele-de-noche, un granado, herbazales, plantas espinosas que producían rozaduras moradas. Muros de adobe. El tiempo era elástico; el espacio, giratorio. Mejor dicho: todos los tiempos, reales o imaginarios, eran ahora mismo; el espacio, a su vez, se transformaba sin cesar: allá era aquí: todo era aquí: un valle, una montaña, un país lejano, el patio de los vecinos. Los libros de estampas, particularmente los de historia, hojeados con avidez, nos proveían de imágenes: desiertos y selvas, palacios y cabañas, guerreros y princesas, mendigos y monarcas. Naufragamos con Simbad y con Robinson, nos batimos con Artagnan, tomamos Valencia con el Cid. ¡Cómo me hubiera gustado quedarme para siempre en la isla de Calipso! En verano la higuera mecía todas sus ramas verdes como si fuesen las velas de una carabela o de un barco pirata; desde su alto mástil, batido por el viento, descubrí islas y continentes - tierras que apenas se desvanecían. El mundo era ilimitado y, no obstante, siempre al alcance de la mano; el tiempo era una substancia maleable y un presente sin fisuras.

¿Cuando se rompió el encanto? No de golpe: poco a poco. Nos cuesta trabajo aceptar que el amigo nos traiciona, que la mujer querida nos engaña, que la idea libertaria es la máscara del tirano. Lo que se llama "caer en la cuenta" es un proceso lento y sinuoso porque nosotros mismos somos cómplices de nuestros errores y engaños. Sin embargo, puedo recordar con cierta claridad un incidente que, aunque pronto olvidado, fue la primera señal. Tendría unos seis años y una de mis primas, un poco mayor que yo, me enseñó una revista norteamericana con una fotografía de soldados desfilando por una gran avenida, probablemente de Nueva York. "Vuelven de la guerra", me dijo. Esas pocas palabras me turbaron como si anunciasen el fin del mundo o el segundo advenimiento de Cristo. Sabía, vagamente, que allá lejos, unos años antes, había terminado una guerra y que los soldados desfilaban para celebrar su victoria; para mí aquella guerra había pasado en otro tiempo, no ahora ni aquí. La foto me desmentía. Me sentí, literalmente, desalojado del presente.

Desde entonces el tiempo comenzó a fracturarse más y más. Y el espacio, los espacios. La experiencia se repitió una y otra vez. Una noticia cualquiera, una frase anodina, el titular de un diario, una canción de moda: pruebas de la existencia del mundo de afuera y revelaciones de mi irrealidad. Sentí que el mundo se escindía: yo no estaba en el presente. Mi ahora se disgregó: el verdadero tiempo estaba en otra parte. Mi tiempo, el tiempo del jardín, la higuera, los juegos con los amigos, el sopor bajo el sol de las tres de la tarde entre las yerbas, el higo entreabierto - negro y rojizo como un ascua pero un ascua dulce y fresca - era un tiempo ficticio. A pesar del testimonio de mis sentidos, el tiempo de allá, el de los otros, era el verdadero, el tiempo del presente real. Acepté lo inaceptable: fui adulto. Así comenzó mi expulsión del presente.

Decir que hemos sido expulsados del presente puede parecer una paradoja. No: es una experiencia que todos hemos sentido alguna vez; algunos la hemos vivido primero como una condena y después transformada en conciencia y acción. La búsqueda del presente no es la búsqueda del edén terrestre ni de la eternidad sin fechas: es la búsqueda de la realidad real. Para nosotros, hispanoamericanos, ese presente real no estaba en nuestros países: era el tiempo que vivían los otros, los ingleses, los franceses, los alemanes. El tiempo de Nueva York, París, Londres. Había que salir en su busca y traerlo a nuestras tierras. Esos años fueron también los de mi descubrimiento de la literatura. Comencé a escribir poemas. No sabía qué me llevaba a escribirlos: estaba movido por una necesidad interior difícilmente definible. Apenas ahora he comprendido que entre lo que he llamado mi expulsión del presente y escribir poemas había una relación secreta. La poesía está enamorada del instante y quiere revivirlo en un poema; lo aparta de la sucesión y lo convierte en presente fijo. Pero en aquella época yo escribía sin preguntarme por qué lo hacía. Buscaba la puerta de entrada al presente: quería ser de mi tiempo y de mi siglo. Un poco después esta obsesión se volvió idea fija: quise ser un poeta moderno. Comenzó mi búsqueda de la modernidad.

¿Qué es la modernidad? Ante todo, es un término equívoco: hay tantas modernidades como sociedades. Cada una tiene la suya. Su significado es incierto y arbitrario, como el del período que la precede, la Edad Media. Si somos modernos frente al medievo, ¿seremos acaso la Edad Media de una futura modernidad? Un nombre que cambia con el tiempo, ¿es un verdadero nombre? La modernidad es una palabra en busca de su significado: ¿es una idea, un espejismo o un momento de la historia? ¿Somos hijos de la modernidad o ella es nuestra creación? Nadie lo sabe a ciencia cierta. Poco importa: la seguimos, la perseguimos. Para mí, en aquellos años, la modernidad se confundía con el presente o, más bien, lo producía: el presente era su flor extrema y última. Mi caso no es único ni excepcional: todos los poetas de nuestra época, desde el período simbolista, fascinados por esa figura a un tiempo magnética y elusiva, han corrido tras ella. El primero fue Baudelaire. El primero también que logró tocarla y así descubrir que no es sino tiempo que se deshace entre las manos. No referiré mis aventuras en la persecusión de la modernidad: son las de casi todos los poetas de nuestro siglo. La modernidad ha sido una pasión universal. Desde 1850 ha sido nuestra diosa y nuestro demonio. En los últimos años se ha pretendido exorcizarla y se habla mucho de la "postmodernidad". ¿Pero qué es la postmodernidad sino una modernidad aún más moderna?

Para nosotros, latinoamericanos, la búsqueda de la modernidad poética tiene un paralelo histórico en las repetidas y diversas tentativas de modernización de nuestras naciones. Es una tendencia que nace a fines del siglo XVIII y que abarca a la misma España. Los Estados Unidos nacieron con la modernidad y ya para 1830, como lo vio Tocqueville, eran la matriz del futuro; nosotros nacimos en el momento en que España y Portugal se apartaban de la modernidad. De ahí que a veces se hablase de "europeizar" a nuestros países: lo moderno estaba afuera y teníamos que importarlo. En la historia de México el proceso comienza un poco antes de las guerras de Independencia; más tarde se convierte en un gran debate ideológico y político que divide y apasiona a los mexicanos durante el siglo XIX. Un episodio puso en entredicho no tanto la legitimidad del proyecto reformador como la manera en que se había intentado realizarlo: la Revolución mexicana. A diferencia de las otras revoluciones del siglo XX, la de México no fue tanto la expresión de una ideología más o menos utópica como la explosión de una realidad histórica y psíquica oprimida. No fue la obra de un grupo de ideólogos decididos a implantar unos principios derivados de una teoría política; fue un sacudimiento popular que mostró a la luz lo que estaba escondido. Por esto mismo fue, tanto o más que una revolución, una revelación. México buscaba al presente afuera y lo encontró adentro, enterrado pero vivo. La búsqueda de la modernidad nos llevó a descubrir nuestra antigüedad, el rostro oculto de la nación. Inesperada lección histórica que no sé si todos han aprendido: entre tradición y modernidad hay un puente. Aisladas, las tradiciones se petrifican y las modernidades se volatilizan; en conjunción, una anima a la otra y la otra le responde dándole peso y gravedad.

La búsqueda de la modernidad poética fue una verdadera quéte, en el sentido alegórico y caballeresco que tenía esa palabra en el siglo XII. No rescaté ningún Grial, aunque recorrí varias waste lands, visité castillos de espejos y acampé entre tribus fantasmales. Pero descubrí a la tradición moderna. Porque la modernidad no es una escuela poética sino un linaje, una familia esparcida en varios continentes y que durante dos siglos ha sobrevivido a muchas vicisitudes y desdichas: la indiferencia pública, la soledad y los tribunales de las ortodoxias religiosas, políticas, académicas y sexuales. Ser una tradición y no una doctrina le ha permitido, simultáneamente, permanecer y cambiar. También le ha dado diversidad: cada aventura poética es distinta y cada poeta ha plantado un árbol diferente en este prodigioso bosque parlante. Si las obras son diversas y los caminos distintos, ¿qué une a todos estos poetas? No una estética sino la búsqueda. Mi búsqueda no fue quimérica, aunque la idea de modernidad sea un espejismo, un haz de reflejos. Un día descubrí que no avanzaba sino que volvía al punto de partida: la búsqueda de la modernidad era un descenso a los orígenes. La modernidad me condujo a mi comienzo, a mi antigüedad. La ruptura se volvió reconciliación. Supe así que el poeta es un latido en el río de las generaciones.


La idea de modernidad es un sub-producto de la concepción de la historia como un proceso sucesivo, lineal e irrepetible. Aunque sus orígenes están en el judeocristianismo, es una ruptura con la doctrina cristiana. El cristianismo desplazó al tiempo cíclico de los paganos: la historia no se repite, tuvo un principio y tendrá un fin; el tiempo sucesivo fue el tiempo profano de la historia, teatro de las acciones de los hombres caídos, pero sometido al tiempo sagrado, sin principio ni fin. Después del Juicio Final, lo mismo en el cielo que en el infierno, no habrá futuro. En la Eternidad no sucede nada porque todo es. Triunfo del ser sobre el devenir. El tiempo nuevo, el nuestro, es lineal como el cristiano pero abierto al infinito y sin referencia a la Eternidad. Nuestro tiempo es el de la historia profana. Tiempo irreversible y perpetuamente inacabado, en marcha no hacia su fin sino hacia el porvenir. El sol de la historia se llama futuro y el nombre del movimiento hacia el futuro es Progreso.

Para el cristiano, el mundo - o como antes se decía: el siglo, la vida terrenal - es un lugar de prueba: las almas se pierden o se salvan en este mundo. Para la nueva concepción, el sujeto histórico no es el alma individual sino el género humano, a veces concebido como un todo y otras a través de un grupo escogido que lo representa: las naciones adelantadas de Occidente, el proletariado, la raza blanca o cualquier otro ente. La tradición filosófica pagana y cristiana había exaltado al Ser, plenitud henchida, perfección que no cambia nunca; nosotros adoramos al Cambio, motor del progreso y modelo de nuestras sociedades. El Cambio tiene dos modos privilegiados de manifestación: la evolución y la revolución, el trote y el salto. La modernidad es la punta del movimiento histórico, la encarnación de la evolución o de la revolución, las dos caras del progreso. Por último, el progreso se realiza gracias a la doble acción de la ciencia y de la técnica, aplicadas al dominio de la naturaleza y a la utilización de sus inmensos recursos.

El hombre moderno se ha definido como un ser histórico. Otras sociedades prefirieron definirse por valores e ideas distintas al cambio: los griegos veneraron a la Polis y al círculo pero ignoraron al progreso, a Séneca le desvelaba, como a todos los estoicos, el eterno retorno, San Agustín creía que el fin del mundo era inminente, Santo Tomás construyó una escala - los grados del ser - de la criatura al Creador y así sucesivamente. Una tras otra esas ideas y creencias fueron abandonadas. Me parece que comienza a ocurrir lo mismo con la idea del Progreso y, en consecuencia, con nuestra visión del tiempo, de la historia y de nosotros mismos. Asistimos al crepúsculo del futuro. La baja de la idea de modernidad, y la boga de una noción tan dudosa como "postmodernidad", no son fenómenos que afecten únicamente a las artes y a la literatura: vivimos la crisis de las ideas y creencias básicas que han movido a los hombres desde hace más de dos siglos. En otras ocasiones me he referido con cierta extensión al tema. Aquí sólo puedo hacer un brevísimo resumen.

En primer término: está en entredicho la concepción de un proceso abierto hacia el infinito y sinónimo de progreso continuo. Apenas si debo mencionar lo que todos sabemos: los recursos naturales son finitos y un día se acabarán. Además, hemos causado daños tal vez irreparables al medio natural y la especie misma está amenazada. Por otra parte, los instrumentos del progreso - la ciencia y la técnica - han mostrado con terrible claridad que pueden convertirse fácilmente en agentes de destrucción. Finalmente, la existencia de armas nucleares es una refutación de la idea de progreso inherente a la historia. Una refutación, añado, que no hay más remedio que llamar devastadora.

En segundo término: la suerte del sujeto histórico, es decir, de la colectividad humana, en el siglo XX. Muy pocas veces los pueblos y los individuos habían sufrido tanto: dos guerras mundiales, despotismos en los cinco continentes, la bomba atómica y, en fin, la multiplicación de una de las instituciones más crueles y mortíferas que han conocido los hombres, el campo de concentración. Los beneficios de la técnica moderna son incontables pero es imposible cerrar los ojos ante las matanzas, torturas, humillaciones, degradaciones y otros daños que han sufrido millones de inocentes en nuestro siglo.

En tercer término: la creencia en el progreso necesario. Para nuestros abuelos y nuestros padres las ruinas de la historia - cadáveres, campos de batalla desolados, ciudades demolidas - no negaban la bondad esencial del proceso histórico. Los cadalsos y las tiranías, las guerras y la barbarie de las luchas civiles eran el precio del progreso, el rescate de sangre que había que pagar al dios de la historia. ¿Un dios? Si, la razón misma, divinizada y rica en crueles astucias, según Hegel. La supuesta racionalidad de la historia se ha evaporado. En el dominio mismo del orden, la regularidad y la coherencia - en las ciencias exactas y en la física - han reaparecido las viejas nociones de accidente y de catástrofe. Inquietante resurrección que me hace pensar en los terrores del Año Mil y en la angustia de los aztecas al fin de cada ciclo cósmico.

Y para terminar esta apresurada enumeración: la ruina de todas esas hipótesis filosóficas e históricas que pretendían conocer las leyes de desarrollo histórico. Sus (reyentes, confiados en que eran dueños de las llaves de la historia, edificaron poderosos estados sobre pirámides de cadáveres. Esas orgullosas construcciones, destinadas en teoría a liberar a los hombres, se convirtieron muy pronto en cárceles gigantescas. Hoy las hemos visto caer; las echaron abajo no los enemigos idelógicos sino el cansancio y el afán libertario de las nuevas generaciones. ¿Fin de las utopías? Más bien: fin de la idea de la historia como un fenómeno cuyo desarrollo se conoce de antemano. El determinismo histórico ha sido una costosa y sangrienta fantasía. La historia es imprevisible porque su agente, el hombre, es la indeterminación en persona.

Este pequeño repaso muestra que, muy probablemente, estamos al fin de un período histórico y al comienzo de otro. ¿Fin o mutación de la Edad Moderna? Es difícil saberlo. De todos modos, el derrumbe de las utopías ha dejado un gran vacío, no en los países en donde esa ideología ha hecho sus pruebas y ha fallado sino en aquellos en los que muchos la abrazaron con entusiasmo y esperanza. Por primera vez en la historia los hombres viven en una suerte de intemperie espiritual y no, como antes, a la sombra de esos sistemas religiosos y políticos que, simultáneamente, nos oprimían y nos consolaban. Las sociedades son históricas pero todas han vivido guiadas e inspiradas por un conjunto de creencias e ideas metahistóricas. La nuestra es la primera que se apresta a vivir sin una doctrina metahistórica; nuestros absolutos - religiosos o filosóficos, éticos o estéticos - no son colectivos sino privados. La experiencia es arriesgada. Es imposible saber si las tensiones y conflictos de esta privatización de ideas, prácticas y creencias que tradicionalmente pertenecían a la vida pública no terminará por quebrantar la fábrica social. Los hombres podrían ser poseídos nuevamente por las antiguas furias religiosas y por los fanatismos nacionalistas. Sería terrible que la caída del ídolo abstracto de la ideología anunciase la resurrección de las pasiones enterradas de las tribus, las sectas y las iglesias. Por desgracia, los signos son inquietantes.

La declinación de las ideologías que he llamado metahistóricas, es decir, que asignan un fin y una dirección a la historia, implica el tácito abandono de soluciones globales. Nos inclinamos más y más, con buen sentido, por remedios limitados para resolver problemas concretos. Es cuerdo abstenerse de legislar sobre el porvenir. Pero el presente require no solamente atender a sus necesidades inmediatas: también nos pide una reflexión global y más rigurosa. Desde hace mucho creo, y lo creo firmemente, que el ocaso del futuro anuncia el advenimiento del hoy. Pensar el hoy significa, ante todo, recobrar la mirada critica. Por ejemplo, el triunfo de la economía de mercado - un triunfo por default del adversario - no puede ser únicamente motivo de regocijo. El mercado es un mecanismo eficaz pero, como todos los mecanismos, no tiene conciencia y tampoco misericordia. Hay que encontrar la manera de insertarlo en la sociedad para que sea la expresión del pacto social y un instrumento de justicia y equidad. Las sociedades democráticas desarrolladas han alcanzado una prosperidad envidiable; asimismo, son islas de abundancia en el océano de la miseria universal. El tema del mercado tiene una relación muy estrecha con el deterioro del medio ambiente. La contaminación no sólo infesta al aire, a los ríos y a los bosques sino a las almas. Una sociedad poseída por el frenesí de producir más para consumir más tiende a convertir las ideas, los sentimientos, el arte, el amor, la amistad y las personas mismas en objetos de consumo. Todo se vuelve cosa que se compra, se usa y se tira al basurero. Ninguna sociedad había producido tantos desechos como la nuestra. Desechos materiales y morales.

La reflexión sobre el ahora no implica renuncia al futuro ni olvido del pasado: el presente es el sitio de encuentro de los tres tiempos. Tampoco puede confundirse con un fácil hedonismo. El árbol del placer no crece en el pasado o en el futuro sino en el ahora mismo. También la muerte es un fruto del presente. No podemos rechazarla: es parte de la vida. Vivir bien exige morir bien. Tenemos que aprender a mirar de frente a la muerte. Alternativamente luminoso y sombrío, el presente es una esfera donde se unen las dos mitades, la acción y la contemplación. Así como hemos tenido filosofías del pasado y del futuro, de la eternidad y de la nada, mañana tendremos una filosofía del presente. La experiencia poética puede ser una de sus bases. ¿Qué sabemos del presente? Nada o casi nada. Pero los poetas saben algo: el presente es el manantial de las presencias.

En mi peregrinación en busca de la modernidad me perdí y me encontré muchas veces. Volví a mi origen y descubrí que la modernidad no está afuera sino adentro de nosotros. Es hoy y es la antigüedad más antigua, es mañana y es el comienzo del mundo, tiene mil años y acaba de nacer. Habla en náhuatl, traza ideogramas chinos del siglo IX y aparece en la pantalla de televisión. Presente intacto, recién desenterrado, que se sacude el polvo de siglos, sonríe y, de pronto, se echa a volar y desaparece por la ventana. Simultaneidad de tiempos y de presencias: la modernidad rompe con el pasado inmediato sólo para rescatar al pasado milenario y convertir a una figurilla de fertilidad del neolítico en nuestra contemporánea. Perseguimos a la modernidad en sus incesantes metamorfosis y nunca logramos asirla. Se escapa siempre: cada encuentro es una fuga. La abrazamos y al punto se disipa: sólo era un poco de aire. Es el instante, ese pájaro que está en todas partes y en ninguna. Queremos asirlo vivo pero abre las alas y se desvanece, vuelto un puñado de sílabas. Nos quedamos con las manos vacías. Entonces las puertas de la percepción se entreabren y aparece el otro tiempo, el verdadero, el que buscábamos sin saberlo: el presente, la presencia.